Vicente Jorge Silva na sua crónica de sábado no Diário de Notícias descreve da melhor forma possível o seguidismo que se vive. E como sempre, não será de esperar que este unanimismo súbito não tenha um preço.
Missas
“Bastaram duas missas para converter os incrédulos. Na primeira celebrou-se o aeroporto da Ota, na segunda o Plano Tecnológico. Os chamados agentes económicos que, na sua grande maioria, pareciam rebeldes e sem fé perante os anúncios miraculosos do Governo, acabaram rendidos às evidências. Muitos dos que, na véspera, consideravam a Ota um disparate ou, pelo menos, uma extravagância deslocada no tempo e nas prioridades da política de austeridade, confessaram-se convencidos pela argumentação litúrgica dos relatórios bancários e dos experts internacionais. Sobre o Plano Tecnológico, apesar dos acidentes de percurso - com a demissão do coorde- nador inicial e os conflitos inter-governamentais em relação às opções tomadas no documento-base - o milagre não foi menor bastou que o primeiro-ministro tivesse chamado a si a condução futura do processo, desautorizando o inepto ministro da Economia, para que todas as reservas e objecções se tornassem praticamente irrelevantes.
Em menos de uma semana, o que parecia péssimo tornou-se, pelo menos na aparência, quase óptimo. Fez-se uma revisão apressada mas cirúrgica da cópia apresentada, mudaram-se algumas alíneas e conclusões - e o milagre aconteceu. Uma equipa de dezenas de notáveis - os quais alguns que haviam confessado desconhecer a versão anterior do Plano - apareceu a apadrinhar o acompanhamento do processo. Com um golpe fulminante, Sócrates matou dois coelhos de uma cajadada e reduziu à cumplicidade e ao silêncio o coro de hostilidades sobre as propostas emblemáticas do Governo. Até os jornalistas ficaram sem fôlego para questionar tantos mistérios.
Confirma-se assim que as relações entre o poder político e o poder económico em Portugal dependem muito, para além dos conflitos de interesses, das conexões "virtuosas" entre os dois poderes. Bastaram duas missas para operar autênticos milagres.
Vicente Jorge Silva (DN, 26 de Novembro de 2005)”
http://dn.sapo.pt/2005/11/26/opiniao/missas.html
11.28.2005
A ciência num aquário amarelo
Soube que o meu comentário ao projecto do Autocarro Viveracidade não caiu bem junto dos vários leitores do meu blog e não só.
Uma vez que ninguém me entendeu, sugiro que vejam com atenção os circuito e observem os horários. Tirem as conclusões.
À observação no Conta Natura, “é uma ideia engraçada” ou a do costume “é melhor do que nada” eu respondo. Para iniciativas destas seria melhor estarem quietos. Gastar o dinheiro que se vai gastar, com a desculpa de ser em prol da ciência, mais valia estarem quietos e disponibilizarem o dinheiro, quiçá, para os bairros sociais.
Penso que não estou errada ao dizer que agitar as águas por si só, não é coisa alguma. É mesmo deste autocarro que não precisamos?
Faz-me lembrar um pouco como a ciência é encarada pela generalidade do poder. É amarelo para dar nas vistas, tem um itinerário para ser mostrado, é exigido um passe para os eleitos deste percurso exíguo. E no fim? Não serve a ninguém.
Uma vez que ninguém me entendeu, sugiro que vejam com atenção os circuito e observem os horários. Tirem as conclusões.
À observação no Conta Natura, “é uma ideia engraçada” ou a do costume “é melhor do que nada” eu respondo. Para iniciativas destas seria melhor estarem quietos. Gastar o dinheiro que se vai gastar, com a desculpa de ser em prol da ciência, mais valia estarem quietos e disponibilizarem o dinheiro, quiçá, para os bairros sociais.
Penso que não estou errada ao dizer que agitar as águas por si só, não é coisa alguma. É mesmo deste autocarro que não precisamos?
Faz-me lembrar um pouco como a ciência é encarada pela generalidade do poder. É amarelo para dar nas vistas, tem um itinerário para ser mostrado, é exigido um passe para os eleitos deste percurso exíguo. E no fim? Não serve a ninguém.
11.27.2005
KAPA
Eis que descubro o blog KAPA de cuja existência muitos já sabiam, a avaliar pelos inúmeros visitantes que eu nem por sombras consigo alcançar. O texto a que hoje me reporto faz lembrar os artigos da revista, da qual era um leitor assíduo.
Faço aqui uma transcrição do artigo que narra o tempo do MASP (Movimento de Apoio Soares a Presidente). Dada a surpreendente ressureição do mesmo, agora MASP III, penso que a histórias se repetirão, agora em 2005. Uma das grandes diferenças é a ausência - entre muito outros.... - de António Barreto das suas tertúlias. E Soares, 20 anos volvidos, já não é "fixe", é apenas Super-Mário.
TEXTO de Vasco Pulido Valente
1. No princípio de Janeiro de 1985 e estávamos em pleno «Bloco Central», quando pedi ao dr. Mário Soares que me respondesse a um questionário académico sobre o papel do Primeiro-Ministro. Não lhe falava desde 1979. Ele não tinha apreciado a Aliança Democrática e proclamara, em círculos indiscretos, que me achava «telhudo». Para meu espanto, ele disse que sim e, no encontro, foi extravagantemente amável. À saída, chegou mesmo ao excesso e requinte de ir comigo ao elevador do 2° andar de S. Bento e de me oferecer os seus inestimáveis serviços. Estas vénias, eram tanto mais prodigiosas, quanto ele não ignorava que o «telhudo» escrevia semanalmente sobre ele no Diário de Notícias, coisas celeradas e pérfidas, com o objectivo confesso de o remover de Primeiro-Ministro.
Houve outros sinais: um sorriso cúmplice do dr. Almeida Santos que me inquietou; um beijinho público da dra. Maria de Jesus, que me sobressaltou; abraços efusivos de obscuros amigos da família, que me atrapalharam; a remessa de livros com efusivas dedicatórias; e meia dúzia de jantares sem objecto.
Admito que à época, sendo muito ténue a minha percepção da realidade exterior, não dei por eles. Ou, pelo menos, não lhes atribuí especial importância. Tirando o estrito e trôpego cumprimento das minhas obrigações na Universidade Católica e no ICS, passava os dias e as noites na cama a embeber o espírito em espíritos e a reler a obra completa de Ludlum.
Só quando António Barreto voltou de um retiro sabático, o caso se esclareceu. O dr. Mário Soares desejava que a minha ornamental pessoa apoiasse a sua candidatura à Presidência da Republica. António Barreto não forneceu pormenores sabre a natureza desse apoio e devo admitir que o assunto também não me interessou. A especialização em Ludlum não me parecia auspiciosa e achei genericamente que sair de casa, fosse para eleger o dr. Soares ou sr. Justerini Brooks, me fazia bem.
Os trabalhos começaram em Fevereiro ou Março em S. Bento, e consistiam num jantar hebdomadário do presumível candidato com Vítor Constâncio, com Jaime Gama, com António Barreto e comigo, a que intermitentemente assistia um indivíduo denominado Gomes Mota. Nunca percebi as funções desta extraordinária «comissão que, por motivos fáceis de apreciar, e apesar de toda a evidência em contrário, não existia. Vítor Constâncio e Jaime Gama ocupavam preâmbulo com hiperbólicos elogios ao «Mário». Constâncio declarava o ultimo discurso do «Mário» em Aljustrel «magnífico» e, saltando na cadeira, Jaime Gama declarava «magnifico» o ultimo discurso do «Mário» em Aljustrel. Ou Gama declarava «genial» a ultima entrevista do «Mário» e Constâncio ponderadamente explicava que ninguém podia deixar de compreender a «genialidade» da ultima entrevista do «Mário». O «Mário» ouvia estas inanidades com deleite, em parte por elas próprias, em parte porque visivelmente apreciava a competição das duas crianças pelo seu favor. O sr. Ministro dos Negócios Estrangeiros e o sr. Governador do Banco de Portugal, entretidos um com o outro, não se coibiam. Para nós, para mim e o António Barreto, eles eram o Dupont e o Dupond da lenda e o pretexto de grandes galhofas post-prandiais. Mas nem Dupont do banco, nem o Dupond do ministério se incomodavam com a situação. Em ambos luzia a astuciosa ideia de que em Belém, Soares não tencionava com certeza continuar secretário-geral do PS e ambos visivelmente imaginavam que o chefe os distinguia a bifes e batatas fritas com o secreto intuito de escolher um deles para lhe suceder.
Nunca houve uma conversa útil nesses jantares. Houve especulações ociosas sabre os planos do general Eanes, sabre os presumíveis candidatos da Direita (Firmino Miguel, Lemos Ferreira, Freitas) e sabre as mirabolantes intrigas do PSD. Soares contava firmemente com os votos do PSD. O Dupont e o Dupond concordavam e Gomes Mota sibilava fragmentos de frases subtis sabre a Esquerda. Outra escola de pensamento, representada por Barreto e por mim, exprimia algumas duvidas sabre o amor do PSD ao candidato, cepticismo que o candidato tolerava com dificuldade e por mero respeito pela liberdade de expressão. Tinha um acordo leonino com Mota Pinto, segundo o qual o PSD se comprometia a sustentar o «Bloco Central» até 1987 e não lhe embaraçar as ambições a Belém. Entretanto, vinham a Lisboa «especialistas» alemães e americanos oferecer o benefício da sua experiência. Apareciam com zelo e desapareciam com angústia. Ninguém sabia quem era a oposição. Ninguém sabia se Mota Pinto se aguentava na presidência do PSD. Ninguém sabia se Eanes, invocando eventuais desordens no «Bloco Central», inteiramente prováveis, não acabava por dissolver a Assembleia da Republica. Ninguém sabia nada sobre coisa nenhuma. E Soares menos do que todos.
De repente, em algumas semanas, caiu o tecto. Mota Pinto, humilhado num Conselho Nacional, abandonou o governo e, para o lugar dele, foi interinamente Rui Machete. Depois, Mota Pinto morreu. E o Congresso do PSD, marcado para a Figueira da Foz, ficou, por assim dizer, sem dona. Que chefe iria produzir aquela desvairada congregação? O enérgico Salgueiro? O coleante Marcello? Pior ainda? Em S. Bento, o candidato berrava como um possesso. Numa tarde qualquer de Maio, recebi um recado para comparecer urgentemente no futuro «espaço Valbom», um prédio em carcaça com meia dúzia de quartos alcatifados. Lá dentro, rodeado por uma corte fúnebre, Soares tentava não aliviar a raiva, partindo cadeiras na cabeça dos dignitários. Logo que entrei mandou calar a canzoada. Precisava de me fazer uma pergunta, uma pergunta fatídica: «Quem é esse Cavaco?».
Pulidamente, inquiri a razão do interesse. A minha vida, oscilando entre a baixa literatura e um alto sentimento, não me permitia seguir com minúcia as peripécias da política partidária. Soares respondeu, atirando-me um jornal por cima da mesa. O jornal informava o público que o Prof. Cavaco Silva fora eleito presidente do PSD. Coube-me, pois, a honra de ser o primeiro a instruir o dr. Mário Soares sobre a natureza da criatura. Registo o profético sumo das minhas palavras: «Não se aproxime dele, não lhe fale, não lhe toque. Não se convença que negoceia com ele. Ele não gosta de negócios, só gosta de contas, e desconfia de si (para pôr as coisas com brandura). Demita-se imediatamente. Informe o país que se fartou das loucuras do PSD e que o PSD quer subverter a ordem e matar os portugueses à fome. Exija eleições. Mas não se meta com o homem».
O candidato sorriu com estes exageros. Pretendia que Eanes não dissolvesse a Assembleia da República e, depois de 15 de Julho, Eanes ficava constitucionalmente impedido de a dissolver. Cavaco («É Cavaco que ele se chama, não é?») percebia com certeza as óbvias vantagens de evitar o «eanismo» Ou não? Por cinco ou seis semanas, que diabo? Ou não? Asseverei-lhe que não, contemplando a capa dos «Pára-quedas e beijos»., de Erica de Jong, adquirido pouco antes numa tabacaria. Ele não se convenceu.
Quase no fim dos «Pára-quedas e beijos», o telejornal mostrou o dr. Mário Soares recebendo na sede do PS o Prof. Cavaco Silva. Os jantares de S. Bento foram definitivamente interrompidos e as conferências no «espaço Valbom» também. O Prof. Cavaco levou dez dias a desfazer o «Bloco Central» e o general Eanes mais cinco ou seis a desfazer a Assembleia. Marcaram-se eleições para Outubro e a Fundação Gulbenkian deu-me um subsídio para passar três meses em Oxford. O candidato sem dúvida ruminava vinganças em Nafarros.
Descansei. Mas, na véspera de me ir embora, através de uns «serviços» anónimos o dr. Mário Soares mandou-me de novo apresentar no «espaço Valbom», «espaço» esse em que por um triz não caí do quarto andar pelo buraco do elevador. Na sala para onde me levaram, algumas notabilidades do PS cochichavam em pequenos grupos. Escondi-me atrás de António Barreto e, com serenidade, esperei os acontecimentos. Passados dez minutos, o candidato, seguido pela sombra submissa do dr. Almeida Santos, abriu a porta e designando a assistência com um dedo irritado, anunciou: «Vocês são todos da minha comissão politica». Estabelecido isto e extintos os murmúrios de gozo, começou benevolentemente a expor os seus planos.
A essência desses planos era que ele tinha resolvido dedicar-se sem reservas a sua candidatura. Isto pareceu animar de sobremaneira um considerável número dos presentes. Houve mais murmúrios de gozo, sorrisos e meneios aprovadores. Por insondáveis caminhos, a salvação chegara. Chegara, todavia, sob a forma equívoca do dr. Almeida Santos. Como o candidato, se apressou a elucidar os hereges, cabia a essa formidável figura, e seu querido amigo, substituí-lo no partido e no governo, enquanto ele tratava de se alçar a Belém. A gente do PS, já obviamente informada desta extraordinária escolha, não exibiu surpresa. Reparei então na ausência gritante dos gémeos Dupont e Dupond, cujo nariz não se tornou a ver durante a campanha. E reparei também na aura de glória e modéstia que descera sobre o crânio pontiagudo do eleito e na solicitude com que o sindicalista Torres Couto lhe servia um copo de água. Foi um momento de grande emoção.
Almeida Santos bebeu um golo de água, aconchegou a sua fulgurante gravata ao peito e dirigiu-se gravemente aos «comissionados». Ele, Almeida Santos, aceitara sacrificar-se pelo «Mário» e pelo partido. Não ocultava, no entanto, o seu embaraço. Tomava a responsabilidade de conduzir o PS às eleições legislativas, mas, se as ganhasse, quem de facto as ganhava era o «Mário», ao passo que, se as perdesse, as perderia sozinho. Numa palavra, ele, ele próprio, perderia sempre. O tom em que revelou este doloroso dilema, subentendia uma sábia resignação à injustiça humana e o estóico desejo de ajudar «o Mário».
Considerando o episódio encerrado, «o Mário» mudou prestamente de assunto. As coisas estavam um bocado complicadas, admitiu. «Tinha-lhe morrido o Mota Pinto» e, agora, à Direita, aparecia o Freitas (em vez de um general) e «esse Cavaco», que apoiava o Freitas. Os comunistas, claro, não contavam. Por conseguinte, ele precisava do eleitorado do «centro». Ou seja, o PS precisava de atrair para uso posterior o eleitorado do «centro», com uma campanha moderada e um bom resultado nas legislativas. Quanto ao PSD, ele conhecia o peso: era quase tudo também gente do «centro», gente moderada, que detestava o CDS e o Freitas. Apesar de Cavaco, aliás uma aberração temporária, o PSD votaria nele. Em resumo, a soma era simples: 32 ou 33 por cento do PS mais 22 ou 23 por cento do PSD igual a 55 ou 56 por cento à primeira volta.
A «comissão», maravilhada com a subtileza do candidato e a luminosa argúcia dos seus cálculos, sobrou num silêncio reverente. António Barreto, gelado de espanto, examinava o infinito. O meu avião partia para Inglaterra dali a umas horas. Pus o braço no ar. O candidato resignou-se a ouvir as minhas desconcertadas opiniões. Ofereci duas. A de que, tirando talvez o dr. Rui Machete, não existiam PSD's, «moderados» ou «do centro»; e a de que o dr. Almeida Santos, sendo uma patente emanação do dr. Mário Soares, não podia nem ganhar nem perder eleições. Sobretudo, ao contrário do que ele supunha, não as podia perder. O candidato não se comoveu. Agarrou num molho de papelada, levantou-se e disse vagamente na minha direcção: «Isso é o que você pensa». Depois deste irrespondível argumento não valia a pena continuar o debate e a assembleia desfez-se. Despedi-me de António Barreto à porta do «espaço Valbom», com muita pena dele e ainda mais pena de mim. Mas, não me lembro porquê, à noite decidi telefonar ao dr. Mário Soares para repetir o sermão e acrescentar que o dr. Almeida Santos, sem desprimor, representava para a generalidade dos portugueses o pior do PS. O dr. Mário Soares bufava. «Vai ser um desastre», avisei-o. «Não se rale», respondeu ele quase a estoirar, «se for, a culpa é minha».
2. No domingo, 6 de Outubro de 1985,o PS foi reduzido a metade pelo PRD. Terça-feira, o meu avião aterrou em Lisboa por volta das quarto da tarde e, às cinco em ponto, entrei com malas e sacos de plástico, contendo garrafas, na sede do MASP. A reunião da «comissão política», convocada na véspera, destinava-se a discutir «a conjuntura». O candidato ficou assaz surpreendido quando me viu aparecer e houve uma pequena comoção na assistência, que aliviou o seu estado de profundo estupor. Sentei-me ao lado de Alfredo Barroso que me resumiu eloquentemente a situação, mostrando o branco do olho. Do outro lado da mesa, António Barreto riu-se por debaixo das barbas.
Em três meses e meio, a «comissão política» adquirira mais nove ou dez membros, entre os quais distintas inteligências como Manuel José Homem de Mello, Joaquim da Silva Pinto, Clara Junqueiro e «o nosso jovem», vulgo José Apolinário. A conversa consistia em uivos, lamúrias e frases protocolares de confiança. Pairava um ódio especial à «santinha da Ladeira», Manuela Eanes, e os espíritos sofisticados autorizavam-se algumas lucubrações sobre os propósitos dela e do marido. O candidato, de bochecha pendente, meditava ou berrava com os subordinados que entreabriam a porta, sussurrando coisas.
Quando chegou a minha vez, pretendeu saber a opinião fresca de um viajante. «A culpa é sua», declarei com a máxima humildade. Isto surpreendeu-o e fê-lo arrebitar a orelha. Para ele, a culpa era manifestamente de Almeida Santos. «O senhor é que me disse», insisti muito melífluo. «Não se lembra? O senhor disse: você não se rale, se for um desastre, a culpa é minha». Aqui o candidato percebeu o pendor geral da conversa e acabou com ela: «As culpas não interessam. Não interessam nada. Se quer dar a sua opinião, dê. Mas não se ponha com essa história das culpas».
Obedeci. Dali em diante, guardei as minhas opiniões para o Monte Carlo e para a Colombo, onde me consolava com vodka e com António Barreto (e, a seguir, com Alfredo Barroso e António-Pedro de Vasconcellos), enquanto as sondagens vagueavam entre os 8 e os 10 porcento. Introduziu-se, por essa altura, na cabeça do dr. Soares a extraordinária noção de que, estando os portugueses «zangados» com ele, o caso se resolvia se ele escrevesse aos portugueses uma carta simpática, aplicando-lhes metaforicamente umas palmadas nas costas. E aplicou-as num artigo ilegível de duas ou três páginas, que saiu em letra pequena num semanário sem leitores. Desde aí achou-se reconciliado com a nação e genuinamente não compreendia por que obscuras razões ela se obstinava a rejeitá-lo.
Com o aprazimento dos peritos e das notabilidades, mesmo depois de Zenha e Pintasilgo se candidatarem, não deixou de vigorar a ortodoxia do «centro». De acordo com a lunática lógica do candidato e dos seus amigos, a Esquerda votaria em Pintasilgo, a Direita votaria Freitas e o «centro» votaria Soares. Não ocorreu a ninguém que o «centro» talvez não existisse ou não excedesse os 8 a 10 por cento das sondagens.
Tratava-se apenas de persistir, de meter a «mensagem» a bem ou a mal no cérebro, excessivamente mole ou excessivamente duro, do país. Cada vez mais furioso, o candidato persistia. Os papéis e os copos de água voavam pelo MASP. Os berros (e agora os insultos) não paravam. E os apelos ao «centro» também não. O dr.. Mário Soares, em excursões pelas beiras, proclamava-se socialista democrático ou social-democrata ou as duas coisas ou as que fossem necessárias e até um belo dia na Madeira revelou ao povo atónito a sua irresistível propensão para o «centro democrático e social», propriamente dito. Era PS, era PSD, era CDS. Era tudo. Era ele. O incidente da Madeira encheu-me as medidas, de resto já a transbordar de vodka ordinário, ingerido em doses fenomenais, a título de refri- gerio, no Monte Carlo. Preparei-me para o pior e, a meio de uma comissão política, garanti-lhe a pés juntos que a Direita o execrava. Esta pura verdade de 1985 exaltou-o. Com sua célebre delicadeza retorquiu que, nunca tendo sido colonialista, nunca sentira qualquer necessidade de bajular os pretos. Aludia assim discretamente ao facto da minha passagem pela Aliança Democrática e pelo governo de Sá Carneiro e qualificava de «bajulação» a minha defesa de uma candidatura de Esquerda. Não neguei os factos: nem os crimes cometidos com a Aliança Democrática e Sá Carneiro, nem o crime de «bajular» a Esquerda desde o princípio. Notei, no entanto, que o meu saber era de experiência feito: não se aprendia no PS que o PSD e o CDS o execravam, em compensação na Aliança Democrática aprendia-se logo. Apopléctico e pouco presidencial, o candidato apertava a mesa com as mãos.
O ambiente não ficou particularmente recreativo. Vários patriotas juraram ao dr. Soares que a Direita o adorava e louvaram a sapiência da política do «centro». António Barreto e Jorge Sampaio, em termos civis, propuseram, como de costume, uma política de Esquerda. Clara Junqueiro falou do mar, da rosa dos ventos, do universo e de Portugal. Costumava falar muito destes assuntos. A sessão acabou com suavidade. Excepto no Monte Carlo, onde António Barreto substituiu o dr. Mário Soares como alvo das minhas gritarias. Não tinha evidentemente qualquer justificação para gritar a António Barreto. Mas tinha de gritar e não podia gritar ao outro. A vítima sofreu o alarido com paciência. Infelizmente, uma noite ao jantar confessou-me que o dr. Mário Soares lhe pedira para ele escrever um manifesto e cometeu o erro trágico de me pedir a mim que o ajudasse. Fui atrás dele pelo Saldanha fora, inquietando o público e a polícia. Que não escrevia manifestos para mentecaptos, nem para serem emendados por mentecaptos. Que só escrevia por dinheiro. Que, mesmo por dinheiro, não escrevia manifesto nenhum e mais aleivosias do género. Finalmente farto, Barreto enxotou-me e, largado como um cão no passeio do Monumental, extraí a consequência óbvia dos acontecimentos. Meti-me no carro e apontei o carro para Almansil, concelho de Loulé, Algarve.
Em casa do meu amigo João Paulo Amorim come-se indecentemente bem e bebe-se melhor. O MASP e o dr. Soares diluíram-se em robalos grelhados e costeletas de borrego. Ate o consumo de literatura se aperfeiçoou. A beatitude não andava longe, quando um sábado, o telefone tocou. Estendido no sofá em frente da lareira e abastecido de vodka russo, não me importei. O dr. Soares com certeza não queria nada de mim. Queria: queria-me em Nafarros, domingo (com António Barreto), para almoçar. Ameacei que não ia. João Paulo Amorim, delegado do MASP nas paragens, não consentiu. Marcou-se o avião, às 8 da manhã, e ele acompanhou-me ao sacrifício às 7, num buggy aberto, pelo frio desumano de Novembro, depois de uma noite em branco em que se discutiram as virtudes teologais e se esgotaram as reservas de vodka.
Em Nafarros, as minhas mãos tremiam e a colher batia com estrondo na tigela de caldo verde. António Barreto estava melancólico. O candidato exuberante e a dra. Maria de Jesus docemente sibilante. Após o repasto, os homens marcharam para o escritório do candidato e aí, entre fotografias autografadas dos donos deste mundo, o dr. Mário Soares declarou o manifesto de Barreto excelente e, ainda por cima, «muito bonito». Ele sempre pensara aquelas coisas e sempre defendera aquela política. Dito isto, combinaram-se alguns pormenores sem importância e distribuíram-se algumas tarefas. A dra. Maria de Jesus trouxe amavelmente café.
O manifesto de Barreto condenava as ambiguidades do «centrismo» (e, por implicação, o «Bloco Central») e definia a candidatura de Soares como a candidatura da Esquerda contra a Direita. Na comissão política de segunda-feira, as minhas mãos já não tremiam. Tremiam de fúria as do dr. Almeida Santos. O candidato, no entanto, indicou a assembleia que tudo aquilo era fruto das suas meditações. De velhas meditações, aliás. Por exemplo, há meses que ele sentia a urgência de um sério aggiornamento do PS. As notabilidades aclamaram a nobreza e a oportunidade da ideia. O dr. Almeida Santos emagreceu dez quilos. E, como uma rapsódia da dra. Clara Junqueiro sobre as navegações lusitanas, a comissão política, para efeitos práticos faleceu.
Durante o resto da campanha, nem uma nuvem perturbou o meu idílio com o dr. Mário Soares. Queríamos os dois a mesma coisa: ele queria ganhar e eu queria que ele ganhasse.
in K, 14 - Novembro de 1991
Faço aqui uma transcrição do artigo que narra o tempo do MASP (Movimento de Apoio Soares a Presidente). Dada a surpreendente ressureição do mesmo, agora MASP III, penso que a histórias se repetirão, agora em 2005. Uma das grandes diferenças é a ausência - entre muito outros.... - de António Barreto das suas tertúlias. E Soares, 20 anos volvidos, já não é "fixe", é apenas Super-Mário.
TEXTO de Vasco Pulido Valente
1. No princípio de Janeiro de 1985 e estávamos em pleno «Bloco Central», quando pedi ao dr. Mário Soares que me respondesse a um questionário académico sobre o papel do Primeiro-Ministro. Não lhe falava desde 1979. Ele não tinha apreciado a Aliança Democrática e proclamara, em círculos indiscretos, que me achava «telhudo». Para meu espanto, ele disse que sim e, no encontro, foi extravagantemente amável. À saída, chegou mesmo ao excesso e requinte de ir comigo ao elevador do 2° andar de S. Bento e de me oferecer os seus inestimáveis serviços. Estas vénias, eram tanto mais prodigiosas, quanto ele não ignorava que o «telhudo» escrevia semanalmente sobre ele no Diário de Notícias, coisas celeradas e pérfidas, com o objectivo confesso de o remover de Primeiro-Ministro.
Houve outros sinais: um sorriso cúmplice do dr. Almeida Santos que me inquietou; um beijinho público da dra. Maria de Jesus, que me sobressaltou; abraços efusivos de obscuros amigos da família, que me atrapalharam; a remessa de livros com efusivas dedicatórias; e meia dúzia de jantares sem objecto.
Admito que à época, sendo muito ténue a minha percepção da realidade exterior, não dei por eles. Ou, pelo menos, não lhes atribuí especial importância. Tirando o estrito e trôpego cumprimento das minhas obrigações na Universidade Católica e no ICS, passava os dias e as noites na cama a embeber o espírito em espíritos e a reler a obra completa de Ludlum.
Só quando António Barreto voltou de um retiro sabático, o caso se esclareceu. O dr. Mário Soares desejava que a minha ornamental pessoa apoiasse a sua candidatura à Presidência da Republica. António Barreto não forneceu pormenores sabre a natureza desse apoio e devo admitir que o assunto também não me interessou. A especialização em Ludlum não me parecia auspiciosa e achei genericamente que sair de casa, fosse para eleger o dr. Soares ou sr. Justerini Brooks, me fazia bem.
Os trabalhos começaram em Fevereiro ou Março em S. Bento, e consistiam num jantar hebdomadário do presumível candidato com Vítor Constâncio, com Jaime Gama, com António Barreto e comigo, a que intermitentemente assistia um indivíduo denominado Gomes Mota. Nunca percebi as funções desta extraordinária «comissão que, por motivos fáceis de apreciar, e apesar de toda a evidência em contrário, não existia. Vítor Constâncio e Jaime Gama ocupavam preâmbulo com hiperbólicos elogios ao «Mário». Constâncio declarava o ultimo discurso do «Mário» em Aljustrel «magnífico» e, saltando na cadeira, Jaime Gama declarava «magnifico» o ultimo discurso do «Mário» em Aljustrel. Ou Gama declarava «genial» a ultima entrevista do «Mário» e Constâncio ponderadamente explicava que ninguém podia deixar de compreender a «genialidade» da ultima entrevista do «Mário». O «Mário» ouvia estas inanidades com deleite, em parte por elas próprias, em parte porque visivelmente apreciava a competição das duas crianças pelo seu favor. O sr. Ministro dos Negócios Estrangeiros e o sr. Governador do Banco de Portugal, entretidos um com o outro, não se coibiam. Para nós, para mim e o António Barreto, eles eram o Dupont e o Dupond da lenda e o pretexto de grandes galhofas post-prandiais. Mas nem Dupont do banco, nem o Dupond do ministério se incomodavam com a situação. Em ambos luzia a astuciosa ideia de que em Belém, Soares não tencionava com certeza continuar secretário-geral do PS e ambos visivelmente imaginavam que o chefe os distinguia a bifes e batatas fritas com o secreto intuito de escolher um deles para lhe suceder.
Nunca houve uma conversa útil nesses jantares. Houve especulações ociosas sabre os planos do general Eanes, sabre os presumíveis candidatos da Direita (Firmino Miguel, Lemos Ferreira, Freitas) e sabre as mirabolantes intrigas do PSD. Soares contava firmemente com os votos do PSD. O Dupont e o Dupond concordavam e Gomes Mota sibilava fragmentos de frases subtis sabre a Esquerda. Outra escola de pensamento, representada por Barreto e por mim, exprimia algumas duvidas sabre o amor do PSD ao candidato, cepticismo que o candidato tolerava com dificuldade e por mero respeito pela liberdade de expressão. Tinha um acordo leonino com Mota Pinto, segundo o qual o PSD se comprometia a sustentar o «Bloco Central» até 1987 e não lhe embaraçar as ambições a Belém. Entretanto, vinham a Lisboa «especialistas» alemães e americanos oferecer o benefício da sua experiência. Apareciam com zelo e desapareciam com angústia. Ninguém sabia quem era a oposição. Ninguém sabia se Mota Pinto se aguentava na presidência do PSD. Ninguém sabia se Eanes, invocando eventuais desordens no «Bloco Central», inteiramente prováveis, não acabava por dissolver a Assembleia da Republica. Ninguém sabia nada sobre coisa nenhuma. E Soares menos do que todos.
De repente, em algumas semanas, caiu o tecto. Mota Pinto, humilhado num Conselho Nacional, abandonou o governo e, para o lugar dele, foi interinamente Rui Machete. Depois, Mota Pinto morreu. E o Congresso do PSD, marcado para a Figueira da Foz, ficou, por assim dizer, sem dona. Que chefe iria produzir aquela desvairada congregação? O enérgico Salgueiro? O coleante Marcello? Pior ainda? Em S. Bento, o candidato berrava como um possesso. Numa tarde qualquer de Maio, recebi um recado para comparecer urgentemente no futuro «espaço Valbom», um prédio em carcaça com meia dúzia de quartos alcatifados. Lá dentro, rodeado por uma corte fúnebre, Soares tentava não aliviar a raiva, partindo cadeiras na cabeça dos dignitários. Logo que entrei mandou calar a canzoada. Precisava de me fazer uma pergunta, uma pergunta fatídica: «Quem é esse Cavaco?».
Pulidamente, inquiri a razão do interesse. A minha vida, oscilando entre a baixa literatura e um alto sentimento, não me permitia seguir com minúcia as peripécias da política partidária. Soares respondeu, atirando-me um jornal por cima da mesa. O jornal informava o público que o Prof. Cavaco Silva fora eleito presidente do PSD. Coube-me, pois, a honra de ser o primeiro a instruir o dr. Mário Soares sobre a natureza da criatura. Registo o profético sumo das minhas palavras: «Não se aproxime dele, não lhe fale, não lhe toque. Não se convença que negoceia com ele. Ele não gosta de negócios, só gosta de contas, e desconfia de si (para pôr as coisas com brandura). Demita-se imediatamente. Informe o país que se fartou das loucuras do PSD e que o PSD quer subverter a ordem e matar os portugueses à fome. Exija eleições. Mas não se meta com o homem».
O candidato sorriu com estes exageros. Pretendia que Eanes não dissolvesse a Assembleia da República e, depois de 15 de Julho, Eanes ficava constitucionalmente impedido de a dissolver. Cavaco («É Cavaco que ele se chama, não é?») percebia com certeza as óbvias vantagens de evitar o «eanismo» Ou não? Por cinco ou seis semanas, que diabo? Ou não? Asseverei-lhe que não, contemplando a capa dos «Pára-quedas e beijos»., de Erica de Jong, adquirido pouco antes numa tabacaria. Ele não se convenceu.
Quase no fim dos «Pára-quedas e beijos», o telejornal mostrou o dr. Mário Soares recebendo na sede do PS o Prof. Cavaco Silva. Os jantares de S. Bento foram definitivamente interrompidos e as conferências no «espaço Valbom» também. O Prof. Cavaco levou dez dias a desfazer o «Bloco Central» e o general Eanes mais cinco ou seis a desfazer a Assembleia. Marcaram-se eleições para Outubro e a Fundação Gulbenkian deu-me um subsídio para passar três meses em Oxford. O candidato sem dúvida ruminava vinganças em Nafarros.
Descansei. Mas, na véspera de me ir embora, através de uns «serviços» anónimos o dr. Mário Soares mandou-me de novo apresentar no «espaço Valbom», «espaço» esse em que por um triz não caí do quarto andar pelo buraco do elevador. Na sala para onde me levaram, algumas notabilidades do PS cochichavam em pequenos grupos. Escondi-me atrás de António Barreto e, com serenidade, esperei os acontecimentos. Passados dez minutos, o candidato, seguido pela sombra submissa do dr. Almeida Santos, abriu a porta e designando a assistência com um dedo irritado, anunciou: «Vocês são todos da minha comissão politica». Estabelecido isto e extintos os murmúrios de gozo, começou benevolentemente a expor os seus planos.
A essência desses planos era que ele tinha resolvido dedicar-se sem reservas a sua candidatura. Isto pareceu animar de sobremaneira um considerável número dos presentes. Houve mais murmúrios de gozo, sorrisos e meneios aprovadores. Por insondáveis caminhos, a salvação chegara. Chegara, todavia, sob a forma equívoca do dr. Almeida Santos. Como o candidato, se apressou a elucidar os hereges, cabia a essa formidável figura, e seu querido amigo, substituí-lo no partido e no governo, enquanto ele tratava de se alçar a Belém. A gente do PS, já obviamente informada desta extraordinária escolha, não exibiu surpresa. Reparei então na ausência gritante dos gémeos Dupont e Dupond, cujo nariz não se tornou a ver durante a campanha. E reparei também na aura de glória e modéstia que descera sobre o crânio pontiagudo do eleito e na solicitude com que o sindicalista Torres Couto lhe servia um copo de água. Foi um momento de grande emoção.
Almeida Santos bebeu um golo de água, aconchegou a sua fulgurante gravata ao peito e dirigiu-se gravemente aos «comissionados». Ele, Almeida Santos, aceitara sacrificar-se pelo «Mário» e pelo partido. Não ocultava, no entanto, o seu embaraço. Tomava a responsabilidade de conduzir o PS às eleições legislativas, mas, se as ganhasse, quem de facto as ganhava era o «Mário», ao passo que, se as perdesse, as perderia sozinho. Numa palavra, ele, ele próprio, perderia sempre. O tom em que revelou este doloroso dilema, subentendia uma sábia resignação à injustiça humana e o estóico desejo de ajudar «o Mário».
Considerando o episódio encerrado, «o Mário» mudou prestamente de assunto. As coisas estavam um bocado complicadas, admitiu. «Tinha-lhe morrido o Mota Pinto» e, agora, à Direita, aparecia o Freitas (em vez de um general) e «esse Cavaco», que apoiava o Freitas. Os comunistas, claro, não contavam. Por conseguinte, ele precisava do eleitorado do «centro». Ou seja, o PS precisava de atrair para uso posterior o eleitorado do «centro», com uma campanha moderada e um bom resultado nas legislativas. Quanto ao PSD, ele conhecia o peso: era quase tudo também gente do «centro», gente moderada, que detestava o CDS e o Freitas. Apesar de Cavaco, aliás uma aberração temporária, o PSD votaria nele. Em resumo, a soma era simples: 32 ou 33 por cento do PS mais 22 ou 23 por cento do PSD igual a 55 ou 56 por cento à primeira volta.
A «comissão», maravilhada com a subtileza do candidato e a luminosa argúcia dos seus cálculos, sobrou num silêncio reverente. António Barreto, gelado de espanto, examinava o infinito. O meu avião partia para Inglaterra dali a umas horas. Pus o braço no ar. O candidato resignou-se a ouvir as minhas desconcertadas opiniões. Ofereci duas. A de que, tirando talvez o dr. Rui Machete, não existiam PSD's, «moderados» ou «do centro»; e a de que o dr. Almeida Santos, sendo uma patente emanação do dr. Mário Soares, não podia nem ganhar nem perder eleições. Sobretudo, ao contrário do que ele supunha, não as podia perder. O candidato não se comoveu. Agarrou num molho de papelada, levantou-se e disse vagamente na minha direcção: «Isso é o que você pensa». Depois deste irrespondível argumento não valia a pena continuar o debate e a assembleia desfez-se. Despedi-me de António Barreto à porta do «espaço Valbom», com muita pena dele e ainda mais pena de mim. Mas, não me lembro porquê, à noite decidi telefonar ao dr. Mário Soares para repetir o sermão e acrescentar que o dr. Almeida Santos, sem desprimor, representava para a generalidade dos portugueses o pior do PS. O dr. Mário Soares bufava. «Vai ser um desastre», avisei-o. «Não se rale», respondeu ele quase a estoirar, «se for, a culpa é minha».
2. No domingo, 6 de Outubro de 1985,o PS foi reduzido a metade pelo PRD. Terça-feira, o meu avião aterrou em Lisboa por volta das quarto da tarde e, às cinco em ponto, entrei com malas e sacos de plástico, contendo garrafas, na sede do MASP. A reunião da «comissão política», convocada na véspera, destinava-se a discutir «a conjuntura». O candidato ficou assaz surpreendido quando me viu aparecer e houve uma pequena comoção na assistência, que aliviou o seu estado de profundo estupor. Sentei-me ao lado de Alfredo Barroso que me resumiu eloquentemente a situação, mostrando o branco do olho. Do outro lado da mesa, António Barreto riu-se por debaixo das barbas.
Em três meses e meio, a «comissão política» adquirira mais nove ou dez membros, entre os quais distintas inteligências como Manuel José Homem de Mello, Joaquim da Silva Pinto, Clara Junqueiro e «o nosso jovem», vulgo José Apolinário. A conversa consistia em uivos, lamúrias e frases protocolares de confiança. Pairava um ódio especial à «santinha da Ladeira», Manuela Eanes, e os espíritos sofisticados autorizavam-se algumas lucubrações sobre os propósitos dela e do marido. O candidato, de bochecha pendente, meditava ou berrava com os subordinados que entreabriam a porta, sussurrando coisas.
Quando chegou a minha vez, pretendeu saber a opinião fresca de um viajante. «A culpa é sua», declarei com a máxima humildade. Isto surpreendeu-o e fê-lo arrebitar a orelha. Para ele, a culpa era manifestamente de Almeida Santos. «O senhor é que me disse», insisti muito melífluo. «Não se lembra? O senhor disse: você não se rale, se for um desastre, a culpa é minha». Aqui o candidato percebeu o pendor geral da conversa e acabou com ela: «As culpas não interessam. Não interessam nada. Se quer dar a sua opinião, dê. Mas não se ponha com essa história das culpas».
Obedeci. Dali em diante, guardei as minhas opiniões para o Monte Carlo e para a Colombo, onde me consolava com vodka e com António Barreto (e, a seguir, com Alfredo Barroso e António-Pedro de Vasconcellos), enquanto as sondagens vagueavam entre os 8 e os 10 porcento. Introduziu-se, por essa altura, na cabeça do dr. Soares a extraordinária noção de que, estando os portugueses «zangados» com ele, o caso se resolvia se ele escrevesse aos portugueses uma carta simpática, aplicando-lhes metaforicamente umas palmadas nas costas. E aplicou-as num artigo ilegível de duas ou três páginas, que saiu em letra pequena num semanário sem leitores. Desde aí achou-se reconciliado com a nação e genuinamente não compreendia por que obscuras razões ela se obstinava a rejeitá-lo.
Com o aprazimento dos peritos e das notabilidades, mesmo depois de Zenha e Pintasilgo se candidatarem, não deixou de vigorar a ortodoxia do «centro». De acordo com a lunática lógica do candidato e dos seus amigos, a Esquerda votaria em Pintasilgo, a Direita votaria Freitas e o «centro» votaria Soares. Não ocorreu a ninguém que o «centro» talvez não existisse ou não excedesse os 8 a 10 por cento das sondagens.
Tratava-se apenas de persistir, de meter a «mensagem» a bem ou a mal no cérebro, excessivamente mole ou excessivamente duro, do país. Cada vez mais furioso, o candidato persistia. Os papéis e os copos de água voavam pelo MASP. Os berros (e agora os insultos) não paravam. E os apelos ao «centro» também não. O dr.. Mário Soares, em excursões pelas beiras, proclamava-se socialista democrático ou social-democrata ou as duas coisas ou as que fossem necessárias e até um belo dia na Madeira revelou ao povo atónito a sua irresistível propensão para o «centro democrático e social», propriamente dito. Era PS, era PSD, era CDS. Era tudo. Era ele. O incidente da Madeira encheu-me as medidas, de resto já a transbordar de vodka ordinário, ingerido em doses fenomenais, a título de refri- gerio, no Monte Carlo. Preparei-me para o pior e, a meio de uma comissão política, garanti-lhe a pés juntos que a Direita o execrava. Esta pura verdade de 1985 exaltou-o. Com sua célebre delicadeza retorquiu que, nunca tendo sido colonialista, nunca sentira qualquer necessidade de bajular os pretos. Aludia assim discretamente ao facto da minha passagem pela Aliança Democrática e pelo governo de Sá Carneiro e qualificava de «bajulação» a minha defesa de uma candidatura de Esquerda. Não neguei os factos: nem os crimes cometidos com a Aliança Democrática e Sá Carneiro, nem o crime de «bajular» a Esquerda desde o princípio. Notei, no entanto, que o meu saber era de experiência feito: não se aprendia no PS que o PSD e o CDS o execravam, em compensação na Aliança Democrática aprendia-se logo. Apopléctico e pouco presidencial, o candidato apertava a mesa com as mãos.
O ambiente não ficou particularmente recreativo. Vários patriotas juraram ao dr. Soares que a Direita o adorava e louvaram a sapiência da política do «centro». António Barreto e Jorge Sampaio, em termos civis, propuseram, como de costume, uma política de Esquerda. Clara Junqueiro falou do mar, da rosa dos ventos, do universo e de Portugal. Costumava falar muito destes assuntos. A sessão acabou com suavidade. Excepto no Monte Carlo, onde António Barreto substituiu o dr. Mário Soares como alvo das minhas gritarias. Não tinha evidentemente qualquer justificação para gritar a António Barreto. Mas tinha de gritar e não podia gritar ao outro. A vítima sofreu o alarido com paciência. Infelizmente, uma noite ao jantar confessou-me que o dr. Mário Soares lhe pedira para ele escrever um manifesto e cometeu o erro trágico de me pedir a mim que o ajudasse. Fui atrás dele pelo Saldanha fora, inquietando o público e a polícia. Que não escrevia manifestos para mentecaptos, nem para serem emendados por mentecaptos. Que só escrevia por dinheiro. Que, mesmo por dinheiro, não escrevia manifesto nenhum e mais aleivosias do género. Finalmente farto, Barreto enxotou-me e, largado como um cão no passeio do Monumental, extraí a consequência óbvia dos acontecimentos. Meti-me no carro e apontei o carro para Almansil, concelho de Loulé, Algarve.
Em casa do meu amigo João Paulo Amorim come-se indecentemente bem e bebe-se melhor. O MASP e o dr. Soares diluíram-se em robalos grelhados e costeletas de borrego. Ate o consumo de literatura se aperfeiçoou. A beatitude não andava longe, quando um sábado, o telefone tocou. Estendido no sofá em frente da lareira e abastecido de vodka russo, não me importei. O dr. Soares com certeza não queria nada de mim. Queria: queria-me em Nafarros, domingo (com António Barreto), para almoçar. Ameacei que não ia. João Paulo Amorim, delegado do MASP nas paragens, não consentiu. Marcou-se o avião, às 8 da manhã, e ele acompanhou-me ao sacrifício às 7, num buggy aberto, pelo frio desumano de Novembro, depois de uma noite em branco em que se discutiram as virtudes teologais e se esgotaram as reservas de vodka.
Em Nafarros, as minhas mãos tremiam e a colher batia com estrondo na tigela de caldo verde. António Barreto estava melancólico. O candidato exuberante e a dra. Maria de Jesus docemente sibilante. Após o repasto, os homens marcharam para o escritório do candidato e aí, entre fotografias autografadas dos donos deste mundo, o dr. Mário Soares declarou o manifesto de Barreto excelente e, ainda por cima, «muito bonito». Ele sempre pensara aquelas coisas e sempre defendera aquela política. Dito isto, combinaram-se alguns pormenores sem importância e distribuíram-se algumas tarefas. A dra. Maria de Jesus trouxe amavelmente café.
O manifesto de Barreto condenava as ambiguidades do «centrismo» (e, por implicação, o «Bloco Central») e definia a candidatura de Soares como a candidatura da Esquerda contra a Direita. Na comissão política de segunda-feira, as minhas mãos já não tremiam. Tremiam de fúria as do dr. Almeida Santos. O candidato, no entanto, indicou a assembleia que tudo aquilo era fruto das suas meditações. De velhas meditações, aliás. Por exemplo, há meses que ele sentia a urgência de um sério aggiornamento do PS. As notabilidades aclamaram a nobreza e a oportunidade da ideia. O dr. Almeida Santos emagreceu dez quilos. E, como uma rapsódia da dra. Clara Junqueiro sobre as navegações lusitanas, a comissão política, para efeitos práticos faleceu.
Durante o resto da campanha, nem uma nuvem perturbou o meu idílio com o dr. Mário Soares. Queríamos os dois a mesma coisa: ele queria ganhar e eu queria que ele ganhasse.
in K, 14 - Novembro de 1991
11.25.2005
25 de Novembro 30 anos depois
O segundo 25 de Abril
(image placeholder)Faz hoje 30 anos, a Esquerda revolucionária tentou tomar o poder, em Portugal.
A vitória das forças moderadas permitiu a institucionalização da democracia Trinta anos depois dos acontecimentos do 25 de Novembro de 1975, quando o país esteve a um pequeno passo da guerra civil, é mais fácil reter apenas o essencial, desligado dos inúmeros episódios - trágicos, uns; bizarros e anedóticos, outros - que compõem a história completa de um período louco e perigoso da vida portuguesa recente. A institucionalização da democracia chegou a seguir.
Ao longo de todo o Verão e começo do Outono de 1975, confrontaram-se, basicamente, duas concepções de modelo de sociedade para Portugal. Uma, de matriz europeia, sustentada numa democracia representativa; e uma segunda, importada das experiências comunistas na então União Soviética e em Cuba, por exemplo, que tinha no PCP o seu maior difusor.
Os militares, no poder desde o 25 de Abril de 1974, dividiram-se entre os dois apelos e tornaram-se nos principais protagonistas de uma disputa que terminou com a vitória das forças moderadas, precisamente no dia 25 de Novembro de 1975, quando uma revolta iniciada por tropas pára-quedistas, que contariam, numa segunda fase, com o apoio de unidades do Exército e da Armada, foi sustida e derrotada.
Na madrugada de 25, forças pára-quedistas assaltaram e tomaram o Comando da Base Aérea nº 1, em Monsanto, e as bases aéreas nº s 3, 5 e 6, respectivamente, em Tancos, Monte Real e Montijo. Na expectativa, mas fornecendo sinais de apoio aos revoltosos, ficaram RALIS, EPAM e Regimento da Polícia Militar, unidades sediadas em Lisboa.
O presidente da República (PR) e, simultaneamente, chefe do Estado-Maior-General das Forças Armadas, general Costa Gomes, tomou o comando das operações, recorrendo às poucas forças verdadeiramente operacionais de que o país dispunha, ou seja, o Regimento de Comandos da Amadora, comandado pelo então coronel Jaime Neves; a Força Aérea, que deslocou para a Base de Cortegaça os principais meios (aviões), a Região Militar do Norte, comandada pelo então brigadeiro Pires Veloso, que enviou para Lisboa três companhias.Os focos de resistência foram sendo neutralizados ao longo do dia sem grande oposição dos revoltosos, verificando-se um confronto armado apenas na calçada de acesso ao Regimento de Polícia Militar, em Lisboa, em que morreram dois militares do Regimento de Comandos - o tenente José Coimbra e o aspirante José Ascenso. Testemunhos da época garantem que foram baleados pelas costas por civis armados. Na troca de tiros, foi também atingido mortalmente o furriel Joaquim Pires.
Numa mensagem ao país, feita pelo telefone e transmitida através dos estúdios do Porto da Emissora Nacional, cerca das 22 horas, o presidente da República decretou estado de sítio parcial na região de Lisboa, uma medida que restringia o direito de liberdade de reunião. Os bancos encerraram e os jornais de Lisboa não se publicaram. No resto do país, a situação foi sempre menos tensa.
A emissão da RTP passou igualmente a ser assegurada do Porto, depois de uma tentativa de um dos revoltosos - o capitão Duran Clemente - em falar ao país, a pedir apoio para os revoltosos. O Monte da Virgem pôs então no ar o único filme de que dispunha "O bobo da corte", de Danny Kaye.
Jornal de Notícias
11.24.2005
Texto muito interessante retirado de um artigo de opinião intitulado " A arrogância culural" do economista Victor Bento (Diário Econímico, 18 de Novembro de 2005).
”Eles abafam piedosamente o sorriso ao falarem de cientistas que nunca leram uma obra relevante da literatura inglesa. Descontam-nos como especialistas ignorantes. Contudo, a sua própria ignorância e a sua própria especialização são alarmantes. Por diversas vezes tenho estado presente em encontros de pessoas que, pelos padrões da cultura tradicional, são considerados muito cultos e que, com considerável prazer, têm expressado a sua incredulidade pela ignorância dos cientistas. Uma ou outra vez fui provocado e perguntei à minha companhia quantos deles conseguem descrever a Segunda Lei da Termodinâmica. A resposta foi fria e foi também negativa. Todavia, eu perguntei algo que pode ser o equivalente científico de: ‘Já leu uma obra de Shakespeare?’”Charles Snow, ”The Two Cultures”
”Eles abafam piedosamente o sorriso ao falarem de cientistas que nunca leram uma obra relevante da literatura inglesa. Descontam-nos como especialistas ignorantes. Contudo, a sua própria ignorância e a sua própria especialização são alarmantes. Por diversas vezes tenho estado presente em encontros de pessoas que, pelos padrões da cultura tradicional, são considerados muito cultos e que, com considerável prazer, têm expressado a sua incredulidade pela ignorância dos cientistas. Uma ou outra vez fui provocado e perguntei à minha companhia quantos deles conseguem descrever a Segunda Lei da Termodinâmica. A resposta foi fria e foi também negativa. Todavia, eu perguntei algo que pode ser o equivalente científico de: ‘Já leu uma obra de Shakespeare?’”Charles Snow, ”The Two Cultures”
CIA passa férias nos Açores
Na última semana tem sido considerado um tema quente os voos de aviões da CIA em Portugal e noutros países da Europa, bem como a pretensa presença de aviões da CIA na base das Lajes nos Açores.
A minha maior surpresa não é a presença de aviões da CIA na base das lajes, ainda por provar, mas o facto de num blogue terem sido publicadas fotografias de aviões (diga-se indiferenciáveis de quaisquer outros aviões) e isso ter sido notícia em jornais e televisões
Mais surpreendente ainda, é Freitas do Amaral dar-se ao trabalho de desmentir repetidamente esta notícia. Nunca se deve enganar os Portugueses.
Que a CIA, e entre outros a extinta KGB, sempre circularam nos mais variados países é algo de incontornável e que todos sabemos. Não nos esqueçamos que as duas organizações supracitadas já “participaram” em revoluções, contra-revoluções e já “apoiaram” candidatos à presidência da República. Em Portugal também! Qual é então a novidade? Apesar de quererem fazer parecer o contrário, a nossa realidade não é tão animada como nos livros de John Le Carré.
Espero que apesar das semelhanças, Freitas do Amaral não queira, como Veiga Simão, divulgar listas de agentes secretos...
Comentário a artigo no Expresso online publicado em
http://online.expresso.clix.pt/1pagina/artigo.asp?id=24755376 que se transcreve
“Fotografias de aeronaves que, alegadamente ao serviço da CIA, utilizaram aeroportos portugueses em voos secretos depois da posse do Governo são hoje publicadas. As imagens, tiradas por observadores e publicadas num blogue, surgem uma semana depois do ministro dos Negócios Estrangeiros, Freitas do Amaral, ter negado essa prática.
Uma das fotografias, publicadas na edição de hoje da revista «Focus», data de 15 de Maio e foi tirada no aeródromo de Tires, Cascais, e mostra um Gulfstream IV, com a matrícula N227SV. Noutra imagem, alegadamente datada de final de Março e captada no aeroporto das Lajes (ilha açoriam coona da Terceira), aparece um C-130, com a matrícula N2189M.
Ainda em Março, no dia 17, a revista acrescenta que «um turbo-hélice de fabrico espanhol», um CASA CN235 com a matrícula N187D, fez escala na ilha de Santa Maria e no dia seguinte «uma aeronave idêntica, mas de matrícula N219D» aterrou na ilha Terceira, tratando-se em ambos os casos também de aparelhos alegadamente ao serviço da CIA.
As notícias sobre voos secretos da CIA em Portugal mereceu do ministro da Defesa, Luís Amado, a afirmação de que não dispunha de informações que as sustentassem, mas Freitas do Amaral afirmou que «desde 12 de Março não houve qualquer voo desse tipo sobre território português».
Sublinhando que só pode falar pelo actual Governo, Freitas do Amaral garantiu em 17 de Novembro que, desde que o executivo tomou posse, «não houve pedidos para aviões [da CIA] sobrevoarem» território português e que «não há qualquer elemento» que aponte para que «tenha havido qualquer voo não comunicado ou não autorizado».
Os voos serviriam para transportar suspeitos de terrorismo para prisões cuja localização é ainda desconhecida.”
A minha maior surpresa não é a presença de aviões da CIA na base das lajes, ainda por provar, mas o facto de num blogue terem sido publicadas fotografias de aviões (diga-se indiferenciáveis de quaisquer outros aviões) e isso ter sido notícia em jornais e televisões
Mais surpreendente ainda, é Freitas do Amaral dar-se ao trabalho de desmentir repetidamente esta notícia. Nunca se deve enganar os Portugueses.
Que a CIA, e entre outros a extinta KGB, sempre circularam nos mais variados países é algo de incontornável e que todos sabemos. Não nos esqueçamos que as duas organizações supracitadas já “participaram” em revoluções, contra-revoluções e já “apoiaram” candidatos à presidência da República. Em Portugal também! Qual é então a novidade? Apesar de quererem fazer parecer o contrário, a nossa realidade não é tão animada como nos livros de John Le Carré.
Espero que apesar das semelhanças, Freitas do Amaral não queira, como Veiga Simão, divulgar listas de agentes secretos...
Comentário a artigo no Expresso online publicado em
http://online.expresso.clix.pt/1pagina/artigo.asp?id=24755376 que se transcreve
“Fotografias de aeronaves que, alegadamente ao serviço da CIA, utilizaram aeroportos portugueses em voos secretos depois da posse do Governo são hoje publicadas. As imagens, tiradas por observadores e publicadas num blogue, surgem uma semana depois do ministro dos Negócios Estrangeiros, Freitas do Amaral, ter negado essa prática.
Uma das fotografias, publicadas na edição de hoje da revista «Focus», data de 15 de Maio e foi tirada no aeródromo de Tires, Cascais, e mostra um Gulfstream IV, com a matrícula N227SV. Noutra imagem, alegadamente datada de final de Março e captada no aeroporto das Lajes (ilha açoriam coona da Terceira), aparece um C-130, com a matrícula N2189M.
Ainda em Março, no dia 17, a revista acrescenta que «um turbo-hélice de fabrico espanhol», um CASA CN235 com a matrícula N187D, fez escala na ilha de Santa Maria e no dia seguinte «uma aeronave idêntica, mas de matrícula N219D» aterrou na ilha Terceira, tratando-se em ambos os casos também de aparelhos alegadamente ao serviço da CIA.
As notícias sobre voos secretos da CIA em Portugal mereceu do ministro da Defesa, Luís Amado, a afirmação de que não dispunha de informações que as sustentassem, mas Freitas do Amaral afirmou que «desde 12 de Março não houve qualquer voo desse tipo sobre território português».
Sublinhando que só pode falar pelo actual Governo, Freitas do Amaral garantiu em 17 de Novembro que, desde que o executivo tomou posse, «não houve pedidos para aviões [da CIA] sobrevoarem» território português e que «não há qualquer elemento» que aponte para que «tenha havido qualquer voo não comunicado ou não autorizado».
Os voos serviriam para transportar suspeitos de terrorismo para prisões cuja localização é ainda desconhecida.”
11.21.2005
TAP de vento em Popa
As notícias relativas ao crescimento da TAP são a demonstração plena que o dinheiro do Estado pode ser muito bem gasto. De facto, nunca poderemos chorar o ordenado milionário do gestor da TAP porque, graças a este gestor, a Nossa companhia aérea é uma empresa próspera. Longe vão os tempos em que “procurávamos” entre a SwissAir e afins.
Esta mensagem é dedicada aos invejosos deste País que choram sempre os ordenados dos outros. O problema não são os ordenados. O problema é a competência ou a falta dela.
http://online.expresso.clix.pt/1pagina/artigo.asp?id=24755332
Esta mensagem é dedicada aos invejosos deste País que choram sempre os ordenados dos outros. O problema não são os ordenados. O problema é a competência ou a falta dela.
http://online.expresso.clix.pt/1pagina/artigo.asp?id=24755332
11.17.2005
Plano Tecnológico à deriva
Terá o afamado plano tecnológico sucumbido?
O plano tecnológico está descoordenado- leia-se o responsável pelo projecto pediu a demissão.
Tendo-se sido uma prioridade durante a campanha e apaniguado por todos, foi apresentado como o choque que faltava a Portugal. Nestes meses houve no entanto, indefinição quanto às medidas prioritárias a incluir no referido Plano que levaram a múltiplos atrasos.
Na sequência disso o responsável pela Unidade de Coordenação do Plano Tecnológico apresentou a sua demissão.
José Tavares, o coordenador da Unidade do Plano, não gostou dos atrasos nem da maneira como o processo estava a ser conduzido pelo ministro Mariano Gago. Leia-se, o coordenador da Unidade não deveria ser do técnico, nem deveria fazer parte do grupo de amigos/fãs/dependentes que obedecem cegamente ao senhor ministro.
A apresentação do Plano deveria ter ocorrido no final do passado mês de Outubro. Leia-se: os prazos para os Universitários nunca foram importantes.
O plano tecnológico está descoordenado- leia-se o responsável pelo projecto pediu a demissão.
Tendo-se sido uma prioridade durante a campanha e apaniguado por todos, foi apresentado como o choque que faltava a Portugal. Nestes meses houve no entanto, indefinição quanto às medidas prioritárias a incluir no referido Plano que levaram a múltiplos atrasos.
Na sequência disso o responsável pela Unidade de Coordenação do Plano Tecnológico apresentou a sua demissão.
José Tavares, o coordenador da Unidade do Plano, não gostou dos atrasos nem da maneira como o processo estava a ser conduzido pelo ministro Mariano Gago. Leia-se, o coordenador da Unidade não deveria ser do técnico, nem deveria fazer parte do grupo de amigos/fãs/dependentes que obedecem cegamente ao senhor ministro.
A apresentação do Plano deveria ter ocorrido no final do passado mês de Outubro. Leia-se: os prazos para os Universitários nunca foram importantes.
O Portugal que merecemos?
Estado das Coisas III
Sensivelmente dois meses depois do regresso da Presidente da Câmara de Felgueiras, as notícias em torno do processo de Fátima Felgueiras sucedem-se, atropelando-se catadupa. Não bastavam as divulgações do Público, surge agora, -e não estou a opinar à certa da inocência da marcação da audiência por parte da bancada do PSD-, esta notícia no Diário de Notícias, demonstrando que seria melhor que a Fátima tivesse continuado no Brasil. Todos teriam estado muito mais descansados e o Procurador, os sub-procuradores e afins, bem como a polícia judiciária e o próprio PS, certamente, agradeceriam. A história recente demonstrou que por parte da bancada do PS não existe qualquer tipo de preocupação pela separação dos poderes!
Caso Fátima Felgueiras PS inviabiliza audição na AR
O PS, alegando a necessidade de separação de poderes, inviabilizou ontem a audição parlamentar do director da PJ e dos presidentes dos conselhos superiores de magistratura e Ministério Público sobre a fuga de Fátima Felgueiras para o Brasil e o seu regresso a Portugal. A audição parlamentar tinha sido requerida, na terça-feira, pelo PSD.
Caso Fátima Felgueiras PS inviabiliza audição na AR
O PS, alegando a necessidade de separação de poderes, inviabilizou ontem a audição parlamentar do director da PJ e dos presidentes dos conselhos superiores de magistratura e Ministério Público sobre a fuga de Fátima Felgueiras para o Brasil e o seu regresso a Portugal. A audição parlamentar tinha sido requerida, na terça-feira, pelo PSD.
http://dn.sapo.pt/2005/11/17/opiniao/caso_fatima_felgueiras_inviabiliza_a.html
11.15.2005
Agora é a minha vez: Basta!
Esta campanha está ser um desilusão. Pensava eu que tendo candidatos intelectualmente tão elevados poderíamos ter uma discussão interessante e construtiva. Mas estou farta de ouvir dizer sempre o mesmo. Por culpa dos jornalistas? Não só.
O Dr. Mário Soares, em vez de insultar e provocar o(s) adversário(s), qual camarada Francisco Louçã, deveria também falar sobre os problemas sociais e sobre todos os outros, que diz saber, nos afligem.
Escusa de reportar sempre ao tempo antes do 25 de Abril, porque todos sabemos que o fim do estado-novo não se deve a si. A si devemos-lhe o facto de não termos caído numa outra ditadura, a da esquerda, no verão quente de 1975. Não temos dúvida que teve a cabeça a prémio. Tem todo o mérito, sim senhor. Esse mesmo esforço reconheci-o quanto, em 1986, se candidatou e teve então o meu apoio.
Só não entendo porque se alia, agora, com aqueles contra quem lutou! Não foi o Senhor que meteu o socialismo na gaveta?
É agora a minha vez de gritar BASTA senhor Mário Soares!
E à laia de conselho, mude o tom do seu não-discurso pois a história ainda vai perder o respeito por si.
11.11.2005
Jogos e Partidas
Temos e, provavelmente teremos, nesta pré-campanha eleitoral mais uma demonstração gritante do mau jornalismo que se faz em Portugal. Não é de agora, mas tem vindo a piorar, claramente.
As situações, não são discutidas na sua essência e assistimos a um espectáculo continuadamente degradante, na procura do escândalo, do sangue, qual drama da vida real da série de uma televisão de gostos duvidosos.
Um dos candidatos, e logo quem!, percebeu que consegue desviar as atenções e centralizá-las na sua pessoan através do que diz e do que insulta.
Desesperadamente, os jornalistas, buscam o drama como se disso dependesse alguma coisa relevante. Nesta campanha, não querem informar dos Portugueses!
11.09.2005
Importa-se de Repetir????
Mário Soares, o homem que esteve à frente dos governos quando em Portugal se passava uma crise social e económica gravíssimas, tendo o próprio sido vítima na, também por isso, célebre Marinha Grande acha-se com a superior capacidade de ser ouvido. Por momentos sinto-me transportado no tempo! A memória trouxe-me as terças-feiras (penso que era às terças) das conversas em família com Marcelo Caetano, numa televisão que era a preto e branco, que acabava as emissões pouco tempo depois com o hino nacional. Será que é assim que Mário Soares se vai querer fazer ouvir??? Por outro lado, comparar a situação portuguesa com a francesa, quanto ao papel do Presidente da República, só demonstra ignorância. Eu não sou político mas o sistema em França é Presidencialista, não é?
"Soares diz que como PR poderia evitar crise como em FrançaO candidato presidencial Mário Soares afirmou esta terça-feira que como Presidente da República, estará em «melhor posição» do que qualquer outro candidato para evitar em Portugal uma situação semelhante à que se vive em França.«Sinceramente, acho que sim», disse Mário Soares em Braga, em resposta a uma pergunta dos jornalistas, frisando que a situação de violência urbana que se vive actualmente em França «radica na existência de guetos de imigrantes e de exclusão social».O candidato falava no final de uma visita a uma empresa de Braga, cuja excelência enalteceu como «exemplo a seguir por todos aqueles, sobretudo os jovens, que aspiram a criar empresas».Embora sem se referir expressamente a Cavaco Silva, Mário Soares disse que, para se ser um bom Presidente da República «é necessário ser capaz de perceber o que se passa no mundo, sobretudo nos países mais próximos, como os da União Europeia».Anteriormente e durante um almoço de apoiantes e dirigentes da sua estrutura distrital de campanha, Mário Soares dissera que os violentos acontecimentos que têm abalado a França demonstram que «o país não necessita de ter um técnico de finanças na Presidência».«Não é através do controle do défice, embora isso seja importante, que se combatem os problemas sociais», afirmou, salientando que, para controlar as finanças estão lá os respectivos ministros.Acrescentou que em situações de crise como a francesa, «o país precisa de alguém que saiba compreender os factos e as suas causas, agindo em consequência e fazendo-se ouvir pelas pessoas».
http://diariodigital.sapo.pt/news.asp?section_id=12&id_news=200573
Diário Digital / Lusa "
"Soares diz que como PR poderia evitar crise como em FrançaO candidato presidencial Mário Soares afirmou esta terça-feira que como Presidente da República, estará em «melhor posição» do que qualquer outro candidato para evitar em Portugal uma situação semelhante à que se vive em França.«Sinceramente, acho que sim», disse Mário Soares em Braga, em resposta a uma pergunta dos jornalistas, frisando que a situação de violência urbana que se vive actualmente em França «radica na existência de guetos de imigrantes e de exclusão social».O candidato falava no final de uma visita a uma empresa de Braga, cuja excelência enalteceu como «exemplo a seguir por todos aqueles, sobretudo os jovens, que aspiram a criar empresas».Embora sem se referir expressamente a Cavaco Silva, Mário Soares disse que, para se ser um bom Presidente da República «é necessário ser capaz de perceber o que se passa no mundo, sobretudo nos países mais próximos, como os da União Europeia».Anteriormente e durante um almoço de apoiantes e dirigentes da sua estrutura distrital de campanha, Mário Soares dissera que os violentos acontecimentos que têm abalado a França demonstram que «o país não necessita de ter um técnico de finanças na Presidência».«Não é através do controle do défice, embora isso seja importante, que se combatem os problemas sociais», afirmou, salientando que, para controlar as finanças estão lá os respectivos ministros.Acrescentou que em situações de crise como a francesa, «o país precisa de alguém que saiba compreender os factos e as suas causas, agindo em consequência e fazendo-se ouvir pelas pessoas».
http://diariodigital.sapo.pt/news.asp?section_id=12&id_news=200573
Diário Digital / Lusa "
11.08.2005
Torre à vista!!!
O Faroleiro, tanto quanto eu sei um blogger anónimo, lançou um novo blog com o intuito de fazer uma resenha das notícias relacionadas com as eleições presidenciais.
Não me parece que a imparcialidade seja absoluta mas é, sem dúvida, uma resposta com nível, sem insultos, a outro Blog, o Super Mário da Nintendo, já aqui referenciado.
Sem patrocínios nem paternalismos http://torredavigia.blogspot.com/ !
Candeia que vai à frente alumia duas vezes.
11.07.2005
Jogo de Xadrez
11.04.2005
RENOVAR
"Recentemente, foi lançada a nova campanha de publicidade da Renova, intitulada “Amor Causa”, um projecto artístico encomendado ao fotógrafo François Rousseau em que se pretende ilustrar algumas das ideias mais marcantes da história da humanidade.
Realizada em inícios de 2005 (Março – Abril), a maior favela do Rio de Janeiro, a Rocinha, foi o lugar onde se produziram as fotos desta campanha, prolongando-se a primeira fase da campanha publicitária até ao final do ano.
Outdoors e imprensa são os suportes seleccionados, embora, em França, as imagens desta campanha só vão chegar à imprensa, uma vez que a publicidade exterior foi proibida pela entidade reguladora francesa, que entendeu que a religião era o assunto da campanha."
www.aje.pt/dh/noticias.asp+Amor+Causa+Renova&hl=pt-PT
11.02.2005
Aonde está a verdade????
Ainda estou a digerir os vários artigos do público de ontem. Como é possível tanta trapalhada e tanta conivência consentida. Consentida pelos vários poderes institucionais- o político e o judicial. Que VERGONHA!
O caso Fátima Felgueiras é o único conhecido... E o resto? Quantos desmentidos foram falsos e, tal como os desmentidos relativos ao caso Fátima Felgueiras, sabidos por muitos como falsos. Dou os parabéns ao Público pelo trabalho, pela insistência na procura da verdade e pelo magnífico editorial. O que mais virá aí...
Estes parabéns nunca poderiam ser dados ao Expresso- o PRAVDA (!!) cá do burgo. Sim, porque sempre que houve uma reportagem mais polémica e que mexia com os interesses e hábitos instituídos (quiçá secretos), os jornalistas foram postos na rua. Alguém se lembra da jornalista que fez a investigação do caso CASA PIA????? Já não trabalha lá, pois não?
O caso Fátima Felgueiras é o único conhecido... E o resto? Quantos desmentidos foram falsos e, tal como os desmentidos relativos ao caso Fátima Felgueiras, sabidos por muitos como falsos. Dou os parabéns ao Público pelo trabalho, pela insistência na procura da verdade e pelo magnífico editorial. O que mais virá aí...
Estes parabéns nunca poderiam ser dados ao Expresso- o PRAVDA (!!) cá do burgo. Sim, porque sempre que houve uma reportagem mais polémica e que mexia com os interesses e hábitos instituídos (quiçá secretos), os jornalistas foram postos na rua. Alguém se lembra da jornalista que fez a investigação do caso CASA PIA????? Já não trabalha lá, pois não?
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