12.28.2005
12.27.2005
"O Caso Mário Soares"
Um artigo de opinião muito interessante escrito por Eduardo Prado Coelho com a sua habitual acutilância.
“O caso Mário Soares”
Eduardo Prado Coelho o fio do horizonte
Segunda, 26 de Dezembro de 2005
Primeiro ponto: ao contrário do que por vezes pensam, na eterna tendência para fulanizar todas as questões, eu tenho e continuo a ter a maior simpatia pela figura de Mário Soares. Ainda há dias, vendo-o rebater as enormidades proferidas por Ribeiro e Castro (como é que uma pessoa responsável faz afirmações que atropelam verdades históricas elementares? como é que a cegueira ideológica leva a dizer tantos disparates?), senti a força do combatente de ideias, atento a todas as transgressões do bom senso e do respeito mínimo pelos adversários.
Segundo ponto: acho que o PS levou demasiado tempo a apostar num candidato com poucas hipóteses como António Guterres (é o próprio que o reconhece), e perdeu a oportunidade de avançar no devido tempo com um candidato para a esquerda.
Terceiro ponto: creio que a ideia de candidatura de Mário Soares (que desde há um ano era uma hipótese na sua cabeça) não tem nada que a justifique. Por isso não suscitou qualquer vaga de fundo no país, provocando antes cepticismo, irritação pelo modo desastrado como a candidatura foi imposta, ditos atrevidos e anedotas desagradáveis, num fim de festa cabisbaixo que nem mesmo conseguiu galvanizar os seus apoiantes (excepto, ao que consta, Joana Amaral Dias, que desbloqueou completamente).
Quarto ponto: a posição actual de Mário Soares é profundamente contraditória. Na verdade, Soares é um homem da afirmação, é um militante do sim. Com o modo algo restrito como caracteriza os poderes presidenciáveis, na tentativa de cortar pela raiz o programa dos adversários, acaba por só ter para oferecer a sua experiência, o que é uma arma de dois gumes (é a experiência do politico que defrontou situações difíceis, mas é também a experiência inerente a uma idade avançada). Ora a candidatura de Soares vive de uma obsessão quase doentia: o perigo para a democracia da vitória de Cavaco. É uma negação permanente (mesmo quando Soares promete num dia que não vai voltar a falar de Cavaco, no dia seguinte tem uma recaída aparatosa).
Quinto ponto: o debate de Soares com Cavaco foi para Soares um verdadeiro suicídio político. Soares procurava desestabilizar Cavaco com toda a espécie de agressões. Cavaco, mesmo confessando a dado momento que precisava de se conter, manteve uma postura absolutamente impecável, ajustada à imagem que nós temos de um Chefe de Estado. Soares, não. A sua atitude foi a de um líder da oposição que quer esmagar o adversário a qualquer custo. Face aos elogios de Cavaco, Soares disse coisas espantosas sobretudo sobre a personalidade e a formação de Cavaco. Chegou ao desplante de afirmar que Cavaco era um razoável economista, mas não um Prémio Nobel, como se a história contasse com muitos Prémios Nobeis no lugar de Presidentes. Foi desagradável ao agitar comentários de amigos seus em relação ao aspecto hirto e pouco conversador de Cavaco em reuniões internacionais.
Há coisas que um Presidente da República não pode fazer. Soares fez. E foi hilariante quando se quis apresentar como um verdadeiro conhecedor de economia que tinha salvo o país.
Sexto ponto: se Cavaco ganhar à primeira volta, deverá agradecer a Soares.
Professor Universitário.
Membro da Comissão de Honra da candidatura de Manuel Alegre
12.22.2005
Nicole Fontaine e Mário Soares
Mário Soares visto por Nicole Fontaine em http://www.fenetreeurope.com/file/2002/file58.htm,
“Être une femme : le premier combat de Nicole Fontaine
A l’heure de la parité, Nicole Fontaine a dû faire face, dès les premières heures de son mandat, à «un soupçon de machisme» : au lendemain de son discours de prise de fonctions, le Portugais Mario Soares qualifie son allocution de «discurso de dona da casa» soit, en français, «discours de maîtresse de maison».Peu de temps après ce premier incident, décrit par ailleurs avec beaucoup d’humour, Madame Fontaine décide de se rendre au Maroc pour représenter le Parlement européen aux obsèques du roi Hassan II. Le fait d’être une femme représente un obstacle majeur : la cérémonie des funérailles leur est interdite. Elle devra se battre pour rejoindre le cortège funéraire aux côtés de Jacques Chirac, de Bill Clinton, de Valéry Giscard d’Estaing et du roi d’Espagne. Selon le protocole, la présidente de la plus grande assemblée démocratique au monde aurait dû patienter à l’hôtel, en compagnie des épouses des chefs d’Etat. Sa détermination aura raison de la tradition. Au policier qui lui précise «vous êtes une femme, votre place n’est pas dans le cortège», elle répondra : «Femme ou non, je représente ici 380 millions d’Européens».”
E também "ele"
A propósito da deselegância de Mário Soares, um artigo hilariante de Proença de Carvalho publicado em “O Sinédrio” intitulado
“ele”.
Enfim, férias!
Nesta época Natalícia não me está a apetecer escrever. Mesmo nada.
A minha inércia ainda aumentou pelo facto de a noite de ontem nada ter tido de Natalícia, nem de pacífica.
Depois do “combate” entre Mário Soares e Cavaco Silva há uma pergunta que se impõe.
Será que alguém mudou de opinião em função do debate?
Penso que qualquer debate entre Mário Soares e Cavaco Silva, duas personalidades, sobejamente conhecidas da nossa recente democracia, muito dificilmente poderia levar a grandes alterações na intenção de voto. Suponho que as sondagens não vão contrariar a minha teoria.
Mesmo os mais incautos pensavam que apenas uma hecatombe poderia conduzir a alterações significativas no panorama nacional. Por isso também facilmente se conclui, se necessidade de mais evidências houvesse, que não são precisos mais debates televisivos para coisa alguma.
Na sequência do espectáculo de ontem a minha opinião sobre os dois candidatos alterou-se significativamente. Mário Soares ao tentar algo de inexplicavelmente mau conseguiu que eu, quem me conhece sabe muito bem que nunca fui cavaquista - antes pelo contrário –, tenha ganho a consciência que no dia 22 de Janeiro nunca me poderei abster de expressar a minha opinião. E sobretudo, não poderei deixar que outros façam por mim a escolha do próximo Presidente da República. No meio daquele pesadelo, foi um alívio ter chegado a uma conclusão tão clara. O meu voto não pode ser outro.
A vertigem do poder deve ser deveras estupidificante. Antes Otelo Saraiva de Carvalho, e agora Mário Soares. Dois homens diferentes, que outrora se confrontaram e que têm um fim muito semelhante.
A minha inércia ainda aumentou pelo facto de a noite de ontem nada ter tido de Natalícia, nem de pacífica.
Depois do “combate” entre Mário Soares e Cavaco Silva há uma pergunta que se impõe.
Será que alguém mudou de opinião em função do debate?
Penso que qualquer debate entre Mário Soares e Cavaco Silva, duas personalidades, sobejamente conhecidas da nossa recente democracia, muito dificilmente poderia levar a grandes alterações na intenção de voto. Suponho que as sondagens não vão contrariar a minha teoria.
Mesmo os mais incautos pensavam que apenas uma hecatombe poderia conduzir a alterações significativas no panorama nacional. Por isso também facilmente se conclui, se necessidade de mais evidências houvesse, que não são precisos mais debates televisivos para coisa alguma.
Na sequência do espectáculo de ontem a minha opinião sobre os dois candidatos alterou-se significativamente. Mário Soares ao tentar algo de inexplicavelmente mau conseguiu que eu, quem me conhece sabe muito bem que nunca fui cavaquista - antes pelo contrário –, tenha ganho a consciência que no dia 22 de Janeiro nunca me poderei abster de expressar a minha opinião. E sobretudo, não poderei deixar que outros façam por mim a escolha do próximo Presidente da República. No meio daquele pesadelo, foi um alívio ter chegado a uma conclusão tão clara. O meu voto não pode ser outro.
A vertigem do poder deve ser deveras estupidificante. Antes Otelo Saraiva de Carvalho, e agora Mário Soares. Dois homens diferentes, que outrora se confrontaram e que têm um fim muito semelhante.
12.18.2005
Manuel Alegre (1) - Mário Soares (0)
Aqui vai um texto que devido a dificuldades várias não consegui publicar na altura devida.
Assisti ontem a mais um debate entre os candidatos à Presidência da República. Não consigo perceber como ainda ninguém referiu o pior destes debates - os jornalistas. Fala-se vezes sem conta sobre os candidatos, em particular sobre o que não disseram, esquecendo-nos que temos jornalistas que os deviam incomodar com as perguntas certas. Estes estiveram particularmente mal no debate da TVI. A Constança Cunha e Sá, que tem os seus dias, não estava decididamente num deles. E o Miguel Sousa Tavares esqueceu-se por diversas vezes que não queríamos ouvir as suas opiniões para nada. Parafraseando alguém que eu conheço: Perguntas inteligentes meus senhores, por favor!!!
Pela segunda vez, Mário Soares diz que não teve nenhuma ligação ao partido socialista nos últimos anos. Esta afirmação fica-lhe muito mal porque é pura mentira. Então, não foi candidato ao Parlamento Europeu pelas listas do PS?
Por duas vezes, e penso que com quatro jornalistas/comentadores distintos, faltou à verdade e ninguém lhe avivou a memória. Fica muito mal a quem se diz um defensor da classe política
Mário Soares, republicano de longa data, como gosta de afirmar, enunciou perante Manuel Alegre um dos princípios da Monarquia. De facto, por que razão haveríamos de estar a votar num candidato a presidente da república, quando podemos escolher um que já conhece o protocolo e sabe com quem pode negociar? Não terão sido estas as palavras, mas o sentido é o mesmo.
Deixem-me pois reorganizar esta ideia e completando com o que ouvi hoje da boca de Mário Soares: Se os Presidentes da República não podem fazer quase nada (vide fotografia das Seicheles (?) publicada nesta página) e quase nada podem influenciar, porque não poderemos ter uma Monarquia, com um Rei treinado desde o berço para a sua função. Poupávamo-nos a estes debates ridículos entre republicanos e laicos, a discutir a constituição. Desta forma acabariam as guerras sobre o apoio dos partidos às várias candidaturas e poder-se-iam manter, por mais uns anitos algumas amizades (?) de longa data. Seria também a resolução dos problemas para os que temem quem não sabe comer bolo rei.
Estas ideias não ficam mesmo nada bem a um filho de um republicano - leia-se Mário Soares. Dão azo a que outros comecem a interrogar o sistema republicano em que vivem e que sustentam. Sim, porque o único poder institucional que elegem directamente ( de facto estou a esquecer-me da assembleia da repúbliaca com os deputados mas estes, todos sabemos, estão sob a alçada da obediência partidária), nada pode fazer!
Assisti ontem a mais um debate entre os candidatos à Presidência da República. Não consigo perceber como ainda ninguém referiu o pior destes debates - os jornalistas. Fala-se vezes sem conta sobre os candidatos, em particular sobre o que não disseram, esquecendo-nos que temos jornalistas que os deviam incomodar com as perguntas certas. Estes estiveram particularmente mal no debate da TVI. A Constança Cunha e Sá, que tem os seus dias, não estava decididamente num deles. E o Miguel Sousa Tavares esqueceu-se por diversas vezes que não queríamos ouvir as suas opiniões para nada. Parafraseando alguém que eu conheço: Perguntas inteligentes meus senhores, por favor!!!
Pela segunda vez, Mário Soares diz que não teve nenhuma ligação ao partido socialista nos últimos anos. Esta afirmação fica-lhe muito mal porque é pura mentira. Então, não foi candidato ao Parlamento Europeu pelas listas do PS?
Por duas vezes, e penso que com quatro jornalistas/comentadores distintos, faltou à verdade e ninguém lhe avivou a memória. Fica muito mal a quem se diz um defensor da classe política
Mário Soares, republicano de longa data, como gosta de afirmar, enunciou perante Manuel Alegre um dos princípios da Monarquia. De facto, por que razão haveríamos de estar a votar num candidato a presidente da república, quando podemos escolher um que já conhece o protocolo e sabe com quem pode negociar? Não terão sido estas as palavras, mas o sentido é o mesmo.
Deixem-me pois reorganizar esta ideia e completando com o que ouvi hoje da boca de Mário Soares: Se os Presidentes da República não podem fazer quase nada (vide fotografia das Seicheles (?) publicada nesta página) e quase nada podem influenciar, porque não poderemos ter uma Monarquia, com um Rei treinado desde o berço para a sua função. Poupávamo-nos a estes debates ridículos entre republicanos e laicos, a discutir a constituição. Desta forma acabariam as guerras sobre o apoio dos partidos às várias candidaturas e poder-se-iam manter, por mais uns anitos algumas amizades (?) de longa data. Seria também a resolução dos problemas para os que temem quem não sabe comer bolo rei.
Estas ideias não ficam mesmo nada bem a um filho de um republicano - leia-se Mário Soares. Dão azo a que outros comecem a interrogar o sistema republicano em que vivem e que sustentam. Sim, porque o único poder institucional que elegem directamente ( de facto estou a esquecer-me da assembleia da repúbliaca com os deputados mas estes, todos sabemos, estão sob a alçada da obediência partidária), nada pode fazer!
12.14.2005
12.13.2005
Soares numa Presidência Aberta com amigos
Marinha Grande 2
Há bem pouco tempo, tive uma conversa inócua, e no mundo das mais remotas suposições, sobre a eventualidade de Mário Soares ser vítima de agressões, à semelhança das da Marinha Grande, que tiveram lugar durante a sua primeira campanha para as presidenciais. Ainda no mundo da fantasia, questionava-me sobre a possibilidade desses mesmos actos, caso não surgissem espontaneamente, poderem ser forjados, tal qual Oliveira Salazar em momento de crise.
Todos sabemos que o caso Marinha Grande provocou uma grande inflexão na popularidade e que foi decisivo, nessa altura, para o arranque de Mário Soares. Não quero acreditar que este incidente, agora em Barcelos, bastante suave e que a meu ver se resumiu a uns insultos - a que nenhum político, independentemente do seu grau de popularidade e honestidade se consegue esquivar – , se enquadre num plano de desespero nº10 de algum director de campanha.
No entanto, este episódio, que se poderia ter rapidamente esvaído na memória do tempo e da comunicação social à semelhança dos ataques verbais e físicos ao Rui Rio no Porto durante as suas visitas aos bairros de Aldoar e de Campanha, foi estranhamente enfatizado.
Mais invulgar são as últimas declarações de Mário Soares, que prontamente tinha desvalorizado o facto, vem contrariar as primeiras declarações. Afirma ainda coisas estranhas como:
«Vou ver quem ele é e o que faz»;
«Fez-me acusações muito graves e tenho possivelmente que o accionar judicialmente. Prezo a minha honorabilidade pessoal»
(http://online.expresso.clix.pt/1pagina/artigo.asp?id=24755823)
Parece-me que Mário Soares está a querer dar relevância à situação. Como poderemos levar a sério um ex-combatente que se apresenta devidamente identificado de boné, em frente a todas as câmaras e com vários microfones a rodeá-lo. Ainda por cima, com grande ineficácia para a agressão.
Todos sabemos que o caso Marinha Grande provocou uma grande inflexão na popularidade e que foi decisivo, nessa altura, para o arranque de Mário Soares. Não quero acreditar que este incidente, agora em Barcelos, bastante suave e que a meu ver se resumiu a uns insultos - a que nenhum político, independentemente do seu grau de popularidade e honestidade se consegue esquivar – , se enquadre num plano de desespero nº10 de algum director de campanha.
No entanto, este episódio, que se poderia ter rapidamente esvaído na memória do tempo e da comunicação social à semelhança dos ataques verbais e físicos ao Rui Rio no Porto durante as suas visitas aos bairros de Aldoar e de Campanha, foi estranhamente enfatizado.
Mais invulgar são as últimas declarações de Mário Soares, que prontamente tinha desvalorizado o facto, vem contrariar as primeiras declarações. Afirma ainda coisas estranhas como:
«Vou ver quem ele é e o que faz»;
«Fez-me acusações muito graves e tenho possivelmente que o accionar judicialmente. Prezo a minha honorabilidade pessoal»
(http://online.expresso.clix.pt/1pagina/artigo.asp?id=24755823)
Parece-me que Mário Soares está a querer dar relevância à situação. Como poderemos levar a sério um ex-combatente que se apresenta devidamente identificado de boné, em frente a todas as câmaras e com vários microfones a rodeá-lo. Ainda por cima, com grande ineficácia para a agressão.
12.09.2005
Ministério da Educação
Aqui vai mais um e-mail que eu recebi sobre a realidade no ensino secundário.
“Algo se passa no reino do Ministério da Educação!
O ano lectivo abriu bem, com os professores colocados, mérito que deve, em rigor, ser repartido com a anterior ministra e com o director geral dos recursos humanos contratado por Maria do Carmo Seabra para resolver a embrulhada informática - o único que não foi substituído.
Em vez de valorizar a função docente, tratou os professores todos como incompetentes, desmobilizando os milhares que têm paixão pela escola.
Os sindicatos dos professores ajudam, pois convocam uma greve irresponsável, aos exames - e aqui a ministra esteve bem.
Não esteve bem, de facto, ao contratar aulas de inglês à pressa a institutos quando há milhares de professores com horários zero.
Foi precipitada e demagógica ao obriga os professores a estarem muito mais tempo na escola, sem fazerem nada
O ambiente nas escolas é péssimo - e não há boa escola com os professores desmotivados pelo próprio ministério e desconsiderados pela opinião pública.
Agora, mandou retirar os crucifixos, em resposta a uma obscura associação a quem coube a iniciativa de enviar uma carta muito laica e republicana à ministra e que se deu ao trabalho de elaborar o dossier anexo, disponível online.
E, não contente, vai reduzir para 3 os exames do 12º ano, reduzindo a exigência - aonde está a busca da qualidade de tanto se fala.
Por fim, o ministério apresenta agora uma proposta de uma lei que instituí o visto prévio nos manuais escolares. Como é típico das "democracias avançadas no limiar do século XXI" (!!!) e prepara-se para contratar centenas de professores para, de forma centralizada e sem recurso possível, desencadearem a operação de censura prévia dos livros de filosofia, história, geografia, português, etc. Mais uma vez a desconsideração face aos professores e face à escola, pois deixam se ser estes, e as escolas, (isto é:o mercado) a fazer a selecção da oferta, em liberdade.
Como se não bastasse, tem um secretario de estado que não hesitou em divulgar o absentismo dos professores, mas que mente sobre as suas próprias faltas e falta à palavra dada no processo eleitoral para a escola de que foi presidente.
Que se passa com a educação, afinal?”
“Algo se passa no reino do Ministério da Educação!
O ano lectivo abriu bem, com os professores colocados, mérito que deve, em rigor, ser repartido com a anterior ministra e com o director geral dos recursos humanos contratado por Maria do Carmo Seabra para resolver a embrulhada informática - o único que não foi substituído.
Em vez de valorizar a função docente, tratou os professores todos como incompetentes, desmobilizando os milhares que têm paixão pela escola.
Os sindicatos dos professores ajudam, pois convocam uma greve irresponsável, aos exames - e aqui a ministra esteve bem.
Não esteve bem, de facto, ao contratar aulas de inglês à pressa a institutos quando há milhares de professores com horários zero.
Foi precipitada e demagógica ao obriga os professores a estarem muito mais tempo na escola, sem fazerem nada
O ambiente nas escolas é péssimo - e não há boa escola com os professores desmotivados pelo próprio ministério e desconsiderados pela opinião pública.
Agora, mandou retirar os crucifixos, em resposta a uma obscura associação a quem coube a iniciativa de enviar uma carta muito laica e republicana à ministra e que se deu ao trabalho de elaborar o dossier anexo, disponível online.
E, não contente, vai reduzir para 3 os exames do 12º ano, reduzindo a exigência - aonde está a busca da qualidade de tanto se fala.
Por fim, o ministério apresenta agora uma proposta de uma lei que instituí o visto prévio nos manuais escolares. Como é típico das "democracias avançadas no limiar do século XXI" (!!!) e prepara-se para contratar centenas de professores para, de forma centralizada e sem recurso possível, desencadearem a operação de censura prévia dos livros de filosofia, história, geografia, português, etc. Mais uma vez a desconsideração face aos professores e face à escola, pois deixam se ser estes, e as escolas, (isto é:o mercado) a fazer a selecção da oferta, em liberdade.
Como se não bastasse, tem um secretario de estado que não hesitou em divulgar o absentismo dos professores, mas que mente sobre as suas próprias faltas e falta à palavra dada no processo eleitoral para a escola de que foi presidente.
Que se passa com a educação, afinal?”
Crucifixos II
Resolvi publicar um mail que me chegou que tem uma perspectiva interessante quanto ao radicalismo que se vive na sociedade Portuguesa.
“Senhor. Primeiro Ministro José Sócrates,
Tendo tomado o seu governo a decisão de promover a retirada dos crucifixos das salas de aula do nosso País, com a justificação que o estado português é um estado laico e que não se pode impor às crianças símbolos desta ou daquela religião, venho por este meio lembrá-lo que, da mesma forma, o nosso estado laico ainda promove, apoia e estimula verdadeiros abusos religiosos aos nossos cidadãos.
Refiro-me, obviamente, entre outros, a:
- Feriado Nacional para celebrar a Imaculada Concepção de Cristo - Feriado Nacional para celebrar o nascimento de Cristo. - Feriado Nacional para lembrarmo-nos de todos os Santos Católicos. - Feriado Nacional (numa 6a Feira, um dia de trabalho!) para reflectirmos sobre a morte de Cristo. - Feriado Nacional para celebrar a Sua posterior Ressurreição. - Feriado Nacional em honra da Ascensão aos Céus de Nossa (só de alguns, recordo-lhe) Senhora Maria, mãe de Cristo. - Feriado Nacional para honrar o Corpo de Cristo - Feriados Municipais para honrar os Santos Católicos, padroeiros das nossas mais diversas cidades, vilas e aldeias. - A presença das 5 chagas de Cristo na nossa Bandeira Nacional - O Monumento do Cristo Rei, na margem Sul do Tejo, um verdadeiro símbolo Cristão colocado num lugar de grande visibilidade e, certamente, muito incómodo para todos os que, não sendo Cristãos, para lá são forçados a olhar.
- À prática, comum, dos jogadores das nossas mais diversas selecções desportivas, de se benzerem enquanto em representação do nosso país.
Haveria, como é óbvio, muitos mais exemplos a apontar, mas estou certo que o senhor será capaz de os identificar e prontamente os eliminar da nossa vida nacional.
De imediato, estou certo que o Sr. Primeiro Ministro implementará de imediato a obrigatoriedade de comparecer ao trabalho a todos os funcionários do Estado em todos os dias úteis que sejam considerados, por alguns, como um dia religioso, caso este seja um dia de semana. A seu tempo, eliminará estes dias do calendário dos Feriados Nacionais, promovendo, desta forma, um aumento de produtividade acentuado.
Urge também proibir todos os nossos municípios de promoverem, tolerar, observar ou apoiar qualquer feriado de indole religiosa, sendo imediatamente abolidos os Santos Padroeiros das nossas cidades, vilas e aldeias.
De igual forma, estou certo que o Sr. Primeiro Ministro irá promover de imediato um concurso para a alteração e remoção de todos os elementos de índole religiosa da nossa Bandeira Nacional.
A demolição da estátua do Cristo Rei em Almada passará, por certo, a fazer parte das suas prioridades.
E estou certo que, tão logo acabe de ler esta missiva, irá instruir os presidentes das diversas Federações desportivas do País para que proíbam toda e qualquer manifestação religiosa por qualquer individuo que esteja em função de representação do nosso Portugal.
E, já agora, não se esqueça de proibir os sinos das igrejas de tocarem, a não ser em caso de fogo ou invasão estrangeira.
E a transmissão de cerimónias religiosas pelo canal publico de televisão!
Para finalizar, Sr. Primeiro Ministro, não se esqueça de, na próxima campanha eleitoral, lembrar as Portuguesas e os Portugueses que foi o Senhor, com o apoio do Partido Socialista, que teve a coragem de tomar estas medidas, tão justas e há tanto tempo ignoradas. É que o povo é muito esquecido, e é sempre bom lembrá-lo quem foram os responsáveis por estes actos de tão grande interesse Nacional.
Certo da sua coragem, convicção e empenho na aplicação das medidas sugeridas
Subscrevo-me,
Um cidadão Português, recenseado e com grande memória. “
“Senhor. Primeiro Ministro José Sócrates,
Tendo tomado o seu governo a decisão de promover a retirada dos crucifixos das salas de aula do nosso País, com a justificação que o estado português é um estado laico e que não se pode impor às crianças símbolos desta ou daquela religião, venho por este meio lembrá-lo que, da mesma forma, o nosso estado laico ainda promove, apoia e estimula verdadeiros abusos religiosos aos nossos cidadãos.
Refiro-me, obviamente, entre outros, a:
- Feriado Nacional para celebrar a Imaculada Concepção de Cristo - Feriado Nacional para celebrar o nascimento de Cristo. - Feriado Nacional para lembrarmo-nos de todos os Santos Católicos. - Feriado Nacional (numa 6a Feira, um dia de trabalho!) para reflectirmos sobre a morte de Cristo. - Feriado Nacional para celebrar a Sua posterior Ressurreição. - Feriado Nacional em honra da Ascensão aos Céus de Nossa (só de alguns, recordo-lhe) Senhora Maria, mãe de Cristo. - Feriado Nacional para honrar o Corpo de Cristo - Feriados Municipais para honrar os Santos Católicos, padroeiros das nossas mais diversas cidades, vilas e aldeias. - A presença das 5 chagas de Cristo na nossa Bandeira Nacional - O Monumento do Cristo Rei, na margem Sul do Tejo, um verdadeiro símbolo Cristão colocado num lugar de grande visibilidade e, certamente, muito incómodo para todos os que, não sendo Cristãos, para lá são forçados a olhar.
- À prática, comum, dos jogadores das nossas mais diversas selecções desportivas, de se benzerem enquanto em representação do nosso país.
Haveria, como é óbvio, muitos mais exemplos a apontar, mas estou certo que o senhor será capaz de os identificar e prontamente os eliminar da nossa vida nacional.
De imediato, estou certo que o Sr. Primeiro Ministro implementará de imediato a obrigatoriedade de comparecer ao trabalho a todos os funcionários do Estado em todos os dias úteis que sejam considerados, por alguns, como um dia religioso, caso este seja um dia de semana. A seu tempo, eliminará estes dias do calendário dos Feriados Nacionais, promovendo, desta forma, um aumento de produtividade acentuado.
Urge também proibir todos os nossos municípios de promoverem, tolerar, observar ou apoiar qualquer feriado de indole religiosa, sendo imediatamente abolidos os Santos Padroeiros das nossas cidades, vilas e aldeias.
De igual forma, estou certo que o Sr. Primeiro Ministro irá promover de imediato um concurso para a alteração e remoção de todos os elementos de índole religiosa da nossa Bandeira Nacional.
A demolição da estátua do Cristo Rei em Almada passará, por certo, a fazer parte das suas prioridades.
E estou certo que, tão logo acabe de ler esta missiva, irá instruir os presidentes das diversas Federações desportivas do País para que proíbam toda e qualquer manifestação religiosa por qualquer individuo que esteja em função de representação do nosso Portugal.
E, já agora, não se esqueça de proibir os sinos das igrejas de tocarem, a não ser em caso de fogo ou invasão estrangeira.
E a transmissão de cerimónias religiosas pelo canal publico de televisão!
Para finalizar, Sr. Primeiro Ministro, não se esqueça de, na próxima campanha eleitoral, lembrar as Portuguesas e os Portugueses que foi o Senhor, com o apoio do Partido Socialista, que teve a coragem de tomar estas medidas, tão justas e há tanto tempo ignoradas. É que o povo é muito esquecido, e é sempre bom lembrá-lo quem foram os responsáveis por estes actos de tão grande interesse Nacional.
Certo da sua coragem, convicção e empenho na aplicação das medidas sugeridas
Subscrevo-me,
Um cidadão Português, recenseado e com grande memória. “
12.07.2005
O Super Mário Faz 81 anos?!
Um ano depois de ter dito “basta de intervenção política” e depois de com jigajogas ter acabado com uma amizade de longa data (leia-se Manuel Alegre), Mário Soares terá bastante menos gente a seu lado no seu octogésimo primeiro aniversário.
Viagens na Minha Terra
Ontem, dia 6 de Dezembro o Tribunal de Contas diz num relatório resultante da auditoria realizada à empresa este ano, que a CP-Comboios de Portugal se encontra em falência técnica. Os vários défices de exploração e elevado nível de endividamento estão na base desta falência. Aparentemente nos últimos três anos a CP acumulou prejuízos que ascenderam a 741 milhões de euros.
Estão na base desta falência insuficiências na exploração das diferentes áreas de negócio da empresa. Esta situação parece resultar do facto de o carro continuar como o meio de transporte preferencial dos Portugueses. Penso que este não é um problema dos Portugueses. De facto, se comparamos o nosso sistema de transporte ferroviário com o de outros Países encontramos muitas razões para esta situação óbvias para o comum dos mortais como eu.
As linhas dos caminhos de ferro mantiveram-se decrépitas e por causa disso a compra dos comboios pendulares que serviram a linha Porto-Lisboa, tornou-se inútil. A compra dos pendulares fez apenas ganhar meia hora em relação aos anteriores alfas. Há zonas em que o pendular circula a 10 km/h e nunca pode atingir a sua velocidade máxima, Não existe serviço de comboios depois das oito de noite e várias linhas fecharam. Para o Algarve, só quem não tem carro ou não tem idade para ter carta vai de comboio. Para Madrid, só um louco que não tem o que fazer ao tempo.
Por outro lado, as sempre rentáveis companhias de camionagem que apenas demoravam mais uma hora a levar os passageiros do centro da cidade do Porto para o centro da cidade de Lisboa por quase metade do preço. De facto, a relação rapidez/preço dos comboios é (quase era) muito má. O aparecimento das companhias aéreas Low-cost não augura nenhum bom futuro para qualquer linha Lisboa-Madrid, a funcionar nestas condições. E mesmo para o TGV... Já alguém averiguou se as linhas do TGV em Espanha são rentáveis? Quando o fizerem terão uma desagradável surpresa.
Estão na base desta falência insuficiências na exploração das diferentes áreas de negócio da empresa. Esta situação parece resultar do facto de o carro continuar como o meio de transporte preferencial dos Portugueses. Penso que este não é um problema dos Portugueses. De facto, se comparamos o nosso sistema de transporte ferroviário com o de outros Países encontramos muitas razões para esta situação óbvias para o comum dos mortais como eu.
As linhas dos caminhos de ferro mantiveram-se decrépitas e por causa disso a compra dos comboios pendulares que serviram a linha Porto-Lisboa, tornou-se inútil. A compra dos pendulares fez apenas ganhar meia hora em relação aos anteriores alfas. Há zonas em que o pendular circula a 10 km/h e nunca pode atingir a sua velocidade máxima, Não existe serviço de comboios depois das oito de noite e várias linhas fecharam. Para o Algarve, só quem não tem carro ou não tem idade para ter carta vai de comboio. Para Madrid, só um louco que não tem o que fazer ao tempo.
Por outro lado, as sempre rentáveis companhias de camionagem que apenas demoravam mais uma hora a levar os passageiros do centro da cidade do Porto para o centro da cidade de Lisboa por quase metade do preço. De facto, a relação rapidez/preço dos comboios é (quase era) muito má. O aparecimento das companhias aéreas Low-cost não augura nenhum bom futuro para qualquer linha Lisboa-Madrid, a funcionar nestas condições. E mesmo para o TGV... Já alguém averiguou se as linhas do TGV em Espanha são rentáveis? Quando o fizerem terão uma desagradável surpresa.
12.06.2005
Limiar da Pobreza
Tenho vivido durante os últimos tempos com uma questão pertinente que ontem foi reavivada por dois motivos. Tinha lido uma reportagem no El Pais que publicava em grandes títulos que 20% dos Espanhóis (1 em cada 5) vivem abaixo do limiar da Pobreza, exactamente no mesmo dia em que Manuel Alegre enfatizou o avanço do nosso vizinho relativamente ao nosso País.
Em 15 de Outubro deste mesmo ano, perto do dia Mundial para a Erradicação da Pobreza, vários jornais e organizações Portuguesas afirmavam que Portugal tinha 20% de Pobres. Os mesmos dados eram então adiantados - 1 em cada 5 Portugueses, vive abaixo do limiar da Pobreza.
Alguma coisa está mal nesta avaliação. Ou o Limiar da Pobreza, que deve ser uma súmula de parâmetros, está longe de ser normalizada internacionalmente, ou não entendo como o Reino de Espanha está à nossa frente em quase tudo.
Em 15 de Outubro deste mesmo ano, perto do dia Mundial para a Erradicação da Pobreza, vários jornais e organizações Portuguesas afirmavam que Portugal tinha 20% de Pobres. Os mesmos dados eram então adiantados - 1 em cada 5 Portugueses, vive abaixo do limiar da Pobreza.
Alguma coisa está mal nesta avaliação. Ou o Limiar da Pobreza, que deve ser uma súmula de parâmetros, está longe de ser normalizada internacionalmente, ou não entendo como o Reino de Espanha está à nossa frente em quase tudo.
12.05.2005
Futurologia
Um artigo de opinião num cenário de futuro (próximo).
Otários
Ota 2017. Aterrei pela primeira vez no novíssimo Aeroporto da Ota. A viagem de Paris a bordo do também novíssimo Airbus entregue há dias à Air Varig-Portugal foi muito confortável e fez-me ter saudades da gestão de Fernando Pinto, o brasileiro que deu asas à TAP.
É estranho aterrar neste ermo, eu que durante dezenas de anos e centenas de voos me habituei à velha Portela.
A saída do avião foi agreste. A nave parou no final da pista (que os especialistas já dizem estar esgotada daqui a dez anos) longe das mangas coloridas que parecem abraçar o edifício de vidro e aço, um dos pouco orgulhos pós-socráticos.
A nortada que se fazia sentir não se recomenda nem aos inimigos, com aquele morro de um lado e um rio fazendo lembrar o Trancão do outro. Não fugindo à tradição, o autocarro demorou uma eternidade a chegar. Como sardinha em lata, bem comprimido entre um emigrante da última geração (cheio de «piercings» e turbante) e um antropólogo francês (em busca do último europeu que come de boca aberta, fuma no local de trabalho, bate na mulher e se assume como «cavacus antropopitecus»), sobrevevi.
Chegado ao hangar esperei 45 minutos pelas malas. Como não tinha cinco euros trocados para o carrinho tive de transportá-las às costas até ao táxi. Um motorista de cabelo rapado e bigode de três dias dentro de um dos novos Mercedes a hidrogénio desata aos insultos quando lhe digo para seguirmos até Lisboa. «Isto aqui é para trabalhar. Fretes só para o Algarve! Para Lisboa vai no comboio que vem do Entroncamento, pára em todas, e vai na hora. Deixe-me trabalhar!»
Indignado, ainda tentei chamar a polícia, mas o aeroporto, como foi construído com dinheiro dos privados (lembram-se do que disse Sócrates em 2005?), também só tem segurança privada e esses só apoiam quem pagou aquele suplemento «premium».
Hora e meia depois de aterrar consegui finalmente apanhar comboio para Lisboa. Pensando melhor foi bom ter sido corrido do táxi. A viagem custava 100 euros, metade do preço do voo «low coast» de Paris, e aquela entrada em Lisboa está sempre atascada de carros a qualquer hora, Enquanto não alargarem a Segunda Circular vai ser sempre aquele inferno!
Afinal, os tais comboios permanentes entre a Ota e Lisboa são uma ficção. Há comboios de hora a hora e se o voo atrasa podemos ter de esperar quase duas. O comboio devia ser o TGV, mas o projecto passou já por tantos adiamentos que ninguém arrisca uma data para a inauguração. De toda a maneira, a passagem pela Ota está bastante comprometida, pois implica um desvio e com tantos apeadeiros o TGV, se vier a existir, mais vai parecer o velho correio.
O aquecimento do comboio não funciona, como sempre, o restaurante só serve cevejas e salgados do dia anterior, as casas de banho estão impróprias para consumo. O que safa a viagem é a televisão que vai dando notícias. Cavaco, que já deixou a presidência, inaugurou hoje a sede da sua fundação. Foi comovente aquele abraço a Mário Soares, que não quis deixar de estar presente apesar da sua evidente debilidade física. Durão Barroso, que ganhou à tangente as presidenciais na segunda volta a Sócrates, está cada vez melhor no seu papel de Presidente da República. Os portugueses esqueceram a sua fuga em 2004 e penalizaram Sócrates por uma governação que tanto queria domar o défice que acabou de vez com qualquer veleidade de a economia portuguesa crescer. Não é por acaso que a Grécia é a nova Irlanda e o sonho de algumas jovens portuguesas é poderem ser actrizes na novela «Morangos Silvestres» da TV checa.
Já em Lisboa, passadas três horas de ter aterrado na Ota, percorro agora a Segunda Circular, sempre engarrafada. A Portela começou a ser dividida em talhões para construção. O único avião ali por perto é aquele que, transformado em bar, continua com os seus «show girls» noite dentro. Um sobrevivente.
Mais abaixo, na Avenida de Brasil, cruzo a Reinaldo Ferreira, a rua da minha infância, onde os aviões passavam a escassas centenas de metros da janela do meu quarto. Cresci com aquele barulho dia e noite. Ficava especado à espera que passasse um desses pássaros e me levasse na minha imaginação.
A Portela era um fascínio lisboeta. Dava uma dimensão cosmopolita ao país, perto do mundo.
Agora temos um elefante branco, longe, caro, não competitivo, desmotivador do turismo em Lisboa. Mais um buraco para pagarmos, depois das Scut , do TGV, da saúde, da educação. Uma lista impagável num país de otários.
Luiz Carvalho
http://online.expresso.clix.pt/1pagina/artigo.asp?id=24755576
Otários
Ota 2017. Aterrei pela primeira vez no novíssimo Aeroporto da Ota. A viagem de Paris a bordo do também novíssimo Airbus entregue há dias à Air Varig-Portugal foi muito confortável e fez-me ter saudades da gestão de Fernando Pinto, o brasileiro que deu asas à TAP.
É estranho aterrar neste ermo, eu que durante dezenas de anos e centenas de voos me habituei à velha Portela.
A saída do avião foi agreste. A nave parou no final da pista (que os especialistas já dizem estar esgotada daqui a dez anos) longe das mangas coloridas que parecem abraçar o edifício de vidro e aço, um dos pouco orgulhos pós-socráticos.
A nortada que se fazia sentir não se recomenda nem aos inimigos, com aquele morro de um lado e um rio fazendo lembrar o Trancão do outro. Não fugindo à tradição, o autocarro demorou uma eternidade a chegar. Como sardinha em lata, bem comprimido entre um emigrante da última geração (cheio de «piercings» e turbante) e um antropólogo francês (em busca do último europeu que come de boca aberta, fuma no local de trabalho, bate na mulher e se assume como «cavacus antropopitecus»), sobrevevi.
Chegado ao hangar esperei 45 minutos pelas malas. Como não tinha cinco euros trocados para o carrinho tive de transportá-las às costas até ao táxi. Um motorista de cabelo rapado e bigode de três dias dentro de um dos novos Mercedes a hidrogénio desata aos insultos quando lhe digo para seguirmos até Lisboa. «Isto aqui é para trabalhar. Fretes só para o Algarve! Para Lisboa vai no comboio que vem do Entroncamento, pára em todas, e vai na hora. Deixe-me trabalhar!»
Indignado, ainda tentei chamar a polícia, mas o aeroporto, como foi construído com dinheiro dos privados (lembram-se do que disse Sócrates em 2005?), também só tem segurança privada e esses só apoiam quem pagou aquele suplemento «premium».
Hora e meia depois de aterrar consegui finalmente apanhar comboio para Lisboa. Pensando melhor foi bom ter sido corrido do táxi. A viagem custava 100 euros, metade do preço do voo «low coast» de Paris, e aquela entrada em Lisboa está sempre atascada de carros a qualquer hora, Enquanto não alargarem a Segunda Circular vai ser sempre aquele inferno!
Afinal, os tais comboios permanentes entre a Ota e Lisboa são uma ficção. Há comboios de hora a hora e se o voo atrasa podemos ter de esperar quase duas. O comboio devia ser o TGV, mas o projecto passou já por tantos adiamentos que ninguém arrisca uma data para a inauguração. De toda a maneira, a passagem pela Ota está bastante comprometida, pois implica um desvio e com tantos apeadeiros o TGV, se vier a existir, mais vai parecer o velho correio.
O aquecimento do comboio não funciona, como sempre, o restaurante só serve cevejas e salgados do dia anterior, as casas de banho estão impróprias para consumo. O que safa a viagem é a televisão que vai dando notícias. Cavaco, que já deixou a presidência, inaugurou hoje a sede da sua fundação. Foi comovente aquele abraço a Mário Soares, que não quis deixar de estar presente apesar da sua evidente debilidade física. Durão Barroso, que ganhou à tangente as presidenciais na segunda volta a Sócrates, está cada vez melhor no seu papel de Presidente da República. Os portugueses esqueceram a sua fuga em 2004 e penalizaram Sócrates por uma governação que tanto queria domar o défice que acabou de vez com qualquer veleidade de a economia portuguesa crescer. Não é por acaso que a Grécia é a nova Irlanda e o sonho de algumas jovens portuguesas é poderem ser actrizes na novela «Morangos Silvestres» da TV checa.
Já em Lisboa, passadas três horas de ter aterrado na Ota, percorro agora a Segunda Circular, sempre engarrafada. A Portela começou a ser dividida em talhões para construção. O único avião ali por perto é aquele que, transformado em bar, continua com os seus «show girls» noite dentro. Um sobrevivente.
Mais abaixo, na Avenida de Brasil, cruzo a Reinaldo Ferreira, a rua da minha infância, onde os aviões passavam a escassas centenas de metros da janela do meu quarto. Cresci com aquele barulho dia e noite. Ficava especado à espera que passasse um desses pássaros e me levasse na minha imaginação.
A Portela era um fascínio lisboeta. Dava uma dimensão cosmopolita ao país, perto do mundo.
Agora temos um elefante branco, longe, caro, não competitivo, desmotivador do turismo em Lisboa. Mais um buraco para pagarmos, depois das Scut , do TGV, da saúde, da educação. Uma lista impagável num país de otários.
Luiz Carvalho
http://online.expresso.clix.pt/1pagina/artigo.asp?id=24755576
Estado laico
Provavelmente os mesmos que em criticaram a proibição do uso de sinais religiosos em escolas francesas, como o tão falado véu, promovem a retirada dos crucifixos das escolas.
Não tenho qualquer problema em aceitar este facto, num estado laico como é o nosso. No entanto, não entendo como o mesmo Estado Laico homenageia Francisco Sá Carneiro com uma “missa de estado” no dia 4 de Dezembro.
Aqui vai um artigo de opinião publicado no diário de notícias sobre o problema da cruz.
“Tiro ao Crucifixo
Eu só quero que me expliquem isto porque é que ter um crucifixo pendurado na parede de uma escola é uma ofensa à laicidade do Estado e um atentado à Constituição, e já não é uma ofensa à laicidade do Estado nem um atentado à Constituição o país inteiro prestar homenagem, através de um dia feriado, ao nascimento de Jesus (Natal), à morte de Jesus (Sexta-feira Santa), à ressurreição de Jesus (Páscoa), à celebração da Eucaristia (Corpo de Deus), aos santos e mártires da Igreja (Dia de Todos os Santos), à subida ao céu de Maria (Assunção de Nossa Senhora), e até ao facto de a mãe de Jesus, através de uma cunha de Deus, ter-se safado do pecado original no momento em que os seus pais a conceberam (Imaculada Conceição). Na próxima quinta-feira, dia 8 de Dezembro, o Estado português vai curvar-se alegremente diante de um dogma de alcofa inventado no século XIX por uma Igreja acossada pela secularização, mas até lá entretém- -se a subir ao escadote para remover cruzes de madeira, esses malvados instrumentos que instigam à conversão religiosa. Em Portugal, já se sabe, a lógica é uma batata.Por mim, podem limpar as escolas de todos os crucifixos, e, já agora, que se aproxima essa perigosa quadra para o laicismo do Estado chamada Natal, podem proibir também os presépios e até a apanha de musgo. A única coisa que me incomoda neste pequeno psicodrama é que o Ministério da Educação perca o seu tempo a expelir circulares muito legais, muito constitucionais e muito burras. O senhor que está pendurado nos crucifixos não é apenas um símbolo religioso - é também um símbolo civilizacional, que atravessa todo o Ocidente através da pintura, da literatura, da música, da arquitectura, do teatro, do cinema. Mais do que propaganda católica, o crucifixo faz parte da nossa identidade e é uma chave para compreender os últimos 21 séculos de História. Não tem a ver com fé. Não tem a ver com Deus. Tem a ver connosco.
João Miguel Tavares
Diário de Notícias, 3 de Dezembro de 2005”
http://dn.sapo.pt/2005/12/02/opiniao/tiro_crucifixo.html
Não tenho qualquer problema em aceitar este facto, num estado laico como é o nosso. No entanto, não entendo como o mesmo Estado Laico homenageia Francisco Sá Carneiro com uma “missa de estado” no dia 4 de Dezembro.
Aqui vai um artigo de opinião publicado no diário de notícias sobre o problema da cruz.
“Tiro ao Crucifixo
Eu só quero que me expliquem isto porque é que ter um crucifixo pendurado na parede de uma escola é uma ofensa à laicidade do Estado e um atentado à Constituição, e já não é uma ofensa à laicidade do Estado nem um atentado à Constituição o país inteiro prestar homenagem, através de um dia feriado, ao nascimento de Jesus (Natal), à morte de Jesus (Sexta-feira Santa), à ressurreição de Jesus (Páscoa), à celebração da Eucaristia (Corpo de Deus), aos santos e mártires da Igreja (Dia de Todos os Santos), à subida ao céu de Maria (Assunção de Nossa Senhora), e até ao facto de a mãe de Jesus, através de uma cunha de Deus, ter-se safado do pecado original no momento em que os seus pais a conceberam (Imaculada Conceição). Na próxima quinta-feira, dia 8 de Dezembro, o Estado português vai curvar-se alegremente diante de um dogma de alcofa inventado no século XIX por uma Igreja acossada pela secularização, mas até lá entretém- -se a subir ao escadote para remover cruzes de madeira, esses malvados instrumentos que instigam à conversão religiosa. Em Portugal, já se sabe, a lógica é uma batata.Por mim, podem limpar as escolas de todos os crucifixos, e, já agora, que se aproxima essa perigosa quadra para o laicismo do Estado chamada Natal, podem proibir também os presépios e até a apanha de musgo. A única coisa que me incomoda neste pequeno psicodrama é que o Ministério da Educação perca o seu tempo a expelir circulares muito legais, muito constitucionais e muito burras. O senhor que está pendurado nos crucifixos não é apenas um símbolo religioso - é também um símbolo civilizacional, que atravessa todo o Ocidente através da pintura, da literatura, da música, da arquitectura, do teatro, do cinema. Mais do que propaganda católica, o crucifixo faz parte da nossa identidade e é uma chave para compreender os últimos 21 séculos de História. Não tem a ver com fé. Não tem a ver com Deus. Tem a ver connosco.
João Miguel Tavares
Diário de Notícias, 3 de Dezembro de 2005”
http://dn.sapo.pt/2005/12/02/opiniao/tiro_crucifixo.html
11.28.2005
Todos têm o seu preço!
Vicente Jorge Silva na sua crónica de sábado no Diário de Notícias descreve da melhor forma possível o seguidismo que se vive. E como sempre, não será de esperar que este unanimismo súbito não tenha um preço.
Missas
“Bastaram duas missas para converter os incrédulos. Na primeira celebrou-se o aeroporto da Ota, na segunda o Plano Tecnológico. Os chamados agentes económicos que, na sua grande maioria, pareciam rebeldes e sem fé perante os anúncios miraculosos do Governo, acabaram rendidos às evidências. Muitos dos que, na véspera, consideravam a Ota um disparate ou, pelo menos, uma extravagância deslocada no tempo e nas prioridades da política de austeridade, confessaram-se convencidos pela argumentação litúrgica dos relatórios bancários e dos experts internacionais. Sobre o Plano Tecnológico, apesar dos acidentes de percurso - com a demissão do coorde- nador inicial e os conflitos inter-governamentais em relação às opções tomadas no documento-base - o milagre não foi menor bastou que o primeiro-ministro tivesse chamado a si a condução futura do processo, desautorizando o inepto ministro da Economia, para que todas as reservas e objecções se tornassem praticamente irrelevantes.
Em menos de uma semana, o que parecia péssimo tornou-se, pelo menos na aparência, quase óptimo. Fez-se uma revisão apressada mas cirúrgica da cópia apresentada, mudaram-se algumas alíneas e conclusões - e o milagre aconteceu. Uma equipa de dezenas de notáveis - os quais alguns que haviam confessado desconhecer a versão anterior do Plano - apareceu a apadrinhar o acompanhamento do processo. Com um golpe fulminante, Sócrates matou dois coelhos de uma cajadada e reduziu à cumplicidade e ao silêncio o coro de hostilidades sobre as propostas emblemáticas do Governo. Até os jornalistas ficaram sem fôlego para questionar tantos mistérios.
Confirma-se assim que as relações entre o poder político e o poder económico em Portugal dependem muito, para além dos conflitos de interesses, das conexões "virtuosas" entre os dois poderes. Bastaram duas missas para operar autênticos milagres.
Vicente Jorge Silva (DN, 26 de Novembro de 2005)”
http://dn.sapo.pt/2005/11/26/opiniao/missas.html
Missas
“Bastaram duas missas para converter os incrédulos. Na primeira celebrou-se o aeroporto da Ota, na segunda o Plano Tecnológico. Os chamados agentes económicos que, na sua grande maioria, pareciam rebeldes e sem fé perante os anúncios miraculosos do Governo, acabaram rendidos às evidências. Muitos dos que, na véspera, consideravam a Ota um disparate ou, pelo menos, uma extravagância deslocada no tempo e nas prioridades da política de austeridade, confessaram-se convencidos pela argumentação litúrgica dos relatórios bancários e dos experts internacionais. Sobre o Plano Tecnológico, apesar dos acidentes de percurso - com a demissão do coorde- nador inicial e os conflitos inter-governamentais em relação às opções tomadas no documento-base - o milagre não foi menor bastou que o primeiro-ministro tivesse chamado a si a condução futura do processo, desautorizando o inepto ministro da Economia, para que todas as reservas e objecções se tornassem praticamente irrelevantes.
Em menos de uma semana, o que parecia péssimo tornou-se, pelo menos na aparência, quase óptimo. Fez-se uma revisão apressada mas cirúrgica da cópia apresentada, mudaram-se algumas alíneas e conclusões - e o milagre aconteceu. Uma equipa de dezenas de notáveis - os quais alguns que haviam confessado desconhecer a versão anterior do Plano - apareceu a apadrinhar o acompanhamento do processo. Com um golpe fulminante, Sócrates matou dois coelhos de uma cajadada e reduziu à cumplicidade e ao silêncio o coro de hostilidades sobre as propostas emblemáticas do Governo. Até os jornalistas ficaram sem fôlego para questionar tantos mistérios.
Confirma-se assim que as relações entre o poder político e o poder económico em Portugal dependem muito, para além dos conflitos de interesses, das conexões "virtuosas" entre os dois poderes. Bastaram duas missas para operar autênticos milagres.
Vicente Jorge Silva (DN, 26 de Novembro de 2005)”
http://dn.sapo.pt/2005/11/26/opiniao/missas.html
A ciência num aquário amarelo
Soube que o meu comentário ao projecto do Autocarro Viveracidade não caiu bem junto dos vários leitores do meu blog e não só.
Uma vez que ninguém me entendeu, sugiro que vejam com atenção os circuito e observem os horários. Tirem as conclusões.
À observação no Conta Natura, “é uma ideia engraçada” ou a do costume “é melhor do que nada” eu respondo. Para iniciativas destas seria melhor estarem quietos. Gastar o dinheiro que se vai gastar, com a desculpa de ser em prol da ciência, mais valia estarem quietos e disponibilizarem o dinheiro, quiçá, para os bairros sociais.
Penso que não estou errada ao dizer que agitar as águas por si só, não é coisa alguma. É mesmo deste autocarro que não precisamos?
Faz-me lembrar um pouco como a ciência é encarada pela generalidade do poder. É amarelo para dar nas vistas, tem um itinerário para ser mostrado, é exigido um passe para os eleitos deste percurso exíguo. E no fim? Não serve a ninguém.
Uma vez que ninguém me entendeu, sugiro que vejam com atenção os circuito e observem os horários. Tirem as conclusões.
À observação no Conta Natura, “é uma ideia engraçada” ou a do costume “é melhor do que nada” eu respondo. Para iniciativas destas seria melhor estarem quietos. Gastar o dinheiro que se vai gastar, com a desculpa de ser em prol da ciência, mais valia estarem quietos e disponibilizarem o dinheiro, quiçá, para os bairros sociais.
Penso que não estou errada ao dizer que agitar as águas por si só, não é coisa alguma. É mesmo deste autocarro que não precisamos?
Faz-me lembrar um pouco como a ciência é encarada pela generalidade do poder. É amarelo para dar nas vistas, tem um itinerário para ser mostrado, é exigido um passe para os eleitos deste percurso exíguo. E no fim? Não serve a ninguém.
11.27.2005
KAPA
Eis que descubro o blog KAPA de cuja existência muitos já sabiam, a avaliar pelos inúmeros visitantes que eu nem por sombras consigo alcançar. O texto a que hoje me reporto faz lembrar os artigos da revista, da qual era um leitor assíduo.
Faço aqui uma transcrição do artigo que narra o tempo do MASP (Movimento de Apoio Soares a Presidente). Dada a surpreendente ressureição do mesmo, agora MASP III, penso que a histórias se repetirão, agora em 2005. Uma das grandes diferenças é a ausência - entre muito outros.... - de António Barreto das suas tertúlias. E Soares, 20 anos volvidos, já não é "fixe", é apenas Super-Mário.
TEXTO de Vasco Pulido Valente
1. No princípio de Janeiro de 1985 e estávamos em pleno «Bloco Central», quando pedi ao dr. Mário Soares que me respondesse a um questionário académico sobre o papel do Primeiro-Ministro. Não lhe falava desde 1979. Ele não tinha apreciado a Aliança Democrática e proclamara, em círculos indiscretos, que me achava «telhudo». Para meu espanto, ele disse que sim e, no encontro, foi extravagantemente amável. À saída, chegou mesmo ao excesso e requinte de ir comigo ao elevador do 2° andar de S. Bento e de me oferecer os seus inestimáveis serviços. Estas vénias, eram tanto mais prodigiosas, quanto ele não ignorava que o «telhudo» escrevia semanalmente sobre ele no Diário de Notícias, coisas celeradas e pérfidas, com o objectivo confesso de o remover de Primeiro-Ministro.
Houve outros sinais: um sorriso cúmplice do dr. Almeida Santos que me inquietou; um beijinho público da dra. Maria de Jesus, que me sobressaltou; abraços efusivos de obscuros amigos da família, que me atrapalharam; a remessa de livros com efusivas dedicatórias; e meia dúzia de jantares sem objecto.
Admito que à época, sendo muito ténue a minha percepção da realidade exterior, não dei por eles. Ou, pelo menos, não lhes atribuí especial importância. Tirando o estrito e trôpego cumprimento das minhas obrigações na Universidade Católica e no ICS, passava os dias e as noites na cama a embeber o espírito em espíritos e a reler a obra completa de Ludlum.
Só quando António Barreto voltou de um retiro sabático, o caso se esclareceu. O dr. Mário Soares desejava que a minha ornamental pessoa apoiasse a sua candidatura à Presidência da Republica. António Barreto não forneceu pormenores sabre a natureza desse apoio e devo admitir que o assunto também não me interessou. A especialização em Ludlum não me parecia auspiciosa e achei genericamente que sair de casa, fosse para eleger o dr. Soares ou sr. Justerini Brooks, me fazia bem.
Os trabalhos começaram em Fevereiro ou Março em S. Bento, e consistiam num jantar hebdomadário do presumível candidato com Vítor Constâncio, com Jaime Gama, com António Barreto e comigo, a que intermitentemente assistia um indivíduo denominado Gomes Mota. Nunca percebi as funções desta extraordinária «comissão que, por motivos fáceis de apreciar, e apesar de toda a evidência em contrário, não existia. Vítor Constâncio e Jaime Gama ocupavam preâmbulo com hiperbólicos elogios ao «Mário». Constâncio declarava o ultimo discurso do «Mário» em Aljustrel «magnífico» e, saltando na cadeira, Jaime Gama declarava «magnifico» o ultimo discurso do «Mário» em Aljustrel. Ou Gama declarava «genial» a ultima entrevista do «Mário» e Constâncio ponderadamente explicava que ninguém podia deixar de compreender a «genialidade» da ultima entrevista do «Mário». O «Mário» ouvia estas inanidades com deleite, em parte por elas próprias, em parte porque visivelmente apreciava a competição das duas crianças pelo seu favor. O sr. Ministro dos Negócios Estrangeiros e o sr. Governador do Banco de Portugal, entretidos um com o outro, não se coibiam. Para nós, para mim e o António Barreto, eles eram o Dupont e o Dupond da lenda e o pretexto de grandes galhofas post-prandiais. Mas nem Dupont do banco, nem o Dupond do ministério se incomodavam com a situação. Em ambos luzia a astuciosa ideia de que em Belém, Soares não tencionava com certeza continuar secretário-geral do PS e ambos visivelmente imaginavam que o chefe os distinguia a bifes e batatas fritas com o secreto intuito de escolher um deles para lhe suceder.
Nunca houve uma conversa útil nesses jantares. Houve especulações ociosas sabre os planos do general Eanes, sabre os presumíveis candidatos da Direita (Firmino Miguel, Lemos Ferreira, Freitas) e sabre as mirabolantes intrigas do PSD. Soares contava firmemente com os votos do PSD. O Dupont e o Dupond concordavam e Gomes Mota sibilava fragmentos de frases subtis sabre a Esquerda. Outra escola de pensamento, representada por Barreto e por mim, exprimia algumas duvidas sabre o amor do PSD ao candidato, cepticismo que o candidato tolerava com dificuldade e por mero respeito pela liberdade de expressão. Tinha um acordo leonino com Mota Pinto, segundo o qual o PSD se comprometia a sustentar o «Bloco Central» até 1987 e não lhe embaraçar as ambições a Belém. Entretanto, vinham a Lisboa «especialistas» alemães e americanos oferecer o benefício da sua experiência. Apareciam com zelo e desapareciam com angústia. Ninguém sabia quem era a oposição. Ninguém sabia se Mota Pinto se aguentava na presidência do PSD. Ninguém sabia se Eanes, invocando eventuais desordens no «Bloco Central», inteiramente prováveis, não acabava por dissolver a Assembleia da Republica. Ninguém sabia nada sobre coisa nenhuma. E Soares menos do que todos.
De repente, em algumas semanas, caiu o tecto. Mota Pinto, humilhado num Conselho Nacional, abandonou o governo e, para o lugar dele, foi interinamente Rui Machete. Depois, Mota Pinto morreu. E o Congresso do PSD, marcado para a Figueira da Foz, ficou, por assim dizer, sem dona. Que chefe iria produzir aquela desvairada congregação? O enérgico Salgueiro? O coleante Marcello? Pior ainda? Em S. Bento, o candidato berrava como um possesso. Numa tarde qualquer de Maio, recebi um recado para comparecer urgentemente no futuro «espaço Valbom», um prédio em carcaça com meia dúzia de quartos alcatifados. Lá dentro, rodeado por uma corte fúnebre, Soares tentava não aliviar a raiva, partindo cadeiras na cabeça dos dignitários. Logo que entrei mandou calar a canzoada. Precisava de me fazer uma pergunta, uma pergunta fatídica: «Quem é esse Cavaco?».
Pulidamente, inquiri a razão do interesse. A minha vida, oscilando entre a baixa literatura e um alto sentimento, não me permitia seguir com minúcia as peripécias da política partidária. Soares respondeu, atirando-me um jornal por cima da mesa. O jornal informava o público que o Prof. Cavaco Silva fora eleito presidente do PSD. Coube-me, pois, a honra de ser o primeiro a instruir o dr. Mário Soares sobre a natureza da criatura. Registo o profético sumo das minhas palavras: «Não se aproxime dele, não lhe fale, não lhe toque. Não se convença que negoceia com ele. Ele não gosta de negócios, só gosta de contas, e desconfia de si (para pôr as coisas com brandura). Demita-se imediatamente. Informe o país que se fartou das loucuras do PSD e que o PSD quer subverter a ordem e matar os portugueses à fome. Exija eleições. Mas não se meta com o homem».
O candidato sorriu com estes exageros. Pretendia que Eanes não dissolvesse a Assembleia da República e, depois de 15 de Julho, Eanes ficava constitucionalmente impedido de a dissolver. Cavaco («É Cavaco que ele se chama, não é?») percebia com certeza as óbvias vantagens de evitar o «eanismo» Ou não? Por cinco ou seis semanas, que diabo? Ou não? Asseverei-lhe que não, contemplando a capa dos «Pára-quedas e beijos»., de Erica de Jong, adquirido pouco antes numa tabacaria. Ele não se convenceu.
Quase no fim dos «Pára-quedas e beijos», o telejornal mostrou o dr. Mário Soares recebendo na sede do PS o Prof. Cavaco Silva. Os jantares de S. Bento foram definitivamente interrompidos e as conferências no «espaço Valbom» também. O Prof. Cavaco levou dez dias a desfazer o «Bloco Central» e o general Eanes mais cinco ou seis a desfazer a Assembleia. Marcaram-se eleições para Outubro e a Fundação Gulbenkian deu-me um subsídio para passar três meses em Oxford. O candidato sem dúvida ruminava vinganças em Nafarros.
Descansei. Mas, na véspera de me ir embora, através de uns «serviços» anónimos o dr. Mário Soares mandou-me de novo apresentar no «espaço Valbom», «espaço» esse em que por um triz não caí do quarto andar pelo buraco do elevador. Na sala para onde me levaram, algumas notabilidades do PS cochichavam em pequenos grupos. Escondi-me atrás de António Barreto e, com serenidade, esperei os acontecimentos. Passados dez minutos, o candidato, seguido pela sombra submissa do dr. Almeida Santos, abriu a porta e designando a assistência com um dedo irritado, anunciou: «Vocês são todos da minha comissão politica». Estabelecido isto e extintos os murmúrios de gozo, começou benevolentemente a expor os seus planos.
A essência desses planos era que ele tinha resolvido dedicar-se sem reservas a sua candidatura. Isto pareceu animar de sobremaneira um considerável número dos presentes. Houve mais murmúrios de gozo, sorrisos e meneios aprovadores. Por insondáveis caminhos, a salvação chegara. Chegara, todavia, sob a forma equívoca do dr. Almeida Santos. Como o candidato, se apressou a elucidar os hereges, cabia a essa formidável figura, e seu querido amigo, substituí-lo no partido e no governo, enquanto ele tratava de se alçar a Belém. A gente do PS, já obviamente informada desta extraordinária escolha, não exibiu surpresa. Reparei então na ausência gritante dos gémeos Dupont e Dupond, cujo nariz não se tornou a ver durante a campanha. E reparei também na aura de glória e modéstia que descera sobre o crânio pontiagudo do eleito e na solicitude com que o sindicalista Torres Couto lhe servia um copo de água. Foi um momento de grande emoção.
Almeida Santos bebeu um golo de água, aconchegou a sua fulgurante gravata ao peito e dirigiu-se gravemente aos «comissionados». Ele, Almeida Santos, aceitara sacrificar-se pelo «Mário» e pelo partido. Não ocultava, no entanto, o seu embaraço. Tomava a responsabilidade de conduzir o PS às eleições legislativas, mas, se as ganhasse, quem de facto as ganhava era o «Mário», ao passo que, se as perdesse, as perderia sozinho. Numa palavra, ele, ele próprio, perderia sempre. O tom em que revelou este doloroso dilema, subentendia uma sábia resignação à injustiça humana e o estóico desejo de ajudar «o Mário».
Considerando o episódio encerrado, «o Mário» mudou prestamente de assunto. As coisas estavam um bocado complicadas, admitiu. «Tinha-lhe morrido o Mota Pinto» e, agora, à Direita, aparecia o Freitas (em vez de um general) e «esse Cavaco», que apoiava o Freitas. Os comunistas, claro, não contavam. Por conseguinte, ele precisava do eleitorado do «centro». Ou seja, o PS precisava de atrair para uso posterior o eleitorado do «centro», com uma campanha moderada e um bom resultado nas legislativas. Quanto ao PSD, ele conhecia o peso: era quase tudo também gente do «centro», gente moderada, que detestava o CDS e o Freitas. Apesar de Cavaco, aliás uma aberração temporária, o PSD votaria nele. Em resumo, a soma era simples: 32 ou 33 por cento do PS mais 22 ou 23 por cento do PSD igual a 55 ou 56 por cento à primeira volta.
A «comissão», maravilhada com a subtileza do candidato e a luminosa argúcia dos seus cálculos, sobrou num silêncio reverente. António Barreto, gelado de espanto, examinava o infinito. O meu avião partia para Inglaterra dali a umas horas. Pus o braço no ar. O candidato resignou-se a ouvir as minhas desconcertadas opiniões. Ofereci duas. A de que, tirando talvez o dr. Rui Machete, não existiam PSD's, «moderados» ou «do centro»; e a de que o dr. Almeida Santos, sendo uma patente emanação do dr. Mário Soares, não podia nem ganhar nem perder eleições. Sobretudo, ao contrário do que ele supunha, não as podia perder. O candidato não se comoveu. Agarrou num molho de papelada, levantou-se e disse vagamente na minha direcção: «Isso é o que você pensa». Depois deste irrespondível argumento não valia a pena continuar o debate e a assembleia desfez-se. Despedi-me de António Barreto à porta do «espaço Valbom», com muita pena dele e ainda mais pena de mim. Mas, não me lembro porquê, à noite decidi telefonar ao dr. Mário Soares para repetir o sermão e acrescentar que o dr. Almeida Santos, sem desprimor, representava para a generalidade dos portugueses o pior do PS. O dr. Mário Soares bufava. «Vai ser um desastre», avisei-o. «Não se rale», respondeu ele quase a estoirar, «se for, a culpa é minha».
2. No domingo, 6 de Outubro de 1985,o PS foi reduzido a metade pelo PRD. Terça-feira, o meu avião aterrou em Lisboa por volta das quarto da tarde e, às cinco em ponto, entrei com malas e sacos de plástico, contendo garrafas, na sede do MASP. A reunião da «comissão política», convocada na véspera, destinava-se a discutir «a conjuntura». O candidato ficou assaz surpreendido quando me viu aparecer e houve uma pequena comoção na assistência, que aliviou o seu estado de profundo estupor. Sentei-me ao lado de Alfredo Barroso que me resumiu eloquentemente a situação, mostrando o branco do olho. Do outro lado da mesa, António Barreto riu-se por debaixo das barbas.
Em três meses e meio, a «comissão política» adquirira mais nove ou dez membros, entre os quais distintas inteligências como Manuel José Homem de Mello, Joaquim da Silva Pinto, Clara Junqueiro e «o nosso jovem», vulgo José Apolinário. A conversa consistia em uivos, lamúrias e frases protocolares de confiança. Pairava um ódio especial à «santinha da Ladeira», Manuela Eanes, e os espíritos sofisticados autorizavam-se algumas lucubrações sobre os propósitos dela e do marido. O candidato, de bochecha pendente, meditava ou berrava com os subordinados que entreabriam a porta, sussurrando coisas.
Quando chegou a minha vez, pretendeu saber a opinião fresca de um viajante. «A culpa é sua», declarei com a máxima humildade. Isto surpreendeu-o e fê-lo arrebitar a orelha. Para ele, a culpa era manifestamente de Almeida Santos. «O senhor é que me disse», insisti muito melífluo. «Não se lembra? O senhor disse: você não se rale, se for um desastre, a culpa é minha». Aqui o candidato percebeu o pendor geral da conversa e acabou com ela: «As culpas não interessam. Não interessam nada. Se quer dar a sua opinião, dê. Mas não se ponha com essa história das culpas».
Obedeci. Dali em diante, guardei as minhas opiniões para o Monte Carlo e para a Colombo, onde me consolava com vodka e com António Barreto (e, a seguir, com Alfredo Barroso e António-Pedro de Vasconcellos), enquanto as sondagens vagueavam entre os 8 e os 10 porcento. Introduziu-se, por essa altura, na cabeça do dr. Soares a extraordinária noção de que, estando os portugueses «zangados» com ele, o caso se resolvia se ele escrevesse aos portugueses uma carta simpática, aplicando-lhes metaforicamente umas palmadas nas costas. E aplicou-as num artigo ilegível de duas ou três páginas, que saiu em letra pequena num semanário sem leitores. Desde aí achou-se reconciliado com a nação e genuinamente não compreendia por que obscuras razões ela se obstinava a rejeitá-lo.
Com o aprazimento dos peritos e das notabilidades, mesmo depois de Zenha e Pintasilgo se candidatarem, não deixou de vigorar a ortodoxia do «centro». De acordo com a lunática lógica do candidato e dos seus amigos, a Esquerda votaria em Pintasilgo, a Direita votaria Freitas e o «centro» votaria Soares. Não ocorreu a ninguém que o «centro» talvez não existisse ou não excedesse os 8 a 10 por cento das sondagens.
Tratava-se apenas de persistir, de meter a «mensagem» a bem ou a mal no cérebro, excessivamente mole ou excessivamente duro, do país. Cada vez mais furioso, o candidato persistia. Os papéis e os copos de água voavam pelo MASP. Os berros (e agora os insultos) não paravam. E os apelos ao «centro» também não. O dr.. Mário Soares, em excursões pelas beiras, proclamava-se socialista democrático ou social-democrata ou as duas coisas ou as que fossem necessárias e até um belo dia na Madeira revelou ao povo atónito a sua irresistível propensão para o «centro democrático e social», propriamente dito. Era PS, era PSD, era CDS. Era tudo. Era ele. O incidente da Madeira encheu-me as medidas, de resto já a transbordar de vodka ordinário, ingerido em doses fenomenais, a título de refri- gerio, no Monte Carlo. Preparei-me para o pior e, a meio de uma comissão política, garanti-lhe a pés juntos que a Direita o execrava. Esta pura verdade de 1985 exaltou-o. Com sua célebre delicadeza retorquiu que, nunca tendo sido colonialista, nunca sentira qualquer necessidade de bajular os pretos. Aludia assim discretamente ao facto da minha passagem pela Aliança Democrática e pelo governo de Sá Carneiro e qualificava de «bajulação» a minha defesa de uma candidatura de Esquerda. Não neguei os factos: nem os crimes cometidos com a Aliança Democrática e Sá Carneiro, nem o crime de «bajular» a Esquerda desde o princípio. Notei, no entanto, que o meu saber era de experiência feito: não se aprendia no PS que o PSD e o CDS o execravam, em compensação na Aliança Democrática aprendia-se logo. Apopléctico e pouco presidencial, o candidato apertava a mesa com as mãos.
O ambiente não ficou particularmente recreativo. Vários patriotas juraram ao dr. Soares que a Direita o adorava e louvaram a sapiência da política do «centro». António Barreto e Jorge Sampaio, em termos civis, propuseram, como de costume, uma política de Esquerda. Clara Junqueiro falou do mar, da rosa dos ventos, do universo e de Portugal. Costumava falar muito destes assuntos. A sessão acabou com suavidade. Excepto no Monte Carlo, onde António Barreto substituiu o dr. Mário Soares como alvo das minhas gritarias. Não tinha evidentemente qualquer justificação para gritar a António Barreto. Mas tinha de gritar e não podia gritar ao outro. A vítima sofreu o alarido com paciência. Infelizmente, uma noite ao jantar confessou-me que o dr. Mário Soares lhe pedira para ele escrever um manifesto e cometeu o erro trágico de me pedir a mim que o ajudasse. Fui atrás dele pelo Saldanha fora, inquietando o público e a polícia. Que não escrevia manifestos para mentecaptos, nem para serem emendados por mentecaptos. Que só escrevia por dinheiro. Que, mesmo por dinheiro, não escrevia manifesto nenhum e mais aleivosias do género. Finalmente farto, Barreto enxotou-me e, largado como um cão no passeio do Monumental, extraí a consequência óbvia dos acontecimentos. Meti-me no carro e apontei o carro para Almansil, concelho de Loulé, Algarve.
Em casa do meu amigo João Paulo Amorim come-se indecentemente bem e bebe-se melhor. O MASP e o dr. Soares diluíram-se em robalos grelhados e costeletas de borrego. Ate o consumo de literatura se aperfeiçoou. A beatitude não andava longe, quando um sábado, o telefone tocou. Estendido no sofá em frente da lareira e abastecido de vodka russo, não me importei. O dr. Soares com certeza não queria nada de mim. Queria: queria-me em Nafarros, domingo (com António Barreto), para almoçar. Ameacei que não ia. João Paulo Amorim, delegado do MASP nas paragens, não consentiu. Marcou-se o avião, às 8 da manhã, e ele acompanhou-me ao sacrifício às 7, num buggy aberto, pelo frio desumano de Novembro, depois de uma noite em branco em que se discutiram as virtudes teologais e se esgotaram as reservas de vodka.
Em Nafarros, as minhas mãos tremiam e a colher batia com estrondo na tigela de caldo verde. António Barreto estava melancólico. O candidato exuberante e a dra. Maria de Jesus docemente sibilante. Após o repasto, os homens marcharam para o escritório do candidato e aí, entre fotografias autografadas dos donos deste mundo, o dr. Mário Soares declarou o manifesto de Barreto excelente e, ainda por cima, «muito bonito». Ele sempre pensara aquelas coisas e sempre defendera aquela política. Dito isto, combinaram-se alguns pormenores sem importância e distribuíram-se algumas tarefas. A dra. Maria de Jesus trouxe amavelmente café.
O manifesto de Barreto condenava as ambiguidades do «centrismo» (e, por implicação, o «Bloco Central») e definia a candidatura de Soares como a candidatura da Esquerda contra a Direita. Na comissão política de segunda-feira, as minhas mãos já não tremiam. Tremiam de fúria as do dr. Almeida Santos. O candidato, no entanto, indicou a assembleia que tudo aquilo era fruto das suas meditações. De velhas meditações, aliás. Por exemplo, há meses que ele sentia a urgência de um sério aggiornamento do PS. As notabilidades aclamaram a nobreza e a oportunidade da ideia. O dr. Almeida Santos emagreceu dez quilos. E, como uma rapsódia da dra. Clara Junqueiro sobre as navegações lusitanas, a comissão política, para efeitos práticos faleceu.
Durante o resto da campanha, nem uma nuvem perturbou o meu idílio com o dr. Mário Soares. Queríamos os dois a mesma coisa: ele queria ganhar e eu queria que ele ganhasse.
in K, 14 - Novembro de 1991
Faço aqui uma transcrição do artigo que narra o tempo do MASP (Movimento de Apoio Soares a Presidente). Dada a surpreendente ressureição do mesmo, agora MASP III, penso que a histórias se repetirão, agora em 2005. Uma das grandes diferenças é a ausência - entre muito outros.... - de António Barreto das suas tertúlias. E Soares, 20 anos volvidos, já não é "fixe", é apenas Super-Mário.
TEXTO de Vasco Pulido Valente
1. No princípio de Janeiro de 1985 e estávamos em pleno «Bloco Central», quando pedi ao dr. Mário Soares que me respondesse a um questionário académico sobre o papel do Primeiro-Ministro. Não lhe falava desde 1979. Ele não tinha apreciado a Aliança Democrática e proclamara, em círculos indiscretos, que me achava «telhudo». Para meu espanto, ele disse que sim e, no encontro, foi extravagantemente amável. À saída, chegou mesmo ao excesso e requinte de ir comigo ao elevador do 2° andar de S. Bento e de me oferecer os seus inestimáveis serviços. Estas vénias, eram tanto mais prodigiosas, quanto ele não ignorava que o «telhudo» escrevia semanalmente sobre ele no Diário de Notícias, coisas celeradas e pérfidas, com o objectivo confesso de o remover de Primeiro-Ministro.
Houve outros sinais: um sorriso cúmplice do dr. Almeida Santos que me inquietou; um beijinho público da dra. Maria de Jesus, que me sobressaltou; abraços efusivos de obscuros amigos da família, que me atrapalharam; a remessa de livros com efusivas dedicatórias; e meia dúzia de jantares sem objecto.
Admito que à época, sendo muito ténue a minha percepção da realidade exterior, não dei por eles. Ou, pelo menos, não lhes atribuí especial importância. Tirando o estrito e trôpego cumprimento das minhas obrigações na Universidade Católica e no ICS, passava os dias e as noites na cama a embeber o espírito em espíritos e a reler a obra completa de Ludlum.
Só quando António Barreto voltou de um retiro sabático, o caso se esclareceu. O dr. Mário Soares desejava que a minha ornamental pessoa apoiasse a sua candidatura à Presidência da Republica. António Barreto não forneceu pormenores sabre a natureza desse apoio e devo admitir que o assunto também não me interessou. A especialização em Ludlum não me parecia auspiciosa e achei genericamente que sair de casa, fosse para eleger o dr. Soares ou sr. Justerini Brooks, me fazia bem.
Os trabalhos começaram em Fevereiro ou Março em S. Bento, e consistiam num jantar hebdomadário do presumível candidato com Vítor Constâncio, com Jaime Gama, com António Barreto e comigo, a que intermitentemente assistia um indivíduo denominado Gomes Mota. Nunca percebi as funções desta extraordinária «comissão que, por motivos fáceis de apreciar, e apesar de toda a evidência em contrário, não existia. Vítor Constâncio e Jaime Gama ocupavam preâmbulo com hiperbólicos elogios ao «Mário». Constâncio declarava o ultimo discurso do «Mário» em Aljustrel «magnífico» e, saltando na cadeira, Jaime Gama declarava «magnifico» o ultimo discurso do «Mário» em Aljustrel. Ou Gama declarava «genial» a ultima entrevista do «Mário» e Constâncio ponderadamente explicava que ninguém podia deixar de compreender a «genialidade» da ultima entrevista do «Mário». O «Mário» ouvia estas inanidades com deleite, em parte por elas próprias, em parte porque visivelmente apreciava a competição das duas crianças pelo seu favor. O sr. Ministro dos Negócios Estrangeiros e o sr. Governador do Banco de Portugal, entretidos um com o outro, não se coibiam. Para nós, para mim e o António Barreto, eles eram o Dupont e o Dupond da lenda e o pretexto de grandes galhofas post-prandiais. Mas nem Dupont do banco, nem o Dupond do ministério se incomodavam com a situação. Em ambos luzia a astuciosa ideia de que em Belém, Soares não tencionava com certeza continuar secretário-geral do PS e ambos visivelmente imaginavam que o chefe os distinguia a bifes e batatas fritas com o secreto intuito de escolher um deles para lhe suceder.
Nunca houve uma conversa útil nesses jantares. Houve especulações ociosas sabre os planos do general Eanes, sabre os presumíveis candidatos da Direita (Firmino Miguel, Lemos Ferreira, Freitas) e sabre as mirabolantes intrigas do PSD. Soares contava firmemente com os votos do PSD. O Dupont e o Dupond concordavam e Gomes Mota sibilava fragmentos de frases subtis sabre a Esquerda. Outra escola de pensamento, representada por Barreto e por mim, exprimia algumas duvidas sabre o amor do PSD ao candidato, cepticismo que o candidato tolerava com dificuldade e por mero respeito pela liberdade de expressão. Tinha um acordo leonino com Mota Pinto, segundo o qual o PSD se comprometia a sustentar o «Bloco Central» até 1987 e não lhe embaraçar as ambições a Belém. Entretanto, vinham a Lisboa «especialistas» alemães e americanos oferecer o benefício da sua experiência. Apareciam com zelo e desapareciam com angústia. Ninguém sabia quem era a oposição. Ninguém sabia se Mota Pinto se aguentava na presidência do PSD. Ninguém sabia se Eanes, invocando eventuais desordens no «Bloco Central», inteiramente prováveis, não acabava por dissolver a Assembleia da Republica. Ninguém sabia nada sobre coisa nenhuma. E Soares menos do que todos.
De repente, em algumas semanas, caiu o tecto. Mota Pinto, humilhado num Conselho Nacional, abandonou o governo e, para o lugar dele, foi interinamente Rui Machete. Depois, Mota Pinto morreu. E o Congresso do PSD, marcado para a Figueira da Foz, ficou, por assim dizer, sem dona. Que chefe iria produzir aquela desvairada congregação? O enérgico Salgueiro? O coleante Marcello? Pior ainda? Em S. Bento, o candidato berrava como um possesso. Numa tarde qualquer de Maio, recebi um recado para comparecer urgentemente no futuro «espaço Valbom», um prédio em carcaça com meia dúzia de quartos alcatifados. Lá dentro, rodeado por uma corte fúnebre, Soares tentava não aliviar a raiva, partindo cadeiras na cabeça dos dignitários. Logo que entrei mandou calar a canzoada. Precisava de me fazer uma pergunta, uma pergunta fatídica: «Quem é esse Cavaco?».
Pulidamente, inquiri a razão do interesse. A minha vida, oscilando entre a baixa literatura e um alto sentimento, não me permitia seguir com minúcia as peripécias da política partidária. Soares respondeu, atirando-me um jornal por cima da mesa. O jornal informava o público que o Prof. Cavaco Silva fora eleito presidente do PSD. Coube-me, pois, a honra de ser o primeiro a instruir o dr. Mário Soares sobre a natureza da criatura. Registo o profético sumo das minhas palavras: «Não se aproxime dele, não lhe fale, não lhe toque. Não se convença que negoceia com ele. Ele não gosta de negócios, só gosta de contas, e desconfia de si (para pôr as coisas com brandura). Demita-se imediatamente. Informe o país que se fartou das loucuras do PSD e que o PSD quer subverter a ordem e matar os portugueses à fome. Exija eleições. Mas não se meta com o homem».
O candidato sorriu com estes exageros. Pretendia que Eanes não dissolvesse a Assembleia da República e, depois de 15 de Julho, Eanes ficava constitucionalmente impedido de a dissolver. Cavaco («É Cavaco que ele se chama, não é?») percebia com certeza as óbvias vantagens de evitar o «eanismo» Ou não? Por cinco ou seis semanas, que diabo? Ou não? Asseverei-lhe que não, contemplando a capa dos «Pára-quedas e beijos»., de Erica de Jong, adquirido pouco antes numa tabacaria. Ele não se convenceu.
Quase no fim dos «Pára-quedas e beijos», o telejornal mostrou o dr. Mário Soares recebendo na sede do PS o Prof. Cavaco Silva. Os jantares de S. Bento foram definitivamente interrompidos e as conferências no «espaço Valbom» também. O Prof. Cavaco levou dez dias a desfazer o «Bloco Central» e o general Eanes mais cinco ou seis a desfazer a Assembleia. Marcaram-se eleições para Outubro e a Fundação Gulbenkian deu-me um subsídio para passar três meses em Oxford. O candidato sem dúvida ruminava vinganças em Nafarros.
Descansei. Mas, na véspera de me ir embora, através de uns «serviços» anónimos o dr. Mário Soares mandou-me de novo apresentar no «espaço Valbom», «espaço» esse em que por um triz não caí do quarto andar pelo buraco do elevador. Na sala para onde me levaram, algumas notabilidades do PS cochichavam em pequenos grupos. Escondi-me atrás de António Barreto e, com serenidade, esperei os acontecimentos. Passados dez minutos, o candidato, seguido pela sombra submissa do dr. Almeida Santos, abriu a porta e designando a assistência com um dedo irritado, anunciou: «Vocês são todos da minha comissão politica». Estabelecido isto e extintos os murmúrios de gozo, começou benevolentemente a expor os seus planos.
A essência desses planos era que ele tinha resolvido dedicar-se sem reservas a sua candidatura. Isto pareceu animar de sobremaneira um considerável número dos presentes. Houve mais murmúrios de gozo, sorrisos e meneios aprovadores. Por insondáveis caminhos, a salvação chegara. Chegara, todavia, sob a forma equívoca do dr. Almeida Santos. Como o candidato, se apressou a elucidar os hereges, cabia a essa formidável figura, e seu querido amigo, substituí-lo no partido e no governo, enquanto ele tratava de se alçar a Belém. A gente do PS, já obviamente informada desta extraordinária escolha, não exibiu surpresa. Reparei então na ausência gritante dos gémeos Dupont e Dupond, cujo nariz não se tornou a ver durante a campanha. E reparei também na aura de glória e modéstia que descera sobre o crânio pontiagudo do eleito e na solicitude com que o sindicalista Torres Couto lhe servia um copo de água. Foi um momento de grande emoção.
Almeida Santos bebeu um golo de água, aconchegou a sua fulgurante gravata ao peito e dirigiu-se gravemente aos «comissionados». Ele, Almeida Santos, aceitara sacrificar-se pelo «Mário» e pelo partido. Não ocultava, no entanto, o seu embaraço. Tomava a responsabilidade de conduzir o PS às eleições legislativas, mas, se as ganhasse, quem de facto as ganhava era o «Mário», ao passo que, se as perdesse, as perderia sozinho. Numa palavra, ele, ele próprio, perderia sempre. O tom em que revelou este doloroso dilema, subentendia uma sábia resignação à injustiça humana e o estóico desejo de ajudar «o Mário».
Considerando o episódio encerrado, «o Mário» mudou prestamente de assunto. As coisas estavam um bocado complicadas, admitiu. «Tinha-lhe morrido o Mota Pinto» e, agora, à Direita, aparecia o Freitas (em vez de um general) e «esse Cavaco», que apoiava o Freitas. Os comunistas, claro, não contavam. Por conseguinte, ele precisava do eleitorado do «centro». Ou seja, o PS precisava de atrair para uso posterior o eleitorado do «centro», com uma campanha moderada e um bom resultado nas legislativas. Quanto ao PSD, ele conhecia o peso: era quase tudo também gente do «centro», gente moderada, que detestava o CDS e o Freitas. Apesar de Cavaco, aliás uma aberração temporária, o PSD votaria nele. Em resumo, a soma era simples: 32 ou 33 por cento do PS mais 22 ou 23 por cento do PSD igual a 55 ou 56 por cento à primeira volta.
A «comissão», maravilhada com a subtileza do candidato e a luminosa argúcia dos seus cálculos, sobrou num silêncio reverente. António Barreto, gelado de espanto, examinava o infinito. O meu avião partia para Inglaterra dali a umas horas. Pus o braço no ar. O candidato resignou-se a ouvir as minhas desconcertadas opiniões. Ofereci duas. A de que, tirando talvez o dr. Rui Machete, não existiam PSD's, «moderados» ou «do centro»; e a de que o dr. Almeida Santos, sendo uma patente emanação do dr. Mário Soares, não podia nem ganhar nem perder eleições. Sobretudo, ao contrário do que ele supunha, não as podia perder. O candidato não se comoveu. Agarrou num molho de papelada, levantou-se e disse vagamente na minha direcção: «Isso é o que você pensa». Depois deste irrespondível argumento não valia a pena continuar o debate e a assembleia desfez-se. Despedi-me de António Barreto à porta do «espaço Valbom», com muita pena dele e ainda mais pena de mim. Mas, não me lembro porquê, à noite decidi telefonar ao dr. Mário Soares para repetir o sermão e acrescentar que o dr. Almeida Santos, sem desprimor, representava para a generalidade dos portugueses o pior do PS. O dr. Mário Soares bufava. «Vai ser um desastre», avisei-o. «Não se rale», respondeu ele quase a estoirar, «se for, a culpa é minha».
2. No domingo, 6 de Outubro de 1985,o PS foi reduzido a metade pelo PRD. Terça-feira, o meu avião aterrou em Lisboa por volta das quarto da tarde e, às cinco em ponto, entrei com malas e sacos de plástico, contendo garrafas, na sede do MASP. A reunião da «comissão política», convocada na véspera, destinava-se a discutir «a conjuntura». O candidato ficou assaz surpreendido quando me viu aparecer e houve uma pequena comoção na assistência, que aliviou o seu estado de profundo estupor. Sentei-me ao lado de Alfredo Barroso que me resumiu eloquentemente a situação, mostrando o branco do olho. Do outro lado da mesa, António Barreto riu-se por debaixo das barbas.
Em três meses e meio, a «comissão política» adquirira mais nove ou dez membros, entre os quais distintas inteligências como Manuel José Homem de Mello, Joaquim da Silva Pinto, Clara Junqueiro e «o nosso jovem», vulgo José Apolinário. A conversa consistia em uivos, lamúrias e frases protocolares de confiança. Pairava um ódio especial à «santinha da Ladeira», Manuela Eanes, e os espíritos sofisticados autorizavam-se algumas lucubrações sobre os propósitos dela e do marido. O candidato, de bochecha pendente, meditava ou berrava com os subordinados que entreabriam a porta, sussurrando coisas.
Quando chegou a minha vez, pretendeu saber a opinião fresca de um viajante. «A culpa é sua», declarei com a máxima humildade. Isto surpreendeu-o e fê-lo arrebitar a orelha. Para ele, a culpa era manifestamente de Almeida Santos. «O senhor é que me disse», insisti muito melífluo. «Não se lembra? O senhor disse: você não se rale, se for um desastre, a culpa é minha». Aqui o candidato percebeu o pendor geral da conversa e acabou com ela: «As culpas não interessam. Não interessam nada. Se quer dar a sua opinião, dê. Mas não se ponha com essa história das culpas».
Obedeci. Dali em diante, guardei as minhas opiniões para o Monte Carlo e para a Colombo, onde me consolava com vodka e com António Barreto (e, a seguir, com Alfredo Barroso e António-Pedro de Vasconcellos), enquanto as sondagens vagueavam entre os 8 e os 10 porcento. Introduziu-se, por essa altura, na cabeça do dr. Soares a extraordinária noção de que, estando os portugueses «zangados» com ele, o caso se resolvia se ele escrevesse aos portugueses uma carta simpática, aplicando-lhes metaforicamente umas palmadas nas costas. E aplicou-as num artigo ilegível de duas ou três páginas, que saiu em letra pequena num semanário sem leitores. Desde aí achou-se reconciliado com a nação e genuinamente não compreendia por que obscuras razões ela se obstinava a rejeitá-lo.
Com o aprazimento dos peritos e das notabilidades, mesmo depois de Zenha e Pintasilgo se candidatarem, não deixou de vigorar a ortodoxia do «centro». De acordo com a lunática lógica do candidato e dos seus amigos, a Esquerda votaria em Pintasilgo, a Direita votaria Freitas e o «centro» votaria Soares. Não ocorreu a ninguém que o «centro» talvez não existisse ou não excedesse os 8 a 10 por cento das sondagens.
Tratava-se apenas de persistir, de meter a «mensagem» a bem ou a mal no cérebro, excessivamente mole ou excessivamente duro, do país. Cada vez mais furioso, o candidato persistia. Os papéis e os copos de água voavam pelo MASP. Os berros (e agora os insultos) não paravam. E os apelos ao «centro» também não. O dr.. Mário Soares, em excursões pelas beiras, proclamava-se socialista democrático ou social-democrata ou as duas coisas ou as que fossem necessárias e até um belo dia na Madeira revelou ao povo atónito a sua irresistível propensão para o «centro democrático e social», propriamente dito. Era PS, era PSD, era CDS. Era tudo. Era ele. O incidente da Madeira encheu-me as medidas, de resto já a transbordar de vodka ordinário, ingerido em doses fenomenais, a título de refri- gerio, no Monte Carlo. Preparei-me para o pior e, a meio de uma comissão política, garanti-lhe a pés juntos que a Direita o execrava. Esta pura verdade de 1985 exaltou-o. Com sua célebre delicadeza retorquiu que, nunca tendo sido colonialista, nunca sentira qualquer necessidade de bajular os pretos. Aludia assim discretamente ao facto da minha passagem pela Aliança Democrática e pelo governo de Sá Carneiro e qualificava de «bajulação» a minha defesa de uma candidatura de Esquerda. Não neguei os factos: nem os crimes cometidos com a Aliança Democrática e Sá Carneiro, nem o crime de «bajular» a Esquerda desde o princípio. Notei, no entanto, que o meu saber era de experiência feito: não se aprendia no PS que o PSD e o CDS o execravam, em compensação na Aliança Democrática aprendia-se logo. Apopléctico e pouco presidencial, o candidato apertava a mesa com as mãos.
O ambiente não ficou particularmente recreativo. Vários patriotas juraram ao dr. Soares que a Direita o adorava e louvaram a sapiência da política do «centro». António Barreto e Jorge Sampaio, em termos civis, propuseram, como de costume, uma política de Esquerda. Clara Junqueiro falou do mar, da rosa dos ventos, do universo e de Portugal. Costumava falar muito destes assuntos. A sessão acabou com suavidade. Excepto no Monte Carlo, onde António Barreto substituiu o dr. Mário Soares como alvo das minhas gritarias. Não tinha evidentemente qualquer justificação para gritar a António Barreto. Mas tinha de gritar e não podia gritar ao outro. A vítima sofreu o alarido com paciência. Infelizmente, uma noite ao jantar confessou-me que o dr. Mário Soares lhe pedira para ele escrever um manifesto e cometeu o erro trágico de me pedir a mim que o ajudasse. Fui atrás dele pelo Saldanha fora, inquietando o público e a polícia. Que não escrevia manifestos para mentecaptos, nem para serem emendados por mentecaptos. Que só escrevia por dinheiro. Que, mesmo por dinheiro, não escrevia manifesto nenhum e mais aleivosias do género. Finalmente farto, Barreto enxotou-me e, largado como um cão no passeio do Monumental, extraí a consequência óbvia dos acontecimentos. Meti-me no carro e apontei o carro para Almansil, concelho de Loulé, Algarve.
Em casa do meu amigo João Paulo Amorim come-se indecentemente bem e bebe-se melhor. O MASP e o dr. Soares diluíram-se em robalos grelhados e costeletas de borrego. Ate o consumo de literatura se aperfeiçoou. A beatitude não andava longe, quando um sábado, o telefone tocou. Estendido no sofá em frente da lareira e abastecido de vodka russo, não me importei. O dr. Soares com certeza não queria nada de mim. Queria: queria-me em Nafarros, domingo (com António Barreto), para almoçar. Ameacei que não ia. João Paulo Amorim, delegado do MASP nas paragens, não consentiu. Marcou-se o avião, às 8 da manhã, e ele acompanhou-me ao sacrifício às 7, num buggy aberto, pelo frio desumano de Novembro, depois de uma noite em branco em que se discutiram as virtudes teologais e se esgotaram as reservas de vodka.
Em Nafarros, as minhas mãos tremiam e a colher batia com estrondo na tigela de caldo verde. António Barreto estava melancólico. O candidato exuberante e a dra. Maria de Jesus docemente sibilante. Após o repasto, os homens marcharam para o escritório do candidato e aí, entre fotografias autografadas dos donos deste mundo, o dr. Mário Soares declarou o manifesto de Barreto excelente e, ainda por cima, «muito bonito». Ele sempre pensara aquelas coisas e sempre defendera aquela política. Dito isto, combinaram-se alguns pormenores sem importância e distribuíram-se algumas tarefas. A dra. Maria de Jesus trouxe amavelmente café.
O manifesto de Barreto condenava as ambiguidades do «centrismo» (e, por implicação, o «Bloco Central») e definia a candidatura de Soares como a candidatura da Esquerda contra a Direita. Na comissão política de segunda-feira, as minhas mãos já não tremiam. Tremiam de fúria as do dr. Almeida Santos. O candidato, no entanto, indicou a assembleia que tudo aquilo era fruto das suas meditações. De velhas meditações, aliás. Por exemplo, há meses que ele sentia a urgência de um sério aggiornamento do PS. As notabilidades aclamaram a nobreza e a oportunidade da ideia. O dr. Almeida Santos emagreceu dez quilos. E, como uma rapsódia da dra. Clara Junqueiro sobre as navegações lusitanas, a comissão política, para efeitos práticos faleceu.
Durante o resto da campanha, nem uma nuvem perturbou o meu idílio com o dr. Mário Soares. Queríamos os dois a mesma coisa: ele queria ganhar e eu queria que ele ganhasse.
in K, 14 - Novembro de 1991
11.25.2005
25 de Novembro 30 anos depois
O segundo 25 de Abril
(image placeholder)Faz hoje 30 anos, a Esquerda revolucionária tentou tomar o poder, em Portugal.
A vitória das forças moderadas permitiu a institucionalização da democracia Trinta anos depois dos acontecimentos do 25 de Novembro de 1975, quando o país esteve a um pequeno passo da guerra civil, é mais fácil reter apenas o essencial, desligado dos inúmeros episódios - trágicos, uns; bizarros e anedóticos, outros - que compõem a história completa de um período louco e perigoso da vida portuguesa recente. A institucionalização da democracia chegou a seguir.
Ao longo de todo o Verão e começo do Outono de 1975, confrontaram-se, basicamente, duas concepções de modelo de sociedade para Portugal. Uma, de matriz europeia, sustentada numa democracia representativa; e uma segunda, importada das experiências comunistas na então União Soviética e em Cuba, por exemplo, que tinha no PCP o seu maior difusor.
Os militares, no poder desde o 25 de Abril de 1974, dividiram-se entre os dois apelos e tornaram-se nos principais protagonistas de uma disputa que terminou com a vitória das forças moderadas, precisamente no dia 25 de Novembro de 1975, quando uma revolta iniciada por tropas pára-quedistas, que contariam, numa segunda fase, com o apoio de unidades do Exército e da Armada, foi sustida e derrotada.
Na madrugada de 25, forças pára-quedistas assaltaram e tomaram o Comando da Base Aérea nº 1, em Monsanto, e as bases aéreas nº s 3, 5 e 6, respectivamente, em Tancos, Monte Real e Montijo. Na expectativa, mas fornecendo sinais de apoio aos revoltosos, ficaram RALIS, EPAM e Regimento da Polícia Militar, unidades sediadas em Lisboa.
O presidente da República (PR) e, simultaneamente, chefe do Estado-Maior-General das Forças Armadas, general Costa Gomes, tomou o comando das operações, recorrendo às poucas forças verdadeiramente operacionais de que o país dispunha, ou seja, o Regimento de Comandos da Amadora, comandado pelo então coronel Jaime Neves; a Força Aérea, que deslocou para a Base de Cortegaça os principais meios (aviões), a Região Militar do Norte, comandada pelo então brigadeiro Pires Veloso, que enviou para Lisboa três companhias.Os focos de resistência foram sendo neutralizados ao longo do dia sem grande oposição dos revoltosos, verificando-se um confronto armado apenas na calçada de acesso ao Regimento de Polícia Militar, em Lisboa, em que morreram dois militares do Regimento de Comandos - o tenente José Coimbra e o aspirante José Ascenso. Testemunhos da época garantem que foram baleados pelas costas por civis armados. Na troca de tiros, foi também atingido mortalmente o furriel Joaquim Pires.
Numa mensagem ao país, feita pelo telefone e transmitida através dos estúdios do Porto da Emissora Nacional, cerca das 22 horas, o presidente da República decretou estado de sítio parcial na região de Lisboa, uma medida que restringia o direito de liberdade de reunião. Os bancos encerraram e os jornais de Lisboa não se publicaram. No resto do país, a situação foi sempre menos tensa.
A emissão da RTP passou igualmente a ser assegurada do Porto, depois de uma tentativa de um dos revoltosos - o capitão Duran Clemente - em falar ao país, a pedir apoio para os revoltosos. O Monte da Virgem pôs então no ar o único filme de que dispunha "O bobo da corte", de Danny Kaye.
Jornal de Notícias
11.24.2005
Texto muito interessante retirado de um artigo de opinião intitulado " A arrogância culural" do economista Victor Bento (Diário Econímico, 18 de Novembro de 2005).
”Eles abafam piedosamente o sorriso ao falarem de cientistas que nunca leram uma obra relevante da literatura inglesa. Descontam-nos como especialistas ignorantes. Contudo, a sua própria ignorância e a sua própria especialização são alarmantes. Por diversas vezes tenho estado presente em encontros de pessoas que, pelos padrões da cultura tradicional, são considerados muito cultos e que, com considerável prazer, têm expressado a sua incredulidade pela ignorância dos cientistas. Uma ou outra vez fui provocado e perguntei à minha companhia quantos deles conseguem descrever a Segunda Lei da Termodinâmica. A resposta foi fria e foi também negativa. Todavia, eu perguntei algo que pode ser o equivalente científico de: ‘Já leu uma obra de Shakespeare?’”Charles Snow, ”The Two Cultures”
”Eles abafam piedosamente o sorriso ao falarem de cientistas que nunca leram uma obra relevante da literatura inglesa. Descontam-nos como especialistas ignorantes. Contudo, a sua própria ignorância e a sua própria especialização são alarmantes. Por diversas vezes tenho estado presente em encontros de pessoas que, pelos padrões da cultura tradicional, são considerados muito cultos e que, com considerável prazer, têm expressado a sua incredulidade pela ignorância dos cientistas. Uma ou outra vez fui provocado e perguntei à minha companhia quantos deles conseguem descrever a Segunda Lei da Termodinâmica. A resposta foi fria e foi também negativa. Todavia, eu perguntei algo que pode ser o equivalente científico de: ‘Já leu uma obra de Shakespeare?’”Charles Snow, ”The Two Cultures”
CIA passa férias nos Açores
Na última semana tem sido considerado um tema quente os voos de aviões da CIA em Portugal e noutros países da Europa, bem como a pretensa presença de aviões da CIA na base das Lajes nos Açores.
A minha maior surpresa não é a presença de aviões da CIA na base das lajes, ainda por provar, mas o facto de num blogue terem sido publicadas fotografias de aviões (diga-se indiferenciáveis de quaisquer outros aviões) e isso ter sido notícia em jornais e televisões
Mais surpreendente ainda, é Freitas do Amaral dar-se ao trabalho de desmentir repetidamente esta notícia. Nunca se deve enganar os Portugueses.
Que a CIA, e entre outros a extinta KGB, sempre circularam nos mais variados países é algo de incontornável e que todos sabemos. Não nos esqueçamos que as duas organizações supracitadas já “participaram” em revoluções, contra-revoluções e já “apoiaram” candidatos à presidência da República. Em Portugal também! Qual é então a novidade? Apesar de quererem fazer parecer o contrário, a nossa realidade não é tão animada como nos livros de John Le Carré.
Espero que apesar das semelhanças, Freitas do Amaral não queira, como Veiga Simão, divulgar listas de agentes secretos...
Comentário a artigo no Expresso online publicado em
http://online.expresso.clix.pt/1pagina/artigo.asp?id=24755376 que se transcreve
“Fotografias de aeronaves que, alegadamente ao serviço da CIA, utilizaram aeroportos portugueses em voos secretos depois da posse do Governo são hoje publicadas. As imagens, tiradas por observadores e publicadas num blogue, surgem uma semana depois do ministro dos Negócios Estrangeiros, Freitas do Amaral, ter negado essa prática.
Uma das fotografias, publicadas na edição de hoje da revista «Focus», data de 15 de Maio e foi tirada no aeródromo de Tires, Cascais, e mostra um Gulfstream IV, com a matrícula N227SV. Noutra imagem, alegadamente datada de final de Março e captada no aeroporto das Lajes (ilha açoriam coona da Terceira), aparece um C-130, com a matrícula N2189M.
Ainda em Março, no dia 17, a revista acrescenta que «um turbo-hélice de fabrico espanhol», um CASA CN235 com a matrícula N187D, fez escala na ilha de Santa Maria e no dia seguinte «uma aeronave idêntica, mas de matrícula N219D» aterrou na ilha Terceira, tratando-se em ambos os casos também de aparelhos alegadamente ao serviço da CIA.
As notícias sobre voos secretos da CIA em Portugal mereceu do ministro da Defesa, Luís Amado, a afirmação de que não dispunha de informações que as sustentassem, mas Freitas do Amaral afirmou que «desde 12 de Março não houve qualquer voo desse tipo sobre território português».
Sublinhando que só pode falar pelo actual Governo, Freitas do Amaral garantiu em 17 de Novembro que, desde que o executivo tomou posse, «não houve pedidos para aviões [da CIA] sobrevoarem» território português e que «não há qualquer elemento» que aponte para que «tenha havido qualquer voo não comunicado ou não autorizado».
Os voos serviriam para transportar suspeitos de terrorismo para prisões cuja localização é ainda desconhecida.”
A minha maior surpresa não é a presença de aviões da CIA na base das lajes, ainda por provar, mas o facto de num blogue terem sido publicadas fotografias de aviões (diga-se indiferenciáveis de quaisquer outros aviões) e isso ter sido notícia em jornais e televisões
Mais surpreendente ainda, é Freitas do Amaral dar-se ao trabalho de desmentir repetidamente esta notícia. Nunca se deve enganar os Portugueses.
Que a CIA, e entre outros a extinta KGB, sempre circularam nos mais variados países é algo de incontornável e que todos sabemos. Não nos esqueçamos que as duas organizações supracitadas já “participaram” em revoluções, contra-revoluções e já “apoiaram” candidatos à presidência da República. Em Portugal também! Qual é então a novidade? Apesar de quererem fazer parecer o contrário, a nossa realidade não é tão animada como nos livros de John Le Carré.
Espero que apesar das semelhanças, Freitas do Amaral não queira, como Veiga Simão, divulgar listas de agentes secretos...
Comentário a artigo no Expresso online publicado em
http://online.expresso.clix.pt/1pagina/artigo.asp?id=24755376 que se transcreve
“Fotografias de aeronaves que, alegadamente ao serviço da CIA, utilizaram aeroportos portugueses em voos secretos depois da posse do Governo são hoje publicadas. As imagens, tiradas por observadores e publicadas num blogue, surgem uma semana depois do ministro dos Negócios Estrangeiros, Freitas do Amaral, ter negado essa prática.
Uma das fotografias, publicadas na edição de hoje da revista «Focus», data de 15 de Maio e foi tirada no aeródromo de Tires, Cascais, e mostra um Gulfstream IV, com a matrícula N227SV. Noutra imagem, alegadamente datada de final de Março e captada no aeroporto das Lajes (ilha açoriam coona da Terceira), aparece um C-130, com a matrícula N2189M.
Ainda em Março, no dia 17, a revista acrescenta que «um turbo-hélice de fabrico espanhol», um CASA CN235 com a matrícula N187D, fez escala na ilha de Santa Maria e no dia seguinte «uma aeronave idêntica, mas de matrícula N219D» aterrou na ilha Terceira, tratando-se em ambos os casos também de aparelhos alegadamente ao serviço da CIA.
As notícias sobre voos secretos da CIA em Portugal mereceu do ministro da Defesa, Luís Amado, a afirmação de que não dispunha de informações que as sustentassem, mas Freitas do Amaral afirmou que «desde 12 de Março não houve qualquer voo desse tipo sobre território português».
Sublinhando que só pode falar pelo actual Governo, Freitas do Amaral garantiu em 17 de Novembro que, desde que o executivo tomou posse, «não houve pedidos para aviões [da CIA] sobrevoarem» território português e que «não há qualquer elemento» que aponte para que «tenha havido qualquer voo não comunicado ou não autorizado».
Os voos serviriam para transportar suspeitos de terrorismo para prisões cuja localização é ainda desconhecida.”
11.21.2005
TAP de vento em Popa
As notícias relativas ao crescimento da TAP são a demonstração plena que o dinheiro do Estado pode ser muito bem gasto. De facto, nunca poderemos chorar o ordenado milionário do gestor da TAP porque, graças a este gestor, a Nossa companhia aérea é uma empresa próspera. Longe vão os tempos em que “procurávamos” entre a SwissAir e afins.
Esta mensagem é dedicada aos invejosos deste País que choram sempre os ordenados dos outros. O problema não são os ordenados. O problema é a competência ou a falta dela.
http://online.expresso.clix.pt/1pagina/artigo.asp?id=24755332
Esta mensagem é dedicada aos invejosos deste País que choram sempre os ordenados dos outros. O problema não são os ordenados. O problema é a competência ou a falta dela.
http://online.expresso.clix.pt/1pagina/artigo.asp?id=24755332
11.17.2005
Plano Tecnológico à deriva
Terá o afamado plano tecnológico sucumbido?
O plano tecnológico está descoordenado- leia-se o responsável pelo projecto pediu a demissão.
Tendo-se sido uma prioridade durante a campanha e apaniguado por todos, foi apresentado como o choque que faltava a Portugal. Nestes meses houve no entanto, indefinição quanto às medidas prioritárias a incluir no referido Plano que levaram a múltiplos atrasos.
Na sequência disso o responsável pela Unidade de Coordenação do Plano Tecnológico apresentou a sua demissão.
José Tavares, o coordenador da Unidade do Plano, não gostou dos atrasos nem da maneira como o processo estava a ser conduzido pelo ministro Mariano Gago. Leia-se, o coordenador da Unidade não deveria ser do técnico, nem deveria fazer parte do grupo de amigos/fãs/dependentes que obedecem cegamente ao senhor ministro.
A apresentação do Plano deveria ter ocorrido no final do passado mês de Outubro. Leia-se: os prazos para os Universitários nunca foram importantes.
O plano tecnológico está descoordenado- leia-se o responsável pelo projecto pediu a demissão.
Tendo-se sido uma prioridade durante a campanha e apaniguado por todos, foi apresentado como o choque que faltava a Portugal. Nestes meses houve no entanto, indefinição quanto às medidas prioritárias a incluir no referido Plano que levaram a múltiplos atrasos.
Na sequência disso o responsável pela Unidade de Coordenação do Plano Tecnológico apresentou a sua demissão.
José Tavares, o coordenador da Unidade do Plano, não gostou dos atrasos nem da maneira como o processo estava a ser conduzido pelo ministro Mariano Gago. Leia-se, o coordenador da Unidade não deveria ser do técnico, nem deveria fazer parte do grupo de amigos/fãs/dependentes que obedecem cegamente ao senhor ministro.
A apresentação do Plano deveria ter ocorrido no final do passado mês de Outubro. Leia-se: os prazos para os Universitários nunca foram importantes.
O Portugal que merecemos?
Estado das Coisas III
Sensivelmente dois meses depois do regresso da Presidente da Câmara de Felgueiras, as notícias em torno do processo de Fátima Felgueiras sucedem-se, atropelando-se catadupa. Não bastavam as divulgações do Público, surge agora, -e não estou a opinar à certa da inocência da marcação da audiência por parte da bancada do PSD-, esta notícia no Diário de Notícias, demonstrando que seria melhor que a Fátima tivesse continuado no Brasil. Todos teriam estado muito mais descansados e o Procurador, os sub-procuradores e afins, bem como a polícia judiciária e o próprio PS, certamente, agradeceriam. A história recente demonstrou que por parte da bancada do PS não existe qualquer tipo de preocupação pela separação dos poderes!
Caso Fátima Felgueiras PS inviabiliza audição na AR
O PS, alegando a necessidade de separação de poderes, inviabilizou ontem a audição parlamentar do director da PJ e dos presidentes dos conselhos superiores de magistratura e Ministério Público sobre a fuga de Fátima Felgueiras para o Brasil e o seu regresso a Portugal. A audição parlamentar tinha sido requerida, na terça-feira, pelo PSD.
Caso Fátima Felgueiras PS inviabiliza audição na AR
O PS, alegando a necessidade de separação de poderes, inviabilizou ontem a audição parlamentar do director da PJ e dos presidentes dos conselhos superiores de magistratura e Ministério Público sobre a fuga de Fátima Felgueiras para o Brasil e o seu regresso a Portugal. A audição parlamentar tinha sido requerida, na terça-feira, pelo PSD.
http://dn.sapo.pt/2005/11/17/opiniao/caso_fatima_felgueiras_inviabiliza_a.html
11.15.2005
Agora é a minha vez: Basta!
Esta campanha está ser um desilusão. Pensava eu que tendo candidatos intelectualmente tão elevados poderíamos ter uma discussão interessante e construtiva. Mas estou farta de ouvir dizer sempre o mesmo. Por culpa dos jornalistas? Não só.
O Dr. Mário Soares, em vez de insultar e provocar o(s) adversário(s), qual camarada Francisco Louçã, deveria também falar sobre os problemas sociais e sobre todos os outros, que diz saber, nos afligem.
Escusa de reportar sempre ao tempo antes do 25 de Abril, porque todos sabemos que o fim do estado-novo não se deve a si. A si devemos-lhe o facto de não termos caído numa outra ditadura, a da esquerda, no verão quente de 1975. Não temos dúvida que teve a cabeça a prémio. Tem todo o mérito, sim senhor. Esse mesmo esforço reconheci-o quanto, em 1986, se candidatou e teve então o meu apoio.
Só não entendo porque se alia, agora, com aqueles contra quem lutou! Não foi o Senhor que meteu o socialismo na gaveta?
É agora a minha vez de gritar BASTA senhor Mário Soares!
E à laia de conselho, mude o tom do seu não-discurso pois a história ainda vai perder o respeito por si.
11.11.2005
Jogos e Partidas
Temos e, provavelmente teremos, nesta pré-campanha eleitoral mais uma demonstração gritante do mau jornalismo que se faz em Portugal. Não é de agora, mas tem vindo a piorar, claramente.
As situações, não são discutidas na sua essência e assistimos a um espectáculo continuadamente degradante, na procura do escândalo, do sangue, qual drama da vida real da série de uma televisão de gostos duvidosos.
Um dos candidatos, e logo quem!, percebeu que consegue desviar as atenções e centralizá-las na sua pessoan através do que diz e do que insulta.
Desesperadamente, os jornalistas, buscam o drama como se disso dependesse alguma coisa relevante. Nesta campanha, não querem informar dos Portugueses!
11.09.2005
Importa-se de Repetir????
Mário Soares, o homem que esteve à frente dos governos quando em Portugal se passava uma crise social e económica gravíssimas, tendo o próprio sido vítima na, também por isso, célebre Marinha Grande acha-se com a superior capacidade de ser ouvido. Por momentos sinto-me transportado no tempo! A memória trouxe-me as terças-feiras (penso que era às terças) das conversas em família com Marcelo Caetano, numa televisão que era a preto e branco, que acabava as emissões pouco tempo depois com o hino nacional. Será que é assim que Mário Soares se vai querer fazer ouvir??? Por outro lado, comparar a situação portuguesa com a francesa, quanto ao papel do Presidente da República, só demonstra ignorância. Eu não sou político mas o sistema em França é Presidencialista, não é?
"Soares diz que como PR poderia evitar crise como em FrançaO candidato presidencial Mário Soares afirmou esta terça-feira que como Presidente da República, estará em «melhor posição» do que qualquer outro candidato para evitar em Portugal uma situação semelhante à que se vive em França.«Sinceramente, acho que sim», disse Mário Soares em Braga, em resposta a uma pergunta dos jornalistas, frisando que a situação de violência urbana que se vive actualmente em França «radica na existência de guetos de imigrantes e de exclusão social».O candidato falava no final de uma visita a uma empresa de Braga, cuja excelência enalteceu como «exemplo a seguir por todos aqueles, sobretudo os jovens, que aspiram a criar empresas».Embora sem se referir expressamente a Cavaco Silva, Mário Soares disse que, para se ser um bom Presidente da República «é necessário ser capaz de perceber o que se passa no mundo, sobretudo nos países mais próximos, como os da União Europeia».Anteriormente e durante um almoço de apoiantes e dirigentes da sua estrutura distrital de campanha, Mário Soares dissera que os violentos acontecimentos que têm abalado a França demonstram que «o país não necessita de ter um técnico de finanças na Presidência».«Não é através do controle do défice, embora isso seja importante, que se combatem os problemas sociais», afirmou, salientando que, para controlar as finanças estão lá os respectivos ministros.Acrescentou que em situações de crise como a francesa, «o país precisa de alguém que saiba compreender os factos e as suas causas, agindo em consequência e fazendo-se ouvir pelas pessoas».
http://diariodigital.sapo.pt/news.asp?section_id=12&id_news=200573
Diário Digital / Lusa "
"Soares diz que como PR poderia evitar crise como em FrançaO candidato presidencial Mário Soares afirmou esta terça-feira que como Presidente da República, estará em «melhor posição» do que qualquer outro candidato para evitar em Portugal uma situação semelhante à que se vive em França.«Sinceramente, acho que sim», disse Mário Soares em Braga, em resposta a uma pergunta dos jornalistas, frisando que a situação de violência urbana que se vive actualmente em França «radica na existência de guetos de imigrantes e de exclusão social».O candidato falava no final de uma visita a uma empresa de Braga, cuja excelência enalteceu como «exemplo a seguir por todos aqueles, sobretudo os jovens, que aspiram a criar empresas».Embora sem se referir expressamente a Cavaco Silva, Mário Soares disse que, para se ser um bom Presidente da República «é necessário ser capaz de perceber o que se passa no mundo, sobretudo nos países mais próximos, como os da União Europeia».Anteriormente e durante um almoço de apoiantes e dirigentes da sua estrutura distrital de campanha, Mário Soares dissera que os violentos acontecimentos que têm abalado a França demonstram que «o país não necessita de ter um técnico de finanças na Presidência».«Não é através do controle do défice, embora isso seja importante, que se combatem os problemas sociais», afirmou, salientando que, para controlar as finanças estão lá os respectivos ministros.Acrescentou que em situações de crise como a francesa, «o país precisa de alguém que saiba compreender os factos e as suas causas, agindo em consequência e fazendo-se ouvir pelas pessoas».
http://diariodigital.sapo.pt/news.asp?section_id=12&id_news=200573
Diário Digital / Lusa "
11.08.2005
Torre à vista!!!
O Faroleiro, tanto quanto eu sei um blogger anónimo, lançou um novo blog com o intuito de fazer uma resenha das notícias relacionadas com as eleições presidenciais.
Não me parece que a imparcialidade seja absoluta mas é, sem dúvida, uma resposta com nível, sem insultos, a outro Blog, o Super Mário da Nintendo, já aqui referenciado.
Sem patrocínios nem paternalismos http://torredavigia.blogspot.com/ !
Candeia que vai à frente alumia duas vezes.
11.07.2005
Jogo de Xadrez
11.04.2005
RENOVAR
"Recentemente, foi lançada a nova campanha de publicidade da Renova, intitulada “Amor Causa”, um projecto artístico encomendado ao fotógrafo François Rousseau em que se pretende ilustrar algumas das ideias mais marcantes da história da humanidade.
Realizada em inícios de 2005 (Março – Abril), a maior favela do Rio de Janeiro, a Rocinha, foi o lugar onde se produziram as fotos desta campanha, prolongando-se a primeira fase da campanha publicitária até ao final do ano.
Outdoors e imprensa são os suportes seleccionados, embora, em França, as imagens desta campanha só vão chegar à imprensa, uma vez que a publicidade exterior foi proibida pela entidade reguladora francesa, que entendeu que a religião era o assunto da campanha."
www.aje.pt/dh/noticias.asp+Amor+Causa+Renova&hl=pt-PT
11.02.2005
Aonde está a verdade????
Ainda estou a digerir os vários artigos do público de ontem. Como é possível tanta trapalhada e tanta conivência consentida. Consentida pelos vários poderes institucionais- o político e o judicial. Que VERGONHA!
O caso Fátima Felgueiras é o único conhecido... E o resto? Quantos desmentidos foram falsos e, tal como os desmentidos relativos ao caso Fátima Felgueiras, sabidos por muitos como falsos. Dou os parabéns ao Público pelo trabalho, pela insistência na procura da verdade e pelo magnífico editorial. O que mais virá aí...
Estes parabéns nunca poderiam ser dados ao Expresso- o PRAVDA (!!) cá do burgo. Sim, porque sempre que houve uma reportagem mais polémica e que mexia com os interesses e hábitos instituídos (quiçá secretos), os jornalistas foram postos na rua. Alguém se lembra da jornalista que fez a investigação do caso CASA PIA????? Já não trabalha lá, pois não?
O caso Fátima Felgueiras é o único conhecido... E o resto? Quantos desmentidos foram falsos e, tal como os desmentidos relativos ao caso Fátima Felgueiras, sabidos por muitos como falsos. Dou os parabéns ao Público pelo trabalho, pela insistência na procura da verdade e pelo magnífico editorial. O que mais virá aí...
Estes parabéns nunca poderiam ser dados ao Expresso- o PRAVDA (!!) cá do burgo. Sim, porque sempre que houve uma reportagem mais polémica e que mexia com os interesses e hábitos instituídos (quiçá secretos), os jornalistas foram postos na rua. Alguém se lembra da jornalista que fez a investigação do caso CASA PIA????? Já não trabalha lá, pois não?
10.31.2005
Opinião
“Já se percebeu que os argumentos do passado para legitimar uma candidatura presidencial funcionam contra quem insiste em invocá-los. É sobretudo isso que ameaça comprometer irremediavelmente a passagem de Mário Soares à segunda volta, no caso de Cavaco não ganhar logo à primeira. E que o sujeita, mas também ao PS, à humilhação de ficar atrás de Manuel Alegre. Se nunca foram evidentes as razões que levaram Soares a recandidatar- -se à presidência, tentando um remake anacrónico da sua passagem por Belém, o equívoco tornou-se agora indisfarçável. Entre o desejo secreto de Soares, os cálculos tortuosos do PS, as ilusões alimentadas pela orfandade da velha corte soarista e dos conversos provenientes da candidatura de Zenha e do eanismo, criou-se uma rede de cumplicidades sem outro cimento que o da nostalgia de um tempo irrepetível. Um tempo fora do tempo e onde, forçosamente, a nostalgia já não é o que era. Da nostalgia antifascista resta hoje um cerimonial kitsch em que a legitimidade presidencial continua a ser encarada como um monopólio exclusivo da esquerda. Desse ponto de vista, só a esquerda asseguraria a normalidade democrática e a estabilidade das instituições, património ameaçado pela eleição de um Presidente de direita ou sem galardões lustrosos de antifascismo. Ora, o esgotamento desta retórica passadista não só favorece o campo que se propõe combater como lhe concede o privilégio de não correr quaisquer riscos na batalha. Daí, também, o unanimismo indigesto que rodeia a candidatura de Cavaco (e que roça por vezes a indecência), dispensando-o de ousadias que soem de forma menos maviosa aos ouvidos dos que o escutam em êxtase. E quando o director de um jornal de referência, onde seria suposto vigorar ainda algum espírito crítico e de imparcialidade editorial, saúda o "Cavaco Vintage 2005", é de temer o efeito da embriaguez.”
Vicente Jorge Silva in
Diário de Notícias, 30 de Outubro de 2005
10.28.2005
Rápido, rápido... (II)
LusaRádio: OTA e TGV - Apresentação da calendarização "para breve" - ministro
Rápido, rápido... (I)
O Governo rapidamente aprova o TGV
Leia-se no Expresso online:
“A ligação do TGV poderá ser reduzida de quatro para duas linhas entre Portugal e Espanha, com quatro paragens entre Lisboa e Porto: Ota, Leiria, Coimbra e Aveiro. As alterações constam de uma nova versão do projecto, que o Governo prevê apresentar no próximo mês.
Segundo noticia hoje o jornal «Público», o anúncio de uma decisão política sobre a Rede de Alta Velocidade será feito depois de o Governo revelar os seus projectos para o aeroporto internacional da Ota, cujos contornos principais deverão ser conhecidos nos primeiros dias do próximo mês. Na segunda quinzena de Novembro será a vez do TGV.
O jornal escreve também que a Rave - Rede de Alta Velocidade, entidade pública responsável pelos estudos relativos ao TGV, foi mandatada pelo anterior Governo social-democrata para apresentar um trabalho sobre a dupla utilização da linha de Madrid, o que não fez até ao momento.
O projecto da linha Lisboa-Madrid deverá estar concluído apenas em 2015, podendo mesmo deslizar para 2017, adianta o «Jornal de Negócios». A data prevista era 2010, mas o Governo português vai assumir na próxima cimeira luso-espanhola, que as datas fixadas em 2003 para as ligações ibéricas em alta velocidade ferroviária na Figueira da Foz «são irrealistas». A linha Porto-Vigo, que deveria ser a primeira a ficar concluída em 2009, pode mesmo cair, uma vez que o Executivo português considera «não existir tráfego que justifique o investimento numa linha de alta velocidade».”
Leia-se no Expresso online:
“A ligação do TGV poderá ser reduzida de quatro para duas linhas entre Portugal e Espanha, com quatro paragens entre Lisboa e Porto: Ota, Leiria, Coimbra e Aveiro. As alterações constam de uma nova versão do projecto, que o Governo prevê apresentar no próximo mês.
Segundo noticia hoje o jornal «Público», o anúncio de uma decisão política sobre a Rede de Alta Velocidade será feito depois de o Governo revelar os seus projectos para o aeroporto internacional da Ota, cujos contornos principais deverão ser conhecidos nos primeiros dias do próximo mês. Na segunda quinzena de Novembro será a vez do TGV.
O jornal escreve também que a Rave - Rede de Alta Velocidade, entidade pública responsável pelos estudos relativos ao TGV, foi mandatada pelo anterior Governo social-democrata para apresentar um trabalho sobre a dupla utilização da linha de Madrid, o que não fez até ao momento.
O projecto da linha Lisboa-Madrid deverá estar concluído apenas em 2015, podendo mesmo deslizar para 2017, adianta o «Jornal de Negócios». A data prevista era 2010, mas o Governo português vai assumir na próxima cimeira luso-espanhola, que as datas fixadas em 2003 para as ligações ibéricas em alta velocidade ferroviária na Figueira da Foz «são irrealistas». A linha Porto-Vigo, que deveria ser a primeira a ficar concluída em 2009, pode mesmo cair, uma vez que o Executivo português considera «não existir tráfego que justifique o investimento numa linha de alta velocidade».”
10.25.2005
10.24.2005
A ciência no Porto
O projecto “Porto, cidade da ciência” promovido pela câmara em parceria com dois cientistas de renome da cidade do Porto, Prof. Maria de Sousa e Prof. Sobrinho Simões, teve como principal reivindicação um"Autocarro VivaCidade" para facilitar o transporte gratuito a estudantes e investigadores que trabalhem na cidade.
O trajecto do autocarro vai ligar instituições científicas, culturais e empresariais, desde a Praça dos Leões, a Cedofeita, passando pelo Campo Alegre, Avenida e Rotunda da Boavista, até ao pólo de Paranhos com circuito a ser definido pelos STCP.
Adicionalmente, a câmara disponibilizou cinco quartos para cientistas estrangeiros em bairros sociais.
A demonstração plena que algo vai mal na cidade, na câmara e nos cientistas do Porto é uma simples comparação com a cidade de Coimbra.
As Câmaras de Coimbra e de Cantanhede entenderam-se entre si e também o conseguiram com o Centro de Neurociências e Biologia Celular da Universidade de Coimbra (CNC). Desta concertação de esforços surgiu o parque Tecnológico de Cantanhede (http://www.biocant.pt/conceito.aspx).
Como escrever artigos!
Presidenciais
Não existiu pior escolha para o título do site não-oficial de apoio à candidatura de Mário Soares à presidência, uma vez que o famoso jogo da Nintendo não tem mesmo nada a ver com o que lá se escreve. A minha estupefacção cresce de dia para dia, de post para post. Como é possível ser tão destrutível e sobretudo expressar tanto ódio a tudo e contra quase todos? Contra o Cavaco, já era de esperar... Mas contra o Manuel Alegre, companheiro de luta de quase todos os escrevem ali?!
Pelo menos, estão reunidos no mesmo site. Assim, não se dá cabo de mais de uma candidatura.
10.19.2005
"O meu amigo, Rui Mateus"
Para os mais esquecidos que não se querem deixar levar neste torpor, recomendo a leitura de um livro que rapidamente caiu no esquecimento, assim como o seu autor.
O livro intitula-se “Contos proibidos – Memórias de um PS desconhecido”e o seu autor foi Rui Mateus, companheiro de Mário Soares, durante longos anos.
Com o apoio da Nintendo?
Há coisas que nem com o amadurecimento mudam. Depois do slogan "Soares é fixe", eis que surge na blogosfera um site não- oficial de apoio à candidatura de Mário Soares. Este blog chama-se Super Mário .
Sob a égide da Nintendo, encontram-se, democraticamente dispostos por ordem alfabética, nomes como o de Vital Moreira.
Que o circo comece!!
10.18.2005
Sempre atrás dos outros.
Portugal ficou classificado como o 26º país mais transparente, tendo recebido com grandes parangonas esta notícia. Só entendo a receptividade a esta classificação, se nós próprios esperássemos estar para o fim de tabela e tenha causado admiração o nosso “bom” resultado. Mais uma vez nos contentamos por não ficar muito atrás dos outros.
Esta alegria só encontra paralelo no nosso crescimento económico de 0.5% efusivamente anunciado pelo nosso Primeiro-ministro, há uns meses atrás.
Esta alegria só encontra paralelo no nosso crescimento económico de 0.5% efusivamente anunciado pelo nosso Primeiro-ministro, há uns meses atrás.
Europa politicamente Correcta I
“A pluma caprichosa “Clara Ferreira Alves, é uma das minhas leituras obrigatórias, senão a única, no semanário Expresso. Na sua última crónica, denunciou a hipocrisia do politicamente correcto que se vive na Europa.
“Europa minha”
“Os jornais dizem que Rabat está a deportar os subsarianos, despachando-os para o deserto do Sul de Marrocos, um lugar onde nada cresce e nada existe.”....E Marrocos faz isto com a cumplicidade criminosa da Espanha socialista de Zapatero, que assobia para o lado.”...
...“Se estes imigrantes ilegais fossem refugiados políticos de Cuba como os «balseros» correríamos a socorrê-los, a essas vítimas da ditadura comunista.”...
...“ E Marrocos, um país de emigrantes, deporta os «ilegais», imitando a Europa à qual quer um dia pertencer. E em Bruxelas e em Estrasburgo, a Europa preocupa-se com a América e o regulamento dos queijos e manteigas, ou o mercado da banana, ou o Iraque e a Palestina, ou a pena de morte na Turquia, enquanto condena a morrer à fome e à sede no deserto entre Marrocos e a Argélia, milhar e meio de negros algemados.”...
...“A Europa sabe que mais cedo ou mais tarde vai ter de rever a sua política de imigração, a sua política social, a sua política.”...
...“E quanto à Espanha socialista de Zapatero and friends, que acabou a sua cimeira com Marrocos para reforçar as medidas de protecção e expulsão dos «ilegais», a Espanha sempre tão moralista em grandes questões internacionais, estamos conversados. A compaixão acaba em Ceuta e Melilla. E o socialismo também.”
Clara Ferreira Alves in
Expresso, 15 de Outubro de 2005
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