Por Vasco Pulido Valente, no público.
Não resisto a meter a minha colherada na pequena "polémica" que o concurso da RTP, Os Grandes Portugueses, conseguiu provocar. Como toda a gente já sabe o objectivo do concurso é escolher o "maior português de sempre" por voto público, ou seja, na prática, por telefonema e pela Internet. Parece que a RTP forneceu uma lista de duas centenas de beneméritos, da qual excluiu Salazar e Caetano. Houve logo quem protestasse, com alguma pertinência e muita conversa inútil. A RTP, que não se excita por tão pouco, deu o dito por não dito e mandou fazer um cartaz de propaganda, com D. Afonso Henriques de um lado e Amália Rodrigues do outro. Com toda a razão, de resto. Se Portugal não mudar, por um repentino acto do Altíssimo, ganha provavelmente um deles. Porquê?
Em Inglaterra ganhou Churchill, seguido de muito perto pela princesa Diana. Em França, numa sessão que por acaso vi, ganhou de Gaulle, à justa, contra um cómico sem graça, Coluche, e Edith Piaff, um equivalente de Amália. E em Portugal? Em Portugal não pode ganhar nenhum político, porque nenhum político tem o prestígio nacional unânime, e ainda vivo, de Churchill e de Gaulle (em França, por exemplo, Luís XIV e Napoleão vieram significativamente muito abaixo). D. João I, D. João II e Nun"Álvares talvez não fizessem má figura se alguém os conhecesse, mas ninguém os conhece. Da época heróica da expansão, e apesar da "Via", o Infante D. Henrique e Vasco da Gama não dizem quase nada ao cidadão comum. E dos conquistadores, D. Afonso de Albuquerque ou D. João de Castro, nem vale a pena falar. O Império não está em favor.
Na parte "séria" fica a religião e a arte. Quanto à religião, os nossos santinhos ou nunca existiram, ou se foram embora, ou não nasceram cá. Só a irmã Lúcia é uma candidata forte, se por acaso a RTP a meteu na lista. Do lado da arte, sem arquitectura, sem pintura, sem teatro e sem música, existe Camões, com uma vaga hipótese. Mesmo Camilo, Eça e Pessoa não contam. Suspeito que Saramago, por causa do Nobel, lhes passa à frente. Sobram, portanto, o espectáculo e o desporto. Sobram, em suma, Amália, Eusébio e Figo. Suponho que o público do telefonema e da Internet irá preferir Amália a Eusébio e a Figo por uma questão de respeitabilidade. E também por isso acabará por eleger Afonso Henriques, que é um mero nome, não choca a cultura dominante e disfarça satisfatoriamente a inanidade da Pátria. O concurso Os Grandes Portugueses vai ser um belo retrato dos portugueses de hoje.
10.16.2006
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2 comentários:
País de tanto ter e haver
berço de tantos canalhas
alguns, até com medalhas
que sugaram tua riqueza
agora um país de tristeza
sem rumo e sem querer.
segundo me parece o maior como diz o gato fedo era preto e nasceu em moçambique tinha 2.60 m de altura, de resto tambem existe miss portugal a eurovisao etc.
O Ant Damasio ja nao é portugues mas se ele jogasse a bola talvez fosse o Maeor...
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