O governo e a maioria PS continuam em estado de graça. Põem e dispõem dos vários órgãos de soberania a seu belo prazer, sem que isso seja considerado um abuso, uma intromissão na normalidade democrática, ou excesso de controlo.
De facto, foi brevemente notícia que a maioria PS impediu uma audição parlamentar a Santos Cabral, o ex-director da Polícia Judiciária.
Com o argumento que “os problemas se resolvem com serenidade”, leia-se, vão caindo gradualmente no esquecimento, Vitalino Canas justificou o “voto contra” da maioria Socialista a esta audição. Quem já esqueceu o folhetim Maria José Morgado na mesma comissão de Assuntos Constitucionais, Direitos, Liberdades e Garantias…
De facto, a acompanhar esta demissão compulsiva de Santos Cabral, o Ministro da Justiça fez várias acusações de ineficiência à investigação criminal levada a cabo pela polícia judiciária. O mais estranho é que foi este mesmo director que iniciou vários processos, nomeadamente o do apito dourado bem como outros que volta e meia são falados na comunicação social. Será que foi na sequência destas promessas de substituição que surgiram as grandes amizades entre Valentim Loureiro e o actual primeiro-ministro? Veremos pois o que vai acontecer ao processo do apito dourado.
Este aparente medo da bancada e do Governo socialistas levanta-me alguma (eufemismo) preocupação, uma vez que há cerca de dois meses foram prometidas na revista Visão desenlaces e explicações que nunca surgiram (estranho, não é?) sobre a nova secreta afecta Presidência do Conselho de Ministros.
A calma agora reclamada pelo partido socialista quanto a uma demissão compulsiva do director da Polícia Judiciária, não foi contudo a mesma tida quando Maria José Morgado se demitiu voluntariamente do seu cargo, durante umas férias no Algarve, através de um fax escrito à mão que deve ter entretido durante algum tempo os psicólogos estudiosos da caligrafia.
No expresso online diz-se que:
a) «Não há razão nenhuma, objectiva ou subjectiva, que fundamente a vinda do ex-director da PJ», contrapôs o deputado socialista Ricardo Rodrigues, considerando que «o parlamento não é o fórum apropriado» para discutir a situação da PJ e acusando o PSD de apenas «pretender trazer para a praça pública questiúnculas que já estão ultrapassadas».
b) Pelo PCP, o deputado António Filipe manifestou igualmente a sua «incompreensão» pela recusa do PS em ouvir Santos Cabral no Parlamento, lembrando que «sempre que houve problemas na PJ, a comissão procedeu a audições», nomeadamente quando o agora deputado do PSD Fernando Negrão abandonou o cargo de director da PJ.
c) «O ministro pôs em causa a capacidade da PJ em proceder a investigações criminais e disse que tem trabalhado excessivamente para o arquivo. Isso merece esclarecimentos», sublinhou o deputado comunista.
d) A deputada do BE Ana Drago, partido que acompanhou o PSD e o PCP no voto favorável à audição de Santos Cabral, salientou também a necessidade de esclarecimentos por parte do ex-director da PJ, até porque «nos jornais o folhetim continua».
e) Em declarações à Lusa na passada quarta-feira, o ex-director nacional da PJ já tinha manifestado a sua disponibilidade para ir ao Parlamento esclarecer a sua demissão, considerando que, «a bem da PJ, a situação deve ser ultrapassada e esclarecida o mais rapidamente possível».
Cabe-me a mim perguntar: De que tem medo o partido socialista? Agora que nomeou uma nova direcção para a polícia judiciária, agora que nomeou os novos intendentes para o país inteiro, agora que controla o tribunal de contas, etc., etc., etc., …
4.20.2006
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