Aos meus 18 anos entrei para a faculdade na ânsia de aprender e apreender numa instituição que eu tinha sido ensinada a respeitar. Depressa me desiludi com o ensino e com os professores do ensino superior. Na realidade, no meu dia a dia, cada vez considero mais que os Professores Universitários são a praga que tem levado este País à ruína. As culpas que a ministra da Educação, Maria de Lurdes Rodrigues, imputou aos professores do ensino secundário deve dirigi-la aos professores da sua classe- os universitários. Todos os que passamos pelas Universidades, em particular pelas públicas, e somos confrontados com sebentas com algumas décadas, e com a ausência de qualquer livro de apoio (apesar de solicitado) sabemos que isto é a dura verdade.
Quando cheguei à minha primeira aula fui confrontada com a frase que mais ouvi durante o meu curso: "Esqueçam tudo o que aprenderam no liceu, pois só vos foram ensinados disparates".
Esta arrogância dos professores Universitários relativamente aos seus colegas do ensino secundário, muitos deles seus alunos, é uma realidade.
Presto aqui a minha homenagem aos muitos e excelentes professores que tive até à minha entrada na faculdade. Nunca poderei esquecer que foram eles também que me despertaram vocações, me incutiram o meu sentido de responsabilidade e contribuiram significativamente para o que eu sou e faço hoje.
É minha convicção que se o ensino vai mal, muitos dos responsáveis podem ser encontrados nos governos, nas sucessivas reformas e na crescente desresponsabilização dos alunos. Acabaram as faltas a vermelho, as faltas disciplinares e os professores muito dificilmente podem reprovar o mais incompetente da turma.
Tivemos uma "geração rasca" bem como muitas outras gerações com outros nomes, fruto da falta de relevância dada aos professores do ensino primário e do secundário.
5.30.2006
Fotografia multicolor
Fizeram-me chegar a uma base de dados com fotografias fabulosas, incluindo uma visão multicolor da cidade do Porto. Afinal, o Porto não é só o granito…
O autor é um Português José Paulo Andrade e o link é http://www.pbase.com/jandrade
Não se fiquem por este autor pois encontram-se outras galerias realmente inspiradoras do fotógrafo mais empedernido.
O autor é um Português José Paulo Andrade e o link é http://www.pbase.com/jandrade
Não se fiquem por este autor pois encontram-se outras galerias realmente inspiradoras do fotógrafo mais empedernido.
O Mal amado?
Eis que encontro um blog criado recentemente para o lançamento do Livro do ex-vereador da câmara do Porto, Paulo Morais. O livro segundo referência no mesmo blog será lançado “no Majestic, no Porto, em 30 de Maio, pelas 21:00 horas, com apresentação da magistrada Maria José Morgado, procuradora-geral adjunta no Tribunal da Relação de Lisboa e antiga responsável pela Direcção-Geral de Investigação da Corrupção e Criminalidade Económica e Financeira da Polícia Judiciária”.
Quase um ano depois, e longe de eleições autárquicas, veremos o que este tema nos traz. De facto, muitas acusações foram feitas e ninguém ligou ou mesmo quiseram rapidamente fazer esquecer. Ainda estou em dúvida que as afirmações feitas tenham sido levianamente inconsistentes. A ver vamos.
Quase um ano depois, e longe de eleições autárquicas, veremos o que este tema nos traz. De facto, muitas acusações foram feitas e ninguém ligou ou mesmo quiseram rapidamente fazer esquecer. Ainda estou em dúvida que as afirmações feitas tenham sido levianamente inconsistentes. A ver vamos.
5.26.2006
Momento de Humor
Diogo Freitas do Amaral, desde as suas férias em Cabo Verde, durante a campanha para as Presidenciais, não recuperou do cansaço extremo que o cargo de Ministro de Negócios Estrangeiros lhe tem causado. O maior cansado deve-se ao facto de ter andado um ano a colocar-se em bicos de pé. De facto, por cá foram-lhe permitindo este exigente exercício físico em permanência, até à famosa entrevista ao semanário Expresso. Provavelmente, devido a estes maus hábitos, as suas incursões na cena internacional não lhe têm corrido muito bem. Um bom exemplo disso vem relatado no "Bloguítica".
"Subtilezas diplomáticas: Diogo Freitas do Amaral escreve a Kofi Annan. O secretário-geral da ONU coloca o ministro dos Negócios Estrangeiros no seu devido lugar e fala directamente com o Primeiro-Ministro, José Sócrates..."
"Subtilezas diplomáticas: Diogo Freitas do Amaral escreve a Kofi Annan. O secretário-geral da ONU coloca o ministro dos Negócios Estrangeiros no seu devido lugar e fala directamente com o Primeiro-Ministro, José Sócrates..."
5.24.2006
O Exemplo Português
Um amigo meu, mais ou menos cioso das modas, sobretudo das modas que sopram de Bruxelas, e mais ou menos deprimido com o nosso cada vez mais real dia-a-dia, foi ao site europeu sobre exemplos de CVs disponíveis em variadíssimas línguas. Poderei questionar a assepsia dos os curriculuns europeus (eu sei, eu sei que é latim, e que por isso plural de curriculum é curricula), ou o seu voluntarismo nesta busca de um modelo. Mas não é sobre nada disto que eu quero falar. Sim, se considerarmos que já temos um Presidente da comissão europeia, que o número de portugueses nas diferentes comissões, gabinetes e sub-gabinetes tem aumentado consideravelmente por termos um Presidente da comissão europeia Português, não se entende a forma com que continuamos a ser vistos e catalogados.
Para os mais curiosos, por favor copiem este link:http://europass.cedefop.europa.eu/europass/home/hornav/Downloads/EuropassCV/CVExamples/navigate.action
Poderemos encontrar exemplos de CVs nas mais variadas línguas, incluindo o alemão, o inglês, o italiano, o espanhol, o francês e por aí fora. Todos estes exemplos estão preenchidos, com o que poderemos considerar figuras tipo. Nesse sentido, o exemplo de curriculum vitae em alemão é para algo indizível como um Versicherungsberaterin - o que soa, no mínimo a algo de sumptuoso e intimidatório, que se poderá traduzir (ferramenta de idiomas do google) para conselheiro de qualquer coisa.
Passamos então para o exemplo inglês e constatamos que a profissão de referência é "European Project Manager". Sim, senhor um gestor europeu de projecto. Profissão interessante.
Segue-se o Francês com "Responsable de Project- Gestion du patrimoine. Sorri-me pois. De facto, os franceses mantêm consigo um conjunto interessante de obras que não lhes pertence. O que dirão os Gregos do Louvre... E o nosso amigo Vasco Graça Moura também já refilou sobre as nossas obras desaparecidas desde o tempo das invasões Napoleónicas.
Por outro lado, a profissão tipo para os italianos é "Gestão de recursos humanos". Também encontrei esta escolha interessante dada a natural prosápia que os caracteriza. Nesta caminhada em direcção ao sul da Europa, passei pelo exemplo espanhol- contabilistas. Não pude deixar de me lembrar dos vários capítulos do " The world is flat" a falar na relevância decrescente desta profissão e do seu tão pequeno valor acrescentado no mundo da globalização.
Mas a maior surpresa no meio de exemplos de curriculum com profissões tipo (só na cabeça de algum burocrata idiota), estava reservada para o meu querido país e para a minha querida língua.
Padeiro e Pasteleiro!!!! Fiquei sem palavras perante os relatos furiosos do meu amigo, tentando encontrar alguma lógica nas várias profissões escolhidas. Suspirei e só posso dizer que não há presidente nem Papa que nos possa valer. Seremos sempre o canalizador, o trolha da Europa. Mas éramos o pasteleiro e padeiro nos Estados Unidos, na Venezuela e no Brasil, não era???? Pelos vistos, a nossa fama vem de longe.
Gostaria de ressalvar que não considero que haja desprestígio na profissão de trolha, de padeiro, de pasteleiro, ou noutra profissão qualquer. De facto, o único desprestígio existe na cabeça dos que rotulam.
Para os mais curiosos, por favor copiem este link:http://europass.cedefop.europa.eu/europass/home/hornav/Downloads/EuropassCV/CVExamples/navigate.action
Poderemos encontrar exemplos de CVs nas mais variadas línguas, incluindo o alemão, o inglês, o italiano, o espanhol, o francês e por aí fora. Todos estes exemplos estão preenchidos, com o que poderemos considerar figuras tipo. Nesse sentido, o exemplo de curriculum vitae em alemão é para algo indizível como um Versicherungsberaterin - o que soa, no mínimo a algo de sumptuoso e intimidatório, que se poderá traduzir (ferramenta de idiomas do google) para conselheiro de qualquer coisa.
Passamos então para o exemplo inglês e constatamos que a profissão de referência é "European Project Manager". Sim, senhor um gestor europeu de projecto. Profissão interessante.
Segue-se o Francês com "Responsable de Project- Gestion du patrimoine. Sorri-me pois. De facto, os franceses mantêm consigo um conjunto interessante de obras que não lhes pertence. O que dirão os Gregos do Louvre... E o nosso amigo Vasco Graça Moura também já refilou sobre as nossas obras desaparecidas desde o tempo das invasões Napoleónicas.
Por outro lado, a profissão tipo para os italianos é "Gestão de recursos humanos". Também encontrei esta escolha interessante dada a natural prosápia que os caracteriza. Nesta caminhada em direcção ao sul da Europa, passei pelo exemplo espanhol- contabilistas. Não pude deixar de me lembrar dos vários capítulos do " The world is flat" a falar na relevância decrescente desta profissão e do seu tão pequeno valor acrescentado no mundo da globalização.
Mas a maior surpresa no meio de exemplos de curriculum com profissões tipo (só na cabeça de algum burocrata idiota), estava reservada para o meu querido país e para a minha querida língua.
Padeiro e Pasteleiro!!!! Fiquei sem palavras perante os relatos furiosos do meu amigo, tentando encontrar alguma lógica nas várias profissões escolhidas. Suspirei e só posso dizer que não há presidente nem Papa que nos possa valer. Seremos sempre o canalizador, o trolha da Europa. Mas éramos o pasteleiro e padeiro nos Estados Unidos, na Venezuela e no Brasil, não era???? Pelos vistos, a nossa fama vem de longe.
Gostaria de ressalvar que não considero que haja desprestígio na profissão de trolha, de padeiro, de pasteleiro, ou noutra profissão qualquer. De facto, o único desprestígio existe na cabeça dos que rotulam.
5.23.2006
Polo Norte
5.18.2006
Marques dos Santos- Novo Reitor da Universidade do Porto
Marques dos Santos foi eleito Reitor da Universidade do Porto.
Gostaria de felicitar a Universidade do Porto por não ter perdido a capacidade para efectuar esta escolha. Esperemos que a vontade de "fazer" do Prof. Marques dos Santos se mantanha acesa e contagie o resto da Universidade.
Por conhecer, relativamente, bem o Prof. Ferreira Gomes, só posso considerar que esta foi uma boa opção. Sem dúvida que é apenas pelo trabalho que a Universidade do Porto se pode reposicionar como uma Universidade forte e capaz de liderar a mudança.
Já nos bastam os governantes para as jogadas e para a "politics". Viva a "policy"!
Gostaria de enfatizar que este blog deve ter sido das primeiras páginas na internet a dar esta notícia... OAgradeço com veemência ao José Almada.
Gostaria de felicitar a Universidade do Porto por não ter perdido a capacidade para efectuar esta escolha. Esperemos que a vontade de "fazer" do Prof. Marques dos Santos se mantanha acesa e contagie o resto da Universidade.
Por conhecer, relativamente, bem o Prof. Ferreira Gomes, só posso considerar que esta foi uma boa opção. Sem dúvida que é apenas pelo trabalho que a Universidade do Porto se pode reposicionar como uma Universidade forte e capaz de liderar a mudança.
Já nos bastam os governantes para as jogadas e para a "politics". Viva a "policy"!
Gostaria de enfatizar que este blog deve ter sido das primeiras páginas na internet a dar esta notícia... OAgradeço com veemência ao José Almada.
5.17.2006
Eleição do Reitor da Universidade do Porto
Hoje, dia 17 de Maio tem lugar a eleição para o novo Reitor da Universidade do Porto.
Depois de oito anos em que pelo menos um dos dois Vice-reitores foi protagonista devido à ausência de uma liderança forte, esperam-se novos ventos para a Universidade do Porto.
Conscientes do interesse que esta eleição tem para a Universidade e para a cidade em geral, a Universidade do Porto, através da sua página, disponibiliza os perfis e programa de cada um dos candidatos.
http://sigarra.up.pt/up/web_base.gera_pagina?P_pagina=18390
Na página do Jornalismo Porto Rádio leia-se sobre os dois candidatos: Ferreira Gomes, que acompanhou os oito anos de mandato de Novais Barbosa, é um comunicador nato que aposta numa visão centrada na investigação e na internacionalização da Universidade; do outro lado, o mais reservado Marques dos Santos é um defensor da Empresarialização dos serviços e um crítico quanto ao actual modelo de Governação do Ensino Superior Português.
http://jpr.icicom.up.pt/2006/05/especial_eleicoes_reitoria_up_2006_combate_de_vices.html
Conhecendo-o relativamente bem um deles, sei que este resumo é uma visão demasiado simplista.
PSP e as armas de fogo
Temos visto noticiadas várias acções da PSP em múltiplos bairros de Lisboa e arredores. A acção que mais propaganda mereceu envolveu 600 agentes no Bairro da Torre em Camarate, tendo resultado na apreensão de 19 armas. Aparentemente o Ministro António Costa rejubilou de satisfação com semelhante eficiência. Esta acção deu uma média de 32 agentes por cada arma de fogo.
Considerando esta proporção interrogo-me acerca do número de efectivos que foi necessário envolver numa outra apreensão agora na ilha da Madeira de meia centena de armas de fogo ilegais (pormenor - diferentes marcas e calibres).
Pelas minhas contas 1600 agentes….
Edit On Web
A criação de um site na Web com conteúdos em ciência e literatura e ainda por cima em Português, é sem dúvida notícia.
Visitem o site www.editonweb.com, ajudem com os vossos comentários e participem nos fóruns de discussão.
Consubstanciem os vossos conhecimentos.
Para já um reparo: Para um site em Português esperaria no entanto, um título em Português…
Visitem o site www.editonweb.com, ajudem com os vossos comentários e participem nos fóruns de discussão.
Consubstanciem os vossos conhecimentos.
Para já um reparo: Para um site em Português esperaria no entanto, um título em Português…
Eixo?! Mas que mal!
Tenho assistido com bastante estupefacção ao programa “Eixo do mal” transmitido na sic notícias na noite de sábado para domingo. Tempos houve em que valia a pena esperar pela mordacidade dos intervenientes neste programa. Infelizmente, nos últimos tempos- leia-se desde a tomada de posse do governo Sócrates- que o programa se caracteriza pelo marasmo completo e por um demasiado evidente comprometimento político.
Na questão da refinaria não foram criticadas nem evidenciadas as múltiplas contradições e cenas gagas subjacentes ao processo, nomeadamente no que diz respeito ao nosso ministro da economia. Foi mais fácil criticar o Patrick Monteiro de Barros, personagem que de facto também não me é muito agradável, do que pôr a nu uma de muitas manobras de propaganda do governo. Já anteriormente, e bastava que se tivessem informado minimamente, se levantaram muitas questões de ordem ambiental. Elas não surgem agora. Também aqui neste blog essas questões foram colocadas.
Este programa cada vez me parece mais um outro, de há uns tempos atrás, “a noite da má-língua” e que teve um triste fim pelo fastio que causava aos espectadores.
Convenhamos que a Clara Ferreira Alves, que eu tanto admirava & Co se têm ficado pela crítica fácil do alto do pedestal da superioridade intelectual. Já se ouvem frases como “estou-me a marimbar para os pobrezinhos” acompanhados de interjeições serôdias da própria Clara Ferreira Alves “ fugiu-te a boca para a verdade”.
Imperam pois a conversa fácil, a falta de informação e de cultura.
Perante isto, não há pôr-do–sol em lado nenhum do mundo que lhes possa valer.
Na questão da refinaria não foram criticadas nem evidenciadas as múltiplas contradições e cenas gagas subjacentes ao processo, nomeadamente no que diz respeito ao nosso ministro da economia. Foi mais fácil criticar o Patrick Monteiro de Barros, personagem que de facto também não me é muito agradável, do que pôr a nu uma de muitas manobras de propaganda do governo. Já anteriormente, e bastava que se tivessem informado minimamente, se levantaram muitas questões de ordem ambiental. Elas não surgem agora. Também aqui neste blog essas questões foram colocadas.
Este programa cada vez me parece mais um outro, de há uns tempos atrás, “a noite da má-língua” e que teve um triste fim pelo fastio que causava aos espectadores.
Convenhamos que a Clara Ferreira Alves, que eu tanto admirava & Co se têm ficado pela crítica fácil do alto do pedestal da superioridade intelectual. Já se ouvem frases como “estou-me a marimbar para os pobrezinhos” acompanhados de interjeições serôdias da própria Clara Ferreira Alves “ fugiu-te a boca para a verdade”.
Imperam pois a conversa fácil, a falta de informação e de cultura.
Perante isto, não há pôr-do–sol em lado nenhum do mundo que lhes possa valer.
5.16.2006
Eduardo Prado Coelho e " A arte de Perder"
Eduardo Prado Coelho sobre “a Arte de perder”. Bem a propósito dado o frenesim de alguns, é importante que saibamos encarar as diferentes derrotas da nossa vida e, bem mais relevante, aprender com elas. A arte de saber perder é directamente proporcional à maturidade e inteligência, evitando-nos a tolice das birras da nossa infância e adolescência.
“A arte de perder
Eduardo Prado Coelho o fio do horizonte
Tantas coisas que perdemos ao longo de uma vida!Perdemos as casas onde vivemos, que habitámos por dentro, naquilo que uma casa tem de mais dentro de si mesma. Perdi a casa de infância dos meus pais na adolescência - no mesmo ritmo que os perdi. Perdi a casa da Avenida do Uruguai, a casa da Rua de Entrecampos, a casa do Lumiar, que os meus pais me ofereceram, a casa do Marais, em Paris, onde vivi dez anos, a casa da Parede. Cada casa corresponde a um ritmo de vida, uma forma de cadência do quotidiano. Mas perdi-as e encontrei outros lugares.Perdi lugares. Cafés - tantos - onde estudava: perdi a Granfina e o Nova Iorque, perdi o Vavá de que tanto gostava, povoado de amigos e cúmplices, perdi o Monte Carlo e raramente volto ao Toni dos Bifes, onde o Carlos de Oliveira ou o Abelaira se encontravam. Perdi um pouco o hábito regular de ir à Versalhes. Perdi a Faculdade de Letras e o seu bar fumarento e ruidoso, invadido por vagas de alunos de Direito. Perdi o Estádio Universitário, o dos plenários do movimento de estudantes, onde falavam o Jorge Sampaio ou o Eurico de Figueiredo. Perdi o bar do Estádio Universitário, para onde ia estudar, mal chegava a Primavera. Perdi a casa de gelados Monte Branco, ali ao Saldanha, para onde ia ler e escrever nas noites de Verão. Perdi a praia de São Martinho do Porto, a praia dos primeiros namoros. Não a reconheço, porque fui reencontrá-la massacrada por uma urbanização selvagem e incomodativa. Encontrei a foz do Arelho.Perdi Paris, o Centro Pompidou, os cinemas do boulevard Saint-Germain, os cafés La Hune e Les Deux Magots, as livrarias Le Divan, que já não existe, e La Hune. Perdi o Teatro de la Ville, onde vi espectáculos magníficos, descobri muito da dança contemporânea, e encontrei pela primeira vez a Pina Bausch. Perdi o Châtelet (o Castelinho, como gostava de dizer o Pierre), onde tive a revelação de William Forsythe e de Bob Wilson. Perdi La Gamin de Paris, no Marais, assim como a livraria (asfixiada economicamente com a guerra do Golfo) ou a pequena loja de discos de música clássica. Perdi o quiosque de Saint-Paul, onde ia todas as manhãs com o meu cão Spinoza, e este aguardava sempre com impaciência que a dona do quiosque lhe desse o brioche que estava tacitamente prometido.Perdi amigos, muitos. O Zé Ribeiro da Fonte, a Margarida Vieira Mendes, o Alberto aparecem por vezes nos meus sonos. Perdi mulheres, muitas, algumas no Brasil, outras em Portugal. Perdi livros, que ficaram noutras casas, que desapareceram sem que eu saiba porquê, que emprestei e não recuperei. Perdi também alguma memória de tudo o que perdi.Mas há um poema de Elizabeth Bishop que se chama precisamente "Uma arte" e é sobre essa difícil arte de perder. Diz assim: "A arte de perder não é nenhum mistério; / tantas coisas contém em si o acidente / de perdê-las, que perder não é nada sério. (...) Perdi duas cidades lindas. E um império / que era meu, dois rios e mais um continente. / Tenho saudades deles. Mas não é nada sério. // Mesmo perder você (a voz, o ar etéreo / que eu amo) não muda nada. Pois é evidente / que a arte de perder não chega a ser mistério / por muito que pareça (Escreve!) muito sério."
Professor universitário”
Eduardo Prado Coelho em
Público, 16 de Maio de 2006
“A arte de perder
Eduardo Prado Coelho o fio do horizonte
Tantas coisas que perdemos ao longo de uma vida!Perdemos as casas onde vivemos, que habitámos por dentro, naquilo que uma casa tem de mais dentro de si mesma. Perdi a casa de infância dos meus pais na adolescência - no mesmo ritmo que os perdi. Perdi a casa da Avenida do Uruguai, a casa da Rua de Entrecampos, a casa do Lumiar, que os meus pais me ofereceram, a casa do Marais, em Paris, onde vivi dez anos, a casa da Parede. Cada casa corresponde a um ritmo de vida, uma forma de cadência do quotidiano. Mas perdi-as e encontrei outros lugares.Perdi lugares. Cafés - tantos - onde estudava: perdi a Granfina e o Nova Iorque, perdi o Vavá de que tanto gostava, povoado de amigos e cúmplices, perdi o Monte Carlo e raramente volto ao Toni dos Bifes, onde o Carlos de Oliveira ou o Abelaira se encontravam. Perdi um pouco o hábito regular de ir à Versalhes. Perdi a Faculdade de Letras e o seu bar fumarento e ruidoso, invadido por vagas de alunos de Direito. Perdi o Estádio Universitário, o dos plenários do movimento de estudantes, onde falavam o Jorge Sampaio ou o Eurico de Figueiredo. Perdi o bar do Estádio Universitário, para onde ia estudar, mal chegava a Primavera. Perdi a casa de gelados Monte Branco, ali ao Saldanha, para onde ia ler e escrever nas noites de Verão. Perdi a praia de São Martinho do Porto, a praia dos primeiros namoros. Não a reconheço, porque fui reencontrá-la massacrada por uma urbanização selvagem e incomodativa. Encontrei a foz do Arelho.Perdi Paris, o Centro Pompidou, os cinemas do boulevard Saint-Germain, os cafés La Hune e Les Deux Magots, as livrarias Le Divan, que já não existe, e La Hune. Perdi o Teatro de la Ville, onde vi espectáculos magníficos, descobri muito da dança contemporânea, e encontrei pela primeira vez a Pina Bausch. Perdi o Châtelet (o Castelinho, como gostava de dizer o Pierre), onde tive a revelação de William Forsythe e de Bob Wilson. Perdi La Gamin de Paris, no Marais, assim como a livraria (asfixiada economicamente com a guerra do Golfo) ou a pequena loja de discos de música clássica. Perdi o quiosque de Saint-Paul, onde ia todas as manhãs com o meu cão Spinoza, e este aguardava sempre com impaciência que a dona do quiosque lhe desse o brioche que estava tacitamente prometido.Perdi amigos, muitos. O Zé Ribeiro da Fonte, a Margarida Vieira Mendes, o Alberto aparecem por vezes nos meus sonos. Perdi mulheres, muitas, algumas no Brasil, outras em Portugal. Perdi livros, que ficaram noutras casas, que desapareceram sem que eu saiba porquê, que emprestei e não recuperei. Perdi também alguma memória de tudo o que perdi.Mas há um poema de Elizabeth Bishop que se chama precisamente "Uma arte" e é sobre essa difícil arte de perder. Diz assim: "A arte de perder não é nenhum mistério; / tantas coisas contém em si o acidente / de perdê-las, que perder não é nada sério. (...) Perdi duas cidades lindas. E um império / que era meu, dois rios e mais um continente. / Tenho saudades deles. Mas não é nada sério. // Mesmo perder você (a voz, o ar etéreo / que eu amo) não muda nada. Pois é evidente / que a arte de perder não chega a ser mistério / por muito que pareça (Escreve!) muito sério."
Professor universitário”
Eduardo Prado Coelho em
Público, 16 de Maio de 2006
5.10.2006
Das berças- o direito à indignação
Neste momento Portugal e o governo em particular debatem-se com a problemática da sustentabilidade da segurança social. Como que por encanto, na sequência de um debate televisivo em que o senhor Ministro afirma que a segurança social estará falida daqui a 15 anos, surgem uma catadupa de medidas, todas elas deveras penosas.
Não falarei do quão injusto penso serem todas estas medidas tomadas por um estado estranhamente gastador, mas sim de outras medidas atentatórias das liberdades e garantias dos Portugueses.
Há uns tempos atrás discutia-se, e suponho que ainda se discuta, a necessidade de licenciar e de o estado fazer um acordo com as várias clínicas privadas, tipo franchising, para que as Portuguesas pudessem fazer a intervenção voluntária da gravidez, com as melhores condições e com o máximo de assistência. Num contexto de garantia das liberdades de todos e do livre arbítrio, penso que poderá ser uma medida a ter em conta, independentemente dos juízos valorativos que se possam fazer perante uma situação que será de privilégio, se comparamos com outras de quase igual urgência que nunca mereceram semelhante hipótese de excepção.
Mas foi para mim importante referir a história das clínicas para enfatizar o facto de não perceber esta súbita visão economicista da saúde, que nenhum outro governo se atreveria a tomar. SIM!, de facto nenhum outro governo se lembraria que era uma solução, que era prioritário, aceitável e nunca sujeito a discussão o fecho de várias maternidades do Portugal profundo.
Mas voltarei a escrever sobre este assunto.
Quero manifestar aqui a minha indignação.
Não falarei do quão injusto penso serem todas estas medidas tomadas por um estado estranhamente gastador, mas sim de outras medidas atentatórias das liberdades e garantias dos Portugueses.
Há uns tempos atrás discutia-se, e suponho que ainda se discuta, a necessidade de licenciar e de o estado fazer um acordo com as várias clínicas privadas, tipo franchising, para que as Portuguesas pudessem fazer a intervenção voluntária da gravidez, com as melhores condições e com o máximo de assistência. Num contexto de garantia das liberdades de todos e do livre arbítrio, penso que poderá ser uma medida a ter em conta, independentemente dos juízos valorativos que se possam fazer perante uma situação que será de privilégio, se comparamos com outras de quase igual urgência que nunca mereceram semelhante hipótese de excepção.
Mas foi para mim importante referir a história das clínicas para enfatizar o facto de não perceber esta súbita visão economicista da saúde, que nenhum outro governo se atreveria a tomar. SIM!, de facto nenhum outro governo se lembraria que era uma solução, que era prioritário, aceitável e nunca sujeito a discussão o fecho de várias maternidades do Portugal profundo.
Mas voltarei a escrever sobre este assunto.
Quero manifestar aqui a minha indignação.
5.04.2006
Simplex para a Natalidade
Depois de várias promessas programas a 1, 2 ou mais anos, eis que surge a reforma da segurança social que, segundo este governo, urge fazer. Estranhamente, o país e, em particular os media, surgem com grande apatia perante um sem número de reformas que infligem duros golpes nos bolsos dos Portugueses. Só falta aparecerem as aves de mau agoiro da nossa praça, a tentarem perceber de quem é a culpa de tudo isto. Eu também penso que o Cavaco nunca devia ter aumentado as reformas....De facto, depois de analisar friamente os dados disponibilizados pelo Observatório para a Saúde Pública (Gráfico 1 e 2) constato, que o problema é capaz de não estar só no aumento das reformas dadas pelo Cavaco. Nos últimos 20 anos estamos a nascer ligeiramente menos e a viver durante um bocado mais de tempo. Mesmo assim (data not shown) vivemos menos que a média Europeia....Espero que o Governo tenha a coragem de inverter esta ordem das coisas. Há que fazer reformas profundas na sociedade Portuguesa, e a vários níveis, para combatermos todos, em uníssono, esta situação. A dificuldade mais grave está na taxa de natalidade. Este problema é multifactorial e poderá ser explicado pelo facto de termos ganho consciência que não vale a pena colocarmos ninguém neste mundo e muito menos neste país. Será que é boa ideia continuarmos a existir como um povo ? Bem sei que será difícil ultrapassar esta dúvida metódica perante as perspectivas do futuro que nos rodeia e para mim, em particular, permanece irresolúvel. Os preceitos da Religião Católica Apostólica Romana deveriam voltar a ser seguidos e desta forma acabar com o controlo desenfreado da natalidade. Assim sugiro medidas, na onda das que têm sido trazidas a lume nos últimos meses. Sim, sugiro um “Simplex para a natalidade”.1- Acabe-se com a venda de anticonceptivos e pílulas do dia seguinte nas Farmácias;2- Re-introduza-se o método das temperaturas, que poderia, muito bem, ser ensinado nos cursos de preparação para o matrimónio;3- Reduza-se o período da emissão de qualquer canal televisivo pois constituem um entrave grave ao estabelecimento de qualquer diálogo entre os casais. Desta forma durante a semana das 7 às 23horas e ao fim de semana das 17 às 23 horas;4- Acabar com todos os canais televisivos para além dos três canais portugueses e do canal espanhol do El país, a TVI.Com este incentivos ao aumento da taxa da natalidade, os outros factores como a esperança média de vida nunca serão preocupantes. Na realidade, estes governos têm-nos tratado bem da saúde. Com simplexs destes não há coração nem cérebro que possam resistir por muito mais tempo.Seremos mais Portugueses infelizes que rapidamente desistirão de existir.Para eu achar que este é um país de completos “nuts” só faltam medidas das do género que eu proponho aqui. Não me admirava nada pois a este governo tudo é permitido.
5.03.2006
Momento de Humor
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