9.19.2005

“Empresa na hora”: um embuste com “ONDAS DE PRAZER”

Agora já é possível criar uma empresa no próprio dia. Entusiasmado pelo “sucesso” apregoado pelo governo, depois de uma ida ao site do ministério da justiça, onde o link “empresa na hora” não funcionava, recorri ao Google e lá dei com o ao site que os ministérios da justiça e da economia disponibilizaram para a Criação da empresa na hora.
Qual não é o meu espanto quando verifico que, para além de ter de aderir a estatutos pré-aprovados, tenho de escolher um dos muitos nomes disponibilizado ao Estado antecipadamente pelo Registo Nacional de Pessoas Colectivas. Ou seja: eu crio a minha empresa, com estatutos que eu não fiz e com um nome que não desejo. Nada mau para quem diz apostar na inovação. Fui então à procura do nome ideal. Confesso a minha perplexidade com o que li. A malta do MJ deve andar muito inspirada e propõe aos novos empreendedores lusitos que criem a suas empresas sob nomes auspiciosos: ACRÓPOLE DE VÉNUS, AFTER SHOW, BEIJO DO SOL, ÍNDEX DE SONHOS, LOUCURITAS, LUGAR D'AFRODITE, VÉNUS DE CÍTERA, VOLUTAS DE ÁGATA, SHOW DE QUALIDADE, SEX APPEAL, RYTMUS MEXIDOS, PECADO GENIAL, BLIND DATE, ONDAS DE PRAZER, etc. Pela amostra, ficamos com uma ideia da prioridade do governo em matéria de iniciativa e empreendedorismo: o negócio da noite, em especial os ligados à dança, alterne, prazer e copos. Imagino o gozo que a rapaziada do gabinete do secretário de Estado da Justiça não terá tido ao elaborar, em estilo brainstorming, esta listagem muito criativa.
Não, não é um JOGO DE PALAVRAS (ainda disponível, corra já atrás do nome), é a lista dos nomes prontos a servir, made by Sócrates
Agora, avance e crie a “sua” empresa na hora. IT'S YOUR TURN também está disponível. E se ainda acredita no apregoado choque tecnológico, olhe que PINHOLÂNDIA aguarda a sua iniciativa para dar nome à “sua” empresa.
Para quando uma reformulação séria do processo de criação de empresas, em vez de um mero “short cut” engenhoso, mas que não resolve o problema de fundo, da burocracia? O que eu gostava era de criar a minha empresa, com os meus estatutos e se possível sem sair de casa. É menos propagandístico, mas é disto que Portugal precisa.

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