12.28.2005

Touching the hand of God!




Esperemos que 2006 seja um melhor ano! Eu farei tudo para festejar bem o fim de 2005.
Até breve.

12.27.2005

"O Caso Mário Soares"



Um artigo de opinião muito interessante escrito por Eduardo Prado Coelho com a sua habitual acutilância.




“O caso Mário Soares”


Eduardo Prado Coelho o fio do horizonte
Segunda, 26 de Dezembro de 2005

Primeiro ponto: ao contrário do que por vezes pensam, na eterna tendência para fulanizar todas as questões, eu tenho e continuo a ter a maior simpatia pela figura de Mário Soares. Ainda há dias, vendo-o rebater as enormidades proferidas por Ribeiro e Castro (como é que uma pessoa responsável faz afirmações que atropelam verdades históricas elementares? como é que a cegueira ideológica leva a dizer tantos disparates?), senti a força do combatente de ideias, atento a todas as transgressões do bom senso e do respeito mínimo pelos adversários.

Segundo ponto: acho que o PS levou demasiado tempo a apostar num candidato com poucas hipóteses como António Guterres (é o próprio que o reconhece), e perdeu a oportunidade de avançar no devido tempo com um candidato para a esquerda.

Terceiro ponto: creio que a ideia de candidatura de Mário Soares (que desde há um ano era uma hipótese na sua cabeça) não tem nada que a justifique. Por isso não suscitou qualquer vaga de fundo no país, provocando antes cepticismo, irritação pelo modo desastrado como a candidatura foi imposta, ditos atrevidos e anedotas desagradáveis, num fim de festa cabisbaixo que nem mesmo conseguiu galvanizar os seus apoiantes (excepto, ao que consta, Joana Amaral Dias, que desbloqueou completamente).

Quarto ponto: a posição actual de Mário Soares é profundamente contraditória. Na verdade, Soares é um homem da afirmação, é um militante do sim. Com o modo algo restrito como caracteriza os poderes presidenciáveis, na tentativa de cortar pela raiz o programa dos adversários, acaba por só ter para oferecer a sua experiência, o que é uma arma de dois gumes (é a experiência do politico que defrontou situações difíceis, mas é também a experiência inerente a uma idade avançada). Ora a candidatura de Soares vive de uma obsessão quase doentia: o perigo para a democracia da vitória de Cavaco. É uma negação permanente (mesmo quando Soares promete num dia que não vai voltar a falar de Cavaco, no dia seguinte tem uma recaída aparatosa).

Quinto ponto: o debate de Soares com Cavaco foi para Soares um verdadeiro suicídio político. Soares procurava desestabilizar Cavaco com toda a espécie de agressões. Cavaco, mesmo confessando a dado momento que precisava de se conter, manteve uma postura absolutamente impecável, ajustada à imagem que nós temos de um Chefe de Estado. Soares, não. A sua atitude foi a de um líder da oposição que quer esmagar o adversário a qualquer custo. Face aos elogios de Cavaco, Soares disse coisas espantosas sobretudo sobre a personalidade e a formação de Cavaco. Chegou ao desplante de afirmar que Cavaco era um razoável economista, mas não um Prémio Nobel, como se a história contasse com muitos Prémios Nobeis no lugar de Presidentes. Foi desagradável ao agitar comentários de amigos seus em relação ao aspecto hirto e pouco conversador de Cavaco em reuniões internacionais.

Há coisas que um Presidente da República não pode fazer. Soares fez. E foi hilariante quando se quis apresentar como um verdadeiro conhecedor de economia que tinha salvo o país.
Sexto ponto: se Cavaco ganhar à primeira volta, deverá agradecer a Soares.

Professor Universitário.
Membro da Comissão de Honra da candidatura de Manuel Alegre

12.22.2005

Nicole Fontaine e Mário Soares


Mário Soares visto por Nicole Fontaine em http://www.fenetreeurope.com/file/2002/file58.htm,


“Être une femme : le premier combat de Nicole Fontaine


A l’heure de la parité, Nicole Fontaine a dû faire face, dès les premières heures de son mandat, à «un soupçon de machisme» : au lendemain de son discours de prise de fonctions, le Portugais Mario Soares qualifie son allocution de «discurso de dona da casa» soit, en français, «discours de maîtresse de maison».Peu de temps après ce premier incident, décrit par ailleurs avec beaucoup d’humour, Madame Fontaine décide de se rendre au Maroc pour représenter le Parlement européen aux obsèques du roi Hassan II. Le fait d’être une femme représente un obstacle majeur : la cérémonie des funérailles leur est interdite. Elle devra se battre pour rejoindre le cortège funéraire aux côtés de Jacques Chirac, de Bill Clinton, de Valéry Giscard d’Estaing et du roi d’Espagne. Selon le protocole, la présidente de la plus grande assemblée démocratique au monde aurait dû patienter à l’hôtel, en compagnie des épouses des chefs d’Etat. Sa détermination aura raison de la tradition. Au policier qui lui précise «vous êtes une femme, votre place n’est pas dans le cortège», elle répondra : «Femme ou non, je représente ici 380 millions d’Européens».”

E também "ele"




A propósito da deselegância de Mário Soares, um artigo hilariante de Proença de Carvalho publicado em “O Sinédrio” intitulado
“ele”.

Enfim, férias!

Nesta época Natalícia não me está a apetecer escrever. Mesmo nada.

A minha inércia  ainda aumentou pelo facto de a noite de ontem nada ter tido de Natalícia, nem de pacífica.
Depois do “combate” entre Mário Soares e Cavaco Silva há uma pergunta que se impõe.
Será que alguém mudou de opinião em função do debate?

Penso que qualquer debate entre Mário Soares e Cavaco Silva, duas personalidades, sobejamente conhecidas da nossa recente democracia, muito dificilmente poderia levar a grandes alterações na intenção de voto. Suponho que as sondagens não vão contrariar a minha teoria.

Mesmo os mais incautos pensavam que apenas uma hecatombe poderia conduzir a alterações significativas no panorama nacional. Por isso também facilmente se conclui, se necessidade de mais evidências houvesse, que não são precisos mais debates televisivos para coisa alguma.

Na sequência do espectáculo de ontem a minha opinião sobre os dois candidatos alterou-se significativamente. Mário Soares ao tentar algo de inexplicavelmente mau conseguiu que eu, quem me conhece sabe muito bem que nunca fui cavaquista - antes pelo contrário –, tenha ganho a consciência que no dia 22 de Janeiro nunca me poderei abster de expressar a minha opinião. E sobretudo, não poderei deixar que outros façam por mim a escolha do próximo Presidente da República. No meio daquele pesadelo, foi um alívio ter chegado a uma conclusão tão clara. O meu voto não pode ser outro.

A vertigem do poder deve ser deveras estupidificante. Antes Otelo Saraiva de Carvalho, e agora Mário Soares. Dois homens diferentes, que outrora se confrontaram e que têm um fim muito semelhante.

12.18.2005

Manuel Alegre (1) - Mário Soares (0)

Aqui vai um texto que devido a dificuldades várias não consegui publicar na altura devida.

Assisti ontem a mais um debate entre os candidatos à Presidência da República. Não consigo perceber como ainda ninguém referiu o pior destes debates - os jornalistas. Fala-se vezes sem conta sobre os candidatos, em particular sobre o que não disseram, esquecendo-nos  que temos jornalistas que os deviam incomodar com as perguntas certas. Estes estiveram particularmente mal no debate da TVI. A Constança Cunha e Sá, que tem os seus dias, não estava decididamente num deles. E o Miguel Sousa Tavares esqueceu-se por diversas vezes que não queríamos ouvir as suas opiniões para nada. Parafraseando alguém que eu conheço: Perguntas inteligentes meus senhores, por favor!!!
Pela segunda vez, Mário Soares diz que não teve nenhuma ligação ao partido socialista nos últimos anos. Esta afirmação fica-lhe muito mal porque é pura mentira. Então, não foi candidato ao Parlamento Europeu pelas listas do PS?
Por duas vezes, e penso que com quatro jornalistas/comentadores distintos, faltou à verdade e ninguém lhe avivou a memória. Fica muito mal a quem se diz um defensor da classe política
Mário Soares, republicano de longa data, como gosta de afirmar, enunciou perante Manuel Alegre um dos princípios da Monarquia. De facto, por que razão haveríamos de estar a votar num candidato a presidente da república, quando podemos escolher um que já conhece o protocolo e sabe com quem pode negociar? Não terão sido estas as palavras, mas o sentido é o mesmo.
Deixem-me pois reorganizar esta ideia e completando com o que ouvi hoje da boca de Mário Soares: Se os Presidentes da República não podem fazer quase nada (vide fotografia das Seicheles (?) publicada nesta página) e quase nada podem influenciar, porque não poderemos ter uma Monarquia, com um Rei treinado desde o berço para a sua função. Poupávamo-nos a estes debates ridículos entre republicanos e laicos, a discutir a constituição. Desta forma acabariam as guerras sobre o apoio dos partidos às várias candidaturas e poder-se-iam manter, por mais uns anitos algumas amizades (?) de longa data. Seria também a resolução dos problemas para os que temem quem não sabe comer bolo rei.
Estas ideias não ficam mesmo nada bem a um filho de um republicano - leia-se Mário Soares. Dão azo a que outros comecem a interrogar o sistema republicano em que vivem e que sustentam. Sim, porque o único poder institucional que elegem directamente ( de facto estou a esquecer-me da assembleia da repúbliaca com os deputados mas estes, todos sabemos, estão sob a alçada da obediência partidária), nada pode fazer!

12.13.2005

Soares numa Presidência Aberta com amigos


Não sei se este banho foi nas Seicheles ou na Fernando Noronha. Infelizmente, nunca fiz para das suas largas comitivas.

Marinha Grande 2

Há bem pouco tempo, tive uma conversa inócua, e no mundo das mais remotas suposições, sobre a eventualidade de Mário Soares ser vítima de agressões, à semelhança das da Marinha Grande, que tiveram lugar durante a sua primeira campanha para as presidenciais. Ainda no mundo da fantasia, questionava-me sobre a possibilidade desses mesmos actos, caso não surgissem espontaneamente, poderem ser forjados, tal qual Oliveira Salazar em momento de crise.

Todos sabemos que o caso Marinha Grande provocou uma grande inflexão na popularidade e que foi decisivo, nessa altura, para o arranque de Mário Soares. Não quero acreditar que este incidente, agora em Barcelos, bastante suave e que a meu ver se resumiu a uns insultos - a que nenhum político, independentemente do seu grau de popularidade e honestidade se consegue esquivar – , se enquadre num plano de desespero nº10 de algum director de campanha.

No entanto, este episódio, que se poderia ter rapidamente esvaído na memória do tempo e da comunicação social à semelhança dos ataques verbais e físicos ao Rui Rio no Porto durante as suas visitas aos bairros de Aldoar e de Campanha, foi estranhamente enfatizado.

Mais invulgar são as últimas declarações de Mário Soares, que prontamente tinha desvalorizado o facto, vem contrariar as primeiras declarações. Afirma ainda coisas estranhas como:
«Vou ver quem ele é e o que faz»;
«Fez-me acusações muito graves e tenho possivelmente que o accionar judicialmente. Prezo a minha honorabilidade pessoal»

(http://online.expresso.clix.pt/1pagina/artigo.asp?id=24755823)

Parece-me que Mário Soares está a querer dar relevância à situação. Como poderemos levar a sério  um ex-combatente que se apresenta devidamente identificado de boné, em frente a todas as câmaras e com vários microfones a rodeá-lo. Ainda por cima, com grande ineficácia para a agressão.

12.09.2005

Ministério da Educação

Aqui vai mais um e-mail que eu recebi sobre a realidade no ensino secundário.

“Algo se passa no reino do Ministério da Educação!

O ano lectivo abriu bem, com os professores colocados, mérito que deve, em rigor, ser repartido com a anterior ministra e com o director geral dos recursos humanos contratado por Maria do Carmo Seabra para resolver a embrulhada informática - o único que não foi substituído.
Em vez de valorizar a função docente, tratou os professores todos como incompetentes, desmobilizando os milhares que têm paixão pela escola.
Os sindicatos dos professores ajudam, pois convocam uma greve irresponsável, aos exames - e aqui a ministra esteve bem.

Não esteve bem, de facto, ao contratar aulas de inglês à pressa a institutos quando há milhares de professores com horários zero.

Foi precipitada e demagógica ao obriga os professores a estarem muito mais tempo na escola, sem fazerem nada 

O ambiente nas escolas é péssimo - e não há boa escola com os professores desmotivados pelo próprio ministério e desconsiderados pela opinião pública.

Agora, mandou retirar os crucifixos, em resposta a uma obscura associação a quem coube a iniciativa de enviar uma carta muito laica e republicana à ministra e que se deu ao trabalho de elaborar o dossier anexo, disponível online.
E, não contente, vai reduzir para 3 os exames do 12º ano, reduzindo a exigência - aonde está a busca da qualidade de tanto se fala.

Por fim, o ministério apresenta agora uma proposta de uma lei que instituí o visto prévio nos manuais escolares. Como é típico das "democracias avançadas no limiar do século XXI" (!!!) e prepara-se para contratar centenas de professores para, de forma centralizada e sem recurso possível, desencadearem a operação de censura prévia dos livros de filosofia, história, geografia, português, etc. Mais uma vez a desconsideração face aos professores e face à escola, pois deixam se ser estes, e as escolas, (isto é:o mercado) a fazer a selecção da oferta, em liberdade.

Como se não bastasse, tem um secretario de estado que não hesitou em divulgar o absentismo dos professores, mas que mente sobre as suas próprias faltas e falta à palavra dada no processo eleitoral para a escola de que foi presidente.

Que se passa com a educação, afinal?”

Crucifixos II

Resolvi publicar um mail que me chegou que tem uma perspectiva interessante quanto ao radicalismo que se vive na sociedade Portuguesa.

“Senhor. Primeiro Ministro José Sócrates,
Tendo tomado o seu governo a decisão de promover a retirada dos crucifixos das salas de aula do nosso País, com a justificação que o estado português é um estado laico e que não se pode impor às crianças símbolos desta ou daquela religião, venho por este meio lembrá-lo que, da mesma forma, o nosso estado laico ainda promove, apoia e estimula verdadeiros abusos religiosos aos nossos cidadãos.
Refiro-me, obviamente, entre outros, a:
- Feriado Nacional para celebrar a Imaculada Concepção de Cristo - Feriado Nacional para celebrar o nascimento de Cristo. - Feriado Nacional para lembrarmo-nos de todos os Santos Católicos. - Feriado Nacional (numa 6a Feira, um dia de trabalho!) para reflectirmos sobre a morte de Cristo. - Feriado Nacional para celebrar a Sua posterior Ressurreição. - Feriado Nacional em honra da Ascensão aos Céus de Nossa (só de alguns, recordo-lhe) Senhora Maria, mãe de Cristo. - Feriado Nacional para honrar o Corpo de Cristo - Feriados Municipais para honrar os Santos Católicos, padroeiros das nossas mais diversas cidades, vilas e aldeias. - A presença das 5 chagas de Cristo na nossa Bandeira Nacional - O Monumento do Cristo Rei, na margem Sul do Tejo, um verdadeiro símbolo Cristão colocado num lugar de grande visibilidade e, certamente, muito incómodo para todos os que, não sendo Cristãos, para lá são forçados a olhar.
- À prática, comum, dos jogadores das nossas mais diversas selecções desportivas, de se benzerem enquanto em representação do nosso país.
Haveria, como é óbvio, muitos mais exemplos a apontar, mas estou certo que o senhor será capaz de os identificar e prontamente os eliminar da nossa vida nacional.
De imediato, estou certo que o Sr. Primeiro Ministro implementará de imediato a obrigatoriedade de comparecer ao trabalho a todos os funcionários do Estado em todos os dias úteis que sejam considerados, por alguns, como um dia religioso, caso este seja um dia de semana. A seu tempo, eliminará estes dias do calendário dos Feriados Nacionais, promovendo, desta forma, um aumento de produtividade acentuado.
Urge também proibir todos os nossos municípios de promoverem, tolerar, observar ou apoiar qualquer feriado de indole religiosa, sendo imediatamente abolidos os Santos Padroeiros das nossas cidades, vilas e aldeias.
De igual forma, estou certo que o Sr. Primeiro Ministro irá promover de imediato um concurso para a alteração e remoção de todos os elementos de índole religiosa da nossa Bandeira Nacional.
A demolição da estátua do Cristo Rei em Almada passará, por certo, a fazer parte das suas prioridades.
E estou certo que, tão logo acabe de ler esta missiva, irá instruir os presidentes das diversas Federações desportivas do País para que proíbam toda e qualquer manifestação religiosa por qualquer individuo que esteja em função de representação do nosso Portugal.
E, já agora, não se esqueça de proibir os sinos das igrejas de tocarem, a não ser em caso de fogo ou invasão estrangeira.
E a transmissão de cerimónias religiosas pelo canal publico de televisão!
Para finalizar, Sr. Primeiro Ministro, não se esqueça de, na próxima campanha eleitoral, lembrar as Portuguesas e os Portugueses que foi o Senhor, com o apoio do Partido Socialista, que teve a coragem de tomar estas medidas, tão justas e há tanto tempo ignoradas. É que o povo é muito esquecido, e é sempre bom lembrá-lo quem foram os responsáveis por estes actos de tão grande interesse Nacional.
Certo da sua coragem, convicção e empenho na aplicação das medidas sugeridas
Subscrevo-me,
Um cidadão Português, recenseado e com grande memória. “

12.07.2005

O Super Mário Faz 81 anos?!



Um ano depois de ter dito “basta de intervenção política” e depois de com jigajogas ter acabado com uma amizade de longa data (leia-se Manuel Alegre), Mário Soares terá bastante menos gente a seu lado no seu octogésimo primeiro aniversário.

Viagens na Minha Terra

Ontem, dia 6 de Dezembro o Tribunal de Contas diz num relatório resultante da auditoria realizada à empresa este ano, que a CP-Comboios de Portugal se encontra em falência técnica. Os vários défices de exploração e elevado nível de endividamento estão na base desta falência. Aparentemente nos últimos três anos a CP acumulou prejuízos que ascenderam a 741 milhões de euros.
Estão na base desta falência insuficiências na exploração das diferentes áreas de negócio da empresa. Esta situação parece resultar do facto de o carro continuar como o meio de transporte preferencial dos Portugueses. Penso que este não é um problema dos Portugueses. De facto, se comparamos o nosso sistema de transporte ferroviário com o de outros Países encontramos muitas razões para esta situação óbvias para o comum dos mortais como eu.
As linhas dos caminhos de ferro mantiveram-se decrépitas e por causa disso a compra dos comboios pendulares que serviram a linha Porto-Lisboa, tornou-se inútil. A compra dos pendulares fez apenas ganhar meia hora em relação aos anteriores alfas. Há zonas em que o pendular circula a 10 km/h e nunca pode atingir a sua velocidade máxima, Não existe serviço de comboios depois das oito de noite e várias linhas fecharam. Para o Algarve, só quem não tem carro ou não tem idade para ter carta vai de comboio. Para Madrid, só um louco que não tem o que fazer ao tempo.
Por outro lado, as sempre rentáveis companhias de camionagem que apenas demoravam mais uma hora a levar os passageiros do centro da cidade do Porto para o centro da cidade de Lisboa por quase metade do preço. De facto, a relação rapidez/preço dos comboios é (quase era) muito má. O aparecimento das companhias aéreas Low-cost não augura nenhum bom futuro para qualquer linha Lisboa-Madrid, a funcionar nestas condições. E mesmo para o TGV... Já alguém averiguou se as linhas do TGV em Espanha são rentáveis? Quando o fizerem terão uma desagradável surpresa.

12.06.2005

Limiar da Pobreza

Tenho vivido durante os últimos tempos com uma questão pertinente que ontem foi reavivada por dois motivos. Tinha lido uma reportagem no El Pais que publicava em grandes títulos que 20% dos Espanhóis (1 em cada 5) vivem abaixo do limiar da Pobreza, exactamente no mesmo dia em que Manuel Alegre enfatizou o avanço do nosso vizinho relativamente ao nosso País.
Em 15 de Outubro deste mesmo ano, perto do dia Mundial para a Erradicação da Pobreza, vários jornais e organizações Portuguesas afirmavam que Portugal tinha 20% de Pobres. Os mesmos dados eram então adiantados - 1 em cada 5 Portugueses, vive abaixo do limiar da Pobreza.
Alguma coisa está mal nesta avaliação. Ou o Limiar da Pobreza, que deve ser uma súmula de parâmetros, está longe de ser normalizada internacionalmente, ou não entendo como o Reino de Espanha está à nossa frente em quase tudo.

12.05.2005

Futurologia

Um artigo de opinião num cenário de futuro (próximo).

Otários
 
Ota 2017. Aterrei pela primeira vez no novíssimo Aeroporto da Ota. A viagem de Paris a bordo do também novíssimo Airbus entregue há dias à Air Varig-Portugal foi muito confortável e fez-me ter saudades da gestão de Fernando Pinto, o brasileiro que deu asas à TAP.
 
É estranho aterrar neste ermo, eu que durante dezenas de anos e centenas de voos me habituei à velha Portela.
 
A saída do avião foi agreste. A nave parou no final da pista (que os especialistas já dizem estar esgotada daqui a dez anos) longe das mangas coloridas que parecem abraçar o edifício de vidro e aço, um dos pouco orgulhos pós-socráticos.
 
A nortada que se fazia sentir não se recomenda nem aos inimigos, com aquele morro de um lado e um rio fazendo lembrar o Trancão do outro. Não fugindo à tradição, o autocarro demorou uma eternidade a chegar. Como sardinha em lata, bem comprimido entre um emigrante da última geração (cheio de «piercings» e turbante) e um antropólogo francês (em busca do último europeu que come de boca aberta, fuma no local de trabalho, bate na mulher e se assume como «cavacus antropopitecus»), sobrevevi.
 
Chegado ao hangar esperei 45 minutos pelas malas. Como não tinha cinco euros trocados para o carrinho tive de transportá-las às costas até ao táxi. Um motorista de cabelo rapado e bigode de três dias dentro de um dos novos Mercedes a hidrogénio desata aos insultos quando lhe digo para seguirmos até Lisboa. «Isto aqui é para trabalhar. Fretes só para o Algarve! Para Lisboa vai no comboio que vem do Entroncamento, pára em todas, e vai na hora. Deixe-me trabalhar!»
 
Indignado, ainda tentei chamar a polícia, mas o aeroporto, como foi construído com dinheiro dos privados (lembram-se do que disse Sócrates em 2005?), também só tem segurança privada e esses só apoiam quem pagou aquele suplemento «premium».
 
Hora e meia depois de aterrar consegui finalmente apanhar comboio para Lisboa. Pensando melhor foi bom ter sido corrido do táxi. A viagem custava 100 euros, metade do preço do voo «low coast» de Paris, e aquela entrada em Lisboa está sempre atascada de carros a qualquer hora, Enquanto não alargarem a Segunda Circular vai ser sempre aquele inferno!
 
Afinal, os tais comboios permanentes entre a Ota e Lisboa são uma ficção. Há comboios de hora a hora e se o voo atrasa podemos ter de esperar quase duas. O comboio devia ser o TGV, mas o projecto passou já por tantos adiamentos que ninguém arrisca uma data para a inauguração. De toda a maneira, a passagem pela Ota está bastante comprometida, pois implica um desvio e com tantos apeadeiros o TGV, se vier a existir, mais vai parecer o velho correio.
 
O aquecimento do comboio não funciona, como sempre, o restaurante só serve cevejas e salgados do dia anterior, as casas de banho estão impróprias para consumo. O que safa a viagem é a televisão que vai dando notícias. Cavaco, que já deixou a presidência, inaugurou hoje a sede da sua fundação. Foi comovente aquele abraço a Mário Soares, que não quis deixar de estar presente apesar da sua evidente debilidade física. Durão Barroso, que ganhou à tangente as presidenciais na segunda volta a Sócrates, está cada vez melhor no seu papel de Presidente da República. Os portugueses esqueceram a sua fuga em 2004 e penalizaram Sócrates por uma governação que tanto queria domar o défice que acabou de vez com qualquer veleidade de a economia portuguesa crescer. Não é por acaso que a Grécia é a nova Irlanda e o sonho de algumas jovens portuguesas é poderem ser actrizes na novela «Morangos Silvestres» da TV checa.
 
Já em Lisboa, passadas três horas de ter aterrado na Ota, percorro agora a Segunda Circular, sempre engarrafada. A Portela começou a ser dividida em talhões para construção. O único avião ali por perto é aquele que, transformado em bar, continua com os seus «show girls» noite dentro. Um sobrevivente.
 
Mais abaixo, na Avenida de Brasil, cruzo a Reinaldo Ferreira, a rua da minha infância, onde os aviões passavam a escassas centenas de metros da janela do meu quarto. Cresci com aquele barulho dia e noite. Ficava especado à espera que passasse um desses pássaros e me levasse na minha imaginação.
 
A Portela era um fascínio lisboeta. Dava uma dimensão cosmopolita ao país, perto do mundo.
 
Agora temos um elefante branco, longe, caro, não competitivo, desmotivador do turismo em Lisboa. Mais um buraco para pagarmos, depois das Scut , do TGV, da saúde, da educação. Uma lista impagável num país de otários.
 
 
Luiz Carvalho
 
http://online.expresso.clix.pt/1pagina/artigo.asp?id=24755576

Estado laico

Provavelmente os mesmos que em criticaram a proibição do uso de sinais religiosos em escolas francesas, como o tão falado véu, promovem a retirada dos crucifixos das escolas.
Não tenho qualquer problema em aceitar este facto, num estado laico como é o nosso. No entanto, não entendo como o mesmo Estado Laico homenageia Francisco Sá Carneiro com uma “missa de estado” no dia 4 de Dezembro.
Aqui vai um artigo de opinião publicado no diário de notícias sobre o problema da cruz.



“Tiro ao Crucifixo

Eu só quero que me expliquem isto porque é que ter um crucifixo pendurado na parede de uma escola é uma ofensa à laicidade do Estado e um atentado à Constituição, e já não é uma ofensa à laicidade do Estado nem um atentado à Constituição o país inteiro prestar homenagem, através de um dia feriado, ao nascimento de Jesus (Natal), à morte de Jesus (Sexta-feira Santa), à ressurreição de Jesus (Páscoa), à celebração da Eucaristia (Corpo de Deus), aos santos e mártires da Igreja (Dia de Todos os Santos), à subida ao céu de Maria (Assunção de Nossa Senhora), e até ao facto de a mãe de Jesus, através de uma cunha de Deus, ter-se safado do pecado original no momento em que os seus pais a conceberam (Imaculada Conceição). Na próxima quinta-feira, dia 8 de Dezembro, o Estado português vai curvar-se alegremente diante de um dogma de alcofa inventado no século XIX por uma Igreja acossada pela secularização, mas até lá entretém- -se a subir ao escadote para remover cruzes de madeira, esses malvados instrumentos que instigam à conversão religiosa. Em Portugal, já se sabe, a lógica é uma batata.Por mim, podem limpar as escolas de todos os crucifixos, e, já agora, que se aproxima essa perigosa quadra para o laicismo do Estado chamada Natal, podem proibir também os presépios e até a apanha de musgo. A única coisa que me incomoda neste pequeno psicodrama é que o Ministério da Educação perca o seu tempo a expelir circulares muito legais, muito constitucionais e muito burras. O senhor que está pendurado nos crucifixos não é apenas um símbolo religioso - é também um símbolo civilizacional, que atravessa todo o Ocidente através da pintura, da literatura, da música, da arquitectura, do teatro, do cinema. Mais do que propaganda católica, o crucifixo faz parte da nossa identidade e é uma chave para compreender os últimos 21 séculos de História. Não tem a ver com fé. Não tem a ver com Deus. Tem a ver connosco.
João Miguel Tavares

Diário de Notícias, 3 de Dezembro de 2005”
http://dn.sapo.pt/2005/12/02/opiniao/tiro_crucifixo.html